O Problema do Racismo Hoje

O Problema do Racismo Hoje
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Por ocasião do mês da consciência negra no brasil, vamos falar sobre um dos problemas que assola a sociedade moderna: o racismo e o preconceito. O Islam se posiciona veementemente contro o racismo e o preconceito.


Antes de iniciarmos esta conversa, vamos entender o que é:

  • Preconceito: é sinônimo de intolerância, ou seja é um conceito ou ideia formada sem embasamento objetivo ou fundamento sério e imparcial.
  • Racismo: é uma atitude ou comportamento sistematicamente hostil, opressivo ou discriminatório em relação a um grupo (ou pessoa), com base na origem étnico-racial. O racismo se apresenta de diversas formas: individual, comunitário, cultural, institucional, estrutural, etc.

Infelizmente, na comunidade muçulmana ainda não se aborda o tema com maturidade e imparcialidade. Parece que a tentativa de abordagem é como acionar uma bomba relógio: em algum momento, todos sairão machucados, os que opinarem e os que não opinarem, não importa. Entretanto, como o Islam acabou com o racismo durante sua revelação e ordena ao muçulmano que razoe e reflita sobre todos os assuntos que permeiam a vida do ser humano, faz-se necessário tocar neste assunto!

O que move sentimentos de sobreposição de uma raça sobre outra, intolerância ou preconceito, é sempre a arrogância e ignorância. Não há forma de se definir um racista, se não como ignorante e opressor, isto é fato. Mas, como definir as pessoas que não refletem sobre as ações do opressor? Aquelas pessoas que, apesar de verem os dados estatísticos apontando assustadoramente para uma sociedade racista, não se posicionam a favor da igualdade e fraternidade, pelo contrário, posicionam-se justificando os atos nefastos dos racistas? Qual a definição para aquela pessoa honesta, responsável, dedicada à religião e à família, mas que prefere não olhar para o lado mais afetado repetindo que “isso não existe”? E ainda há quem observe o racismo e o preconceito, porém, por negligência ou preguiça, opte por não se posicionar. O fato de a gente não querer que essas coisas existam não faz com que elas não existam. Talvez não exista no seu núcleo familiar, mas existe, quem sabe, no seu vizinho, na casa de seu conterrâneo, na comunidade de seus antepassados, dentro do seu local de trabalho. Não importa, existe e todos somos uma pequena parte da força motriz disso tudo, mesmo que, pessoalmente, odiemos em silêncio.

A sociedade árabe voltou a ser, há algum tempo, uma sociedade extremamente racista, como era na época pré-islâmica da jahiliyah (tempos da ignorância). Assim como a sociedade brasileira, que já se formou racista e preconceituosa, e assim permanece. Os dados estatísticos de situações onde o racismo e preconceito são presentes permeiam a vida dos pretos e das minorias no Brasil ou no Oriente Médio… não se pode negar! É fato que o racismo moderno está estreitamente ligado ao preconceito social e econômico, mas é bem pouco provável que um cidadão pobre e branco, em qualquer parte do mundo, tenha o mesmo tratamento que um cidadão pobre e preto.

As reclamações não são dois ou três casos isolados, são inúmeras, incontáveis. E então, o que faremos? Defenderemos os ditos “guardiões” da religião em detrimento do que prega o Qur’an e a Sunnah de nosso amado profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele)? Ou faremos vista grossa ao problema, assim como muitos o fazem? A gente vai reagir apenas quando sofrermos racismo ou preconceito ou vamos nos pronunciar, mesmo quando isso não nos atingir diretamente? É importante frisar que não é necessário ser preto ou muçulmano ou mulher ou seja lá quem for que seja vítima de racismo ou preconceito para abraçar a causa e se posicionar contra.

A VISÃO DO ISLAM SOBRE O RACISMO

 “Ó humanos, em verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos outros. Sabei que o mais honrado, dentre vós, ante Allah, é o mais temente. Sabei que Allah é Sapientíssimo e o Bem Inteirado” (al-Hujjurat, 49:13)

Na exegese do significado deste versículo é dito: “Todos vocês, que representam diferentes raças e apresentam diferentes cores e são parte de diferentes tribos e comunidades, vêm da mesma origem! Por isso, não devem se dividir em grupos ou agredir uns aos outros ou gastar as energias nestas dissensões.

No versículo há o vocativo: “Ó Humanos!”, significa que estamos sendo chamados pelo Único Criador para que nos inteiremos do propósito de havermos sido divididos em tribos e nações. Isto não é para que nos direcionemos a conflitos. Por outro lado, a razão disto é que nos conheçamos uns aos outros e vivamos juntos e em paz. Diferenças de línguas, cores, temperamentos, modos, talentos e habilidades não direcionam a conflitos ou contendas. Em realidade, elas propiciam a cooperação, então, todas estas tarefas são preenchidas e todas as necessidades garantidas.

Cor, raça, língua, nacionalidade e fatores similares não possuem qualquer importância no ponto de vista de Allah. Há apenas um critério para determinar o valor de uma pessoa: “o mais honrado, dentre vós, ante Allah, é o mais temente”. E, certamente, nobre é aquele que é nobre na visão de Allah. Ele vos dá valor com base em Seu perfeito conhecimento e Sua perfeita consciência de valores e medidas: “Allah é Sapientíssimo e o Bem Inteirado”. Portanto, todos os fatores e valores divisores devem ser descontados, deixando-se apenas uma medida e um valor através do qual os seres humanos são testados.

Todos os motivos para conflitos e disputas na Terra desaparecem, todas as considerações cobiçadas pelos seres humanos perdem o valor. Em lugar disso, uma importante, clara e distinta razão para a amizade e cooperação é construída: ou seja, o Senhorio de Allah sobre todos e o fato de que Ele criou toda a raça humana da mesma origem. Uma bandeira única é levantada, então, todos competiriam para alinhar tudo abaixo dela. Esta é a bandeira do temor apenas a Allah. Esta é a bandeira levantada pelo Islam em ordem da salvação da humanidade de todas as consequências nefastas do fanatismo dos títulos raciais, nacionalistas, tribais, familiares, profissionais, sociais, estéticos etc. tudo isso pertence a um mundo de ignorância (jahiliyah), apesar de adotarem diferentes nomes, cores ou maneiras. Em essência, são laços de ignorância que não possuem qualquer relação com o Islam.”

Não temos dúvida que o Islam trouxe a igualdade entre as pessoas, isso é afirmado no Qur’an, como visto acima e em outras passagens, como:

E, com efeito, honramos os filhos de Adão e levamo-los por terra e mar e demo-lhes por sustento das cousas benignas, e preferimo-los, nitidamente, a muitos dos que criamos. [Isra, 17:70]

E, dentre Seus sinais, está a criação dos céus e da terra, e a variedade de vossas línguas e de vossas cores. Por certo, há nisso sinais para os sabedores. [Rum, 30:22]

Também, na sunnah de nosso amado Profeta Muhammad, (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), consta a igualdade e justiça. Como nos ahaadith a seguir:

Abu Mussa relatou do Mensageiro de Allah, (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele):

Certamente, Allah, o Exaltado, criou Adão de um punhado que Ele tomou da terra, assim os filhos de Adão vieram de acordo com a terra. Alguns vêm com pele vermelha, pele branca, ou pele preta e tudo o que esteja nela misturado: fina, grossa, suja e limpa. (Sunan At-Tirmidhi 2955, classificado como Sahih)

Abu Huraira relatou:

O Mensageiro de Allah, (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), disse: Verdadeiramente, Allah removeu de vós o orgulho do tempo da ignorância com a sua vanglória aos antepassados. Certamente, só se é um crente justo ou um pecador miserável. Todas as pessoas são filhas de Adão, e Adão foi criado do pó”. (Sunan At-Tirmidhi 3955, classificado como Sahih)

Uqbah ibn Amir relatou do Mensageiro de Allah, (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele):

Ninguém é melhor do que ninguém, exceto pela religião ou boas ações. É suficientemente ruim para um homem ser profano, vulgar, ganancioso ou covarde. (Shu’b al-Iman 4767, classificado como Sahih)

Abu Nadrah relatou: eu ouvi o sermão de despedida do Mensageiro de Allah, (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), e ele disse:

Ó povo, o teu Senhor é Um e teu pai Adão é um. Não há virtude de um árabe sobre um não árabe, nem de um não árabe sobre um árabe, e nem da pele branca sobre a pele negra, nem da pele negra sobre a pele branca, exceto pela taqwah. Eu não vos entreguei a mensagem? (Musnad Ahmad 22978, classificado como Sahih)

Abu Dharr relatou que o Mensageiro de Allah, (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), disse:

Contemplem! Na verdade, não há benefício na pele vermelha ou pele preta, mas sim na virtude da taqwah. (Musnad Ahmad 20885, classificado como Hasan)

Ibn Abbas, que Allah esteja satisfeito com ele, disse:

Um homem poderia dizer a outro homem “eu sou mais nobre do que tu”, mas ninguém é feito nobre senão pelo temor a Allah. (al-Adab al-Mufrad 898)

O Profeta repreendia seus companheiros se eles desprestigiassem pessoas por razão de sua raça.

Abu Umamah relatou:

Abu Dharr repreendeu Bilal sobre sua mãe, dizendo: “Ó filho de uma mulher negra!” Bilal foi até o Mensageiro de Allah, (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), e contou-lhe o ocorrido. O Profeta ficou zangado e, então Abu Dharr veio, embora não soubesse o que Bilal lhe dissera. O Profeta se afastou dele e Abu Dharr perguntou: “Ó Mensageiro de Allah, tu te desviaste por algo que te foi dito?” O Profeta disse: “Tu reprovaste Bilal sobre sua mãe? Por Aquele que revelou o Livro a Muhammad, ninguém é mais virtuoso sobre outro senão por ações justas. Tu não tens nada senão um montante insignificante”. (Shu’b al-Iman 4760, classificado como Sahih)

Por Letícia de Paula

Leia também: A Mensagem Antirracista do século VII e O que o Islam diz sobre o Racismo?


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