Definição de Tawhid

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A crença islâmica em Deus gira em torno de um monoteísmo puro e inalterado, comumente chamado tawhid[1]. Para aclarar este tema, os sábios dividiram a discussão do tawhid em ramos distintos, onde, cada um deles, cobre ou explica um aspecto da crença completa e correta em Allah. Estas ramificações estão clara e diretamente indicadas no Qur’an e na Sunnah.

Uma maneira habitual de discutir o tawhid é dividi-lo em três categorias. Essas três categorias são tawhid ar rububiyah, tawhid al uluhiyah e tawhid al asma wa as sifaat.


Tawhid ar Rububiyah

Em essência, trata-se de crer no caráter único de Allah com respeito a Suas ações. É a crença na Unicidade de Allah no que concerne a Seu domínio. Ele é o Único sem companheiros em Seu domínio e Suas ações. Só Ele é o Senhor (ar Rabb)[2]. Ele é o Único Criador, Possuidor e Mantenedor[3] desta criação. Toda a criação foi orquestrada por Ele e só por Ele.

Segundo Ibn Uthaimin, toda a humanidade, exceto os mais arrogantes, reconhecem este aspecto do tawhid , quer dizer, que não existe Senhor e Criador exceto o Único Senhor e Criador[4]. Isso é assim porque esta crença está arraigada na natureza humana. A humanidade reconhece e aceita que esta criação deve ter tido um Criador. A humanidade também aceita que este Criador é Único. Fica claro, graças a muitos versículos do Qur’an, que inclusive os árabes politeístas sabiam e reconheciam que o único e verdadeiro Criador estava acima de todos os ídolos que eles adoravam. Por exemplo, Allah disse no Qur’an: “Pergunta-lhes: A quem pertence a terra e tudo quanto nela existe? Dizei-o, se o sabeis! Responderão: A Deus! Dize-lhes: Não meditais, pois? Pergunta-lhes: Quem é o Senhor dos sete céus e o Senhor do Trono Supremo? Responderão: Deus! Pergunta-lhe mais: Não (O) temeis, pois? Pergunta-lhes, ainda: Quem tem em seu poder a soberania de todas as coisas? Que protege e de ninguém necessita proteção? (Respondei) se sabeis! Responderão: Deus! Dize-lhes: Como, então, vos deixais enganar?” (23: 84-89).

Sem dúvidas, esta crença em relação a Allah também exige ou implica os seguintes aspectos: Tudo o que acontece nesta criação é pelo Decreto, Permissão e Vontade de Allah. O sustento e a provisão são de Allah e somente d’Ele. A vida e a morte estão unicamente nas mãos de Allah. Todas as bênçãos vêm de Allah. A orientação ou estabelecimento de uma forma de vida é direito exclusivo de Allah. Somente Allah tem conhecimento do desconhecido. Ninguém tem direitos sobre Allah a menos que Allah Mesmo os tenha estabelecido.

Tawhid al Uluhiyah

É a unicidade de Allah no que diz respeito a ser o único ilaah (Divindade, objeto de culto e adoração). É a atuação do tawhid tal como se fala nas ações dos seres humanos ou servos de Allah. Esse é o significado do testemunho de fé “Não existe nada digno de ser adorado afora Allah”. É a razão pela qual foram enviados os mensageiros e revelados os livros. É a “prova” que a humanidade enfrenta neste mundo. Allah disse: “Não criei os gênios e os humanos, senão para Me adorarem.” (51: 56) e também disse: “O decreto de teu Senhor é que não adoreis senão a Ele…” (17: 23).

Esta ramificação do tawhid é a verdadeira meta ou essência dos ensinamentos dos profetas e mensageiros. O primeiro tipo de tawhid, tawhid ar rububiyah, é essencial e necessário. Na realidade, não há demasiada controvérsia ou desacordo sobre o primeiro tipo de tawhid. Muitas pessoas aceitariam o conceito básico de que o Senhor e Criador é um único Senhor e Criador. Certamente, esta crença deve levar à segunda forma de tawhid onde se dirigem todos os atos de adoração somente para Allah. É por isso que são citados muitos Mensageiros no Qur’an dizendo às pessoas: “Ó meu povo, adorai a Deus, porque não tereis outra divindade além d’Ele…” (7: 59/65/85; 11: 50/61/84; 23: 23/32).

muitos autores dão definições para este tipo de tawhid. Al Qaisi, por exemplo, definiu-o da seguinte maneira: “Este é o conhecimento, crença e reconhecimento de que Allah tem a posição de Deus sobre toda Sua criação. Esta categoria de tawhid – chamada tawhid al uluhiyah ou tawhid al ‘ibadah – requer que Allah seja o único receptor de todos os atos de adoração. Essa é a especificação d’Ele como objeto de todos os atos de adoração, interiores e exteriores, palavras e ações. É a negação a adorar qualquer coisa ou pessoa que não seja Allah. É a negação de associar qualquer companheiro a Allah de qualquer forma e de dirigir qualquer ato de adoração a outro que não seja Ele. O conceito de adoração que deve ser dedicado somente a Allah cobre tudo o que é amado por Allah e que o agrada, sejam ações ou palavras, interiores ou exteriores, entre elas a pureza de intenção, o amor, o temor, a esperança, recorrer somente a Ele, depositar toda a confiança somente em Allah, buscar ajuda e assistência, buscar um meio de se aproximar…”[5]

Ele continua mencionando muitos atos de adoração, entre eles os mais óbvios, como a oração, prostração, jejum, sacrifício (de animal), peregrinação e outros. Todos devem ser realizados de maneira estabelecida por Allah e só assim O agrada. Ao realizar um desses atos por qualquer outro que não seja Allah, nega-se e destrói o cumprimento e a implementação do tawhid.

A definição de As Saadi ilustra um pouco mais este conceito. Ele escreveu que tawhid al uluhiyah: “É saber e reconhecer com conhecimento e certeza que Allah é o único Deus e o único que verdadeiramente merece ser adorado. Também é afirmar que os atributos de Divindade não estão em nenhuma das criaturas. Portanto, ninguém merece ser adorado exceto Allah. Se a pessoa reconhece esse fato corretamente, reservará todos seus atos exteriores e interiores de servidão e adoração só para Allah. Cumprirá com os atos exteriores do Islam, como a oração, jihad, ordenar o bem e erradicar o mal, ser obediente aos pais, manter os laços de parentesco, cumprir com os direitos de Allah e de Suas criaturas… Não terá nenhum objetivo na vida que não seja o de agradar a seu Senhor e obter Suas recompensas. Em seus assuntos, seguirá o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele). Suas crenças serão aquelas demonstradas no Qur’an e na Sunnah. Suas ações serão o que Allah e Seu Mensageiro tenham legislado. Seu caráter e seus modos serão semelhantes ao Seu Profeta, em sua orientação, seu comportamento e todos os seus assuntos.”[6]

Esse aspecto do tawhid compreende tanto as ações do coração como as do corpo. Há dois aspectos em particular que devem ser combinados na adoração a Allah. As-Saadi disse: “O espírito e a praticidade da adoração se dão pela compreensão do amor e a submissão a Allah. O amor total e a submissão plena a Allah é a realidade da adoração. Se o ato de adoração carece de um ou ambos os componentes, não é um verdadeiro ato de adoração. Pois a realidade da adoração está na submissão e na priorização de Allah. E isso só ocorrerá se existir um amor total e pleno [por Allah] que domine todas as outras expressões de amor.”[7]

Jaafar Shaikh Idris descreve acertadamente o processo que deveria surgir através de uma correta crença em Allah e como deveria levar à realização de atos do coração que fossem aspectos essenciais do tawhid. Idris disse: “Quando a fé entra no coração de uma pessoa, provoca certos estados mentais que dão como resultado certas ações aparentes, as quais são prova de uma fé verdadeira. O principal desses estados mentais é o sentimento de gratidão para com Deus, que se pode dizer, a essência da ibaadah (adoração a Allah). Este sentimento de gratidão é tão importante que o incrédulo é chamado kaafir que significa “aquele que nega a verdade”e também “aquele que é ingrato”. Entende-se, ao ler o Qur’an, que o principal motivo de se negar a existência de Deus é o orgulho injustificado. Essa pessoa orgulhosa sente que não foi criada, nem há de ser governada por um ser a quem deve reconhecer como alguém maior e por quem deve estar agradecida. “Aqueles que disputam acerca dos versículos de Deus, sem autoridade concedida, não abrigam em seus peitos senão a soberbia, com a qual jamais lograrão o que quer que seja: ampara-te, pois, em Deus, porque é o Oniouvinte, o Onividente.” (40: 56)

Do sentimento de gratidão vem o amor: “Entre os humanos há aqueles que adotam, em vez de Deus, rivais (a Ele) aos quais professam igual amor que a Ele; mas os fiéis só amam fervorosamente a Deus…” (2: 165).

Um crente ama e é agradecido a Deus por Seus favores, mas considerando que suas boas ações, sejam mentais ou físicas, estão muito distantes de sua equiparação aos favores Divinos; preocupa-se constantemente que Deus não o negue algum desses favores ou o castigue na próxima vida por causa de seus pecados. Portanto, tem o temor a Ele, rende-se ante Ele e O serve com grande humildade.”[8]

Não há, então, uma verdadeira adoração a menos que o coração esteja cheio de amor por Allah. Isto auxilia a incitar outros componentes necessários como ter esperança em Allah e temor de Allah no coração. O temor chega quando se glorifica e exalta verdadeiramente a Allah.[9] A esperança em Allah surge de um amor pleno e total por Ele. Todos esses componentes devem estar presentes e em um equilíbrio adequado. Se não estão presentes ou não estão equilibrados adequadamente, a adoração se distorce e se torna incorreta.[10]

Allah diz acerca de alguns de Seus servos mais piedosos e verazes: “E o atendemos e o agraciamos com Yahia (João), e curamos sua mulher (de esterilidade); um procurava sobrepujar o outro nas boas ações, recorrendo a Nós com afeição e temor, e sendo humildes a Nós.” (21: 90). Em referência aos piedosos e devotos servos de Jesus, Uzair e os anjos, Allah disse: “Anelam Sua Misericórdia e temem Seu castigo.” (17: 57)[11]

Esta categoria de tawhid é a chave para uma “vida verdadeira”, uma vida sólida e apropriada. Ibn Taimiyah escreveu o seguinte: “Devem saber que a necessidade que um ser humano[12] tem de Allah – de adorá-Lo e não associá-Lo nenhum companheiro – é uma necessidade com a qual não se pode fazer nenhuma analogia. Em alguns assuntos, compara-se à necessidade que o corpo tem de comer ou beber. Porém, com certeza, há diferenças entre elas. A realidade de um ser humano está em seu coração e sua alma. Estes não podem prosperar a menos que seja através de sua relação com Allah. Por exemplo, não há tranqüilidade neste mundo, exceto em Sua recordação. Certamente, o homem avança até o seu Senhor e, então, encontrá-Lo-á. Não existe uma verdadeira bondade, exceto ao se encontrar com Ele.[13] Se o ser humano experimenta prazer ou felicidade em outro que não seja Allah, esse prazer e felicidade não serão duradouros. Irá de um lugar a outro ou de uma pessoa a outra. A pessoa desfrutará em alguma ocasião ou em parte do tempo. Entretanto, muitas vezes, nestas ocasiões, onde se desfruta de algum prazer, não há um verdadeiro gozo. Às vezes, pode, inclusive, haver lástima. Mas, Deus está sempre com ele, em toda circunstância e momento. Onde quer que esteja Allah estará com ele [com Seu conhecimento e ajuda]… Se alguém adora a outro que não Allah – ainda se o ama e obtém algo de amor e alguma forma de prazer neste mundo, graças a ele – [essa falsa adoração] destruirá a pessoa de uma maneira muito pior que alguém que ingere veneno… É imperativo saber que se alguém ama algo por alguma razão que não seja Allah, esse objeto amado definitivamente será causa de prejuízo e castigo… Se alguém ama algo por alguma razão que não seja Allah, esse objeto de amor o prejudicará, estando ou não com ele…”[14]

Para que qualquer ação seja aceita por Allah, deve ser realizada segundo este aspecto do tawhid. Em outras palavras, se uma pessoa cumpre e entende esta forma de tawhid, da maneira apropriada, necessariamente implica que aceita e aplica as outras formas de tawhid. Portanto, suas ações podem, então, ser aceitas por Allah.[15] Allah disse: “Dize: Sou tão-somente um mortal como vós, a quem tem sido revelado que o vosso Deus é um Deus único. Por conseguinte, quem espera o comparecimento ante seu Senhor que pratique o bem e não associe ninguém ao culto d’Ele.“ (18: 110). Um dos atos que se deve realizar somente para Allah é a súplica. O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) disse: “A súplica é a essência da adoração.”[16] Quando uma pessoa reza ou suplica a um ser, está mostrando confiança e dependência para com ele. Está demonstrando sua necessidade para com o ser que recebe a súplica. Está demonstrando sua confiança nesse ser ou a capacidade que esse ser tem de conhecer, entender e satisfazer sua necessidade. Esse tipo de sentimento no coração, que é refletido na súplica, deve ser dirigido apenas a Deus. É por isso que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) afirmava que a súplica é a essência da adoração. Então, todo aquele que suplicar a qualquer um que não seja Allah está associando companheiros a Allah ou, em outras palavras, está cometendo shirk. O que é a antítese do imaan e do tawhid.

Este tipo de tawhid é, na realidade, uma conseqüência ou resultado necessário da crença correta no tawhid ar rububiyah. Se a pessoa se dá conta que não existe rabb (Senhor), exceto Allah, então, saberá que ninguém é digno de louvor ou merecedor de adoração além de Allah. Se ninguém é digno de louvor, exceto Allah; então, por que alguém adoraria a outro que não seja Allah?

Sobre este aspecto do tawhid, Ibn Abu al-Izz al-Hanafi escreveu o seguinte: “O Qur’an é abundante em frases e parábolas que dizem respeito a este tipo de tawhid. Primeiramente, o tawhid ar rububiyah afirma que não existe Criador, exceto Allah. Esta convicção implica que ninguém (nada) deve ser adorado, exceto Allah. Toma-se a primeira proposição [que Allah é Senhor] como evidência para a segunda [que Allah é o único digno e merecedor de adoração]. Os árabes criam na primeira proposição e disputavam sobre a segunda. Allah deixou claro: Sendo que sabem que não existe Criador, exceto Allah e que Ele é o Único que pode proporcionar à pessoa o que é benéfico e afastá-la do que é prejudicial, como, então, podem adorar a outros afora Allah e associar companheiros a Ele em Sua Divindade? Por exemplo, Allah disse no Qur’an: “Dize (ó Mohammad): Louvado seja Deus e que a paz esteja com os Seus diletos servos! E pergunta-lhes: O que é preferível Deus ou os ídolos que Lhe associam? Quem criou os céus e a terra, e quem envia a água do céu, mediante a qual fazemos brotar vicejantes vergéis, cujos similares jamais podereis produzir? Poderá haver outra divindade em parceria com Deus? Qual! Porém, [esses que assim afirmam] são seres que se desviam.” (27: 59-60) Ao final de outros versículos, Allah diz: “Acaso há outro deus junto com Allah?” O que é uma pergunta retórica com uma resposta implícita, claramente uma negativa. Eles aceitavam a idéia de que ninguém faz essas coisas, exceto Allah. Allah utilizou isso como prova contra eles. Não significa perguntar se existe outro deus afora Allah, como sustentam alguns. Esse significado é inconsistente com o contexto dos versículos e o fato de que as pessoas aceitavam outros deuses que não Allah. Como Allah disse: “…Ousareis admitir que existem outras divindades conjuntamente com Deus? Dize: Eu não as reconheço…” (6: 19) E costumavam dizer sobre o chamado do Profeta: “Pretende, acaso, fazer de todos os deuses um só Deus? Em verdade, isto é algo assombroso!” (38: 5) Mas, nunca diriam que outro deus “E fixou na terra sólidas montanhas, para que ela não estremeça convosco, bem como rios, e caminhos pelos quais vos guiais.” (16: 15) Portanto, Allah disse: “Dize-lhes: Que vos pareceria se Deus, repentinamente, vos privasse da audição, extinguisse-vos a visão e vos selasse os corações? Que outra divindade, além de Deus, poderia restaurá-los? Repara em como lhes expomos as evidências e, não obstante, as desdenham!” (6: 46) e “Ó humanos, adorai o vosso Senhor, Que vos criou, bem como aos vossos antepassados, quiçá assim tornar-vos-íeis virtuosos.” (2: 21) e outros versículos similares.”[17]

Tawhid al Asma wa as Sifaat

O terceiro aspecto do tawhid, segundo esta maneira de estudar o monoteísmo, é reconhecer e afirmar a Unicidade de Allah com respeito a Seus nomes e atributos. Deve-se afirmar que ditos atributos são perfeitos e completos apenas em Allah. Esses atributos são únicos de Allah. Ninguém mais pode ostentá-los.

Ao longo da história do islam, algumas seitas se desviaram neste aspecto do tawhid. Shuaib al Arnaut descreve no seguinte fragmento as diferentes posturas que se desenvolveram: “Não há dúvida alguma que o tema dos atributos de Allah deve ser considerado como um dos mais importantes dos fundamentos da fé. As opiniões de alguns muçulmanos diferiam sobre este tema. Alguns deles seguiam o enfoque da negação total dos atributos. Outros aceitavam os nomes de Allah em geral, mas negavam os atributos. Alguns, por sua vez, aceitavam os nomes e atributos, mas em algumas situações recusavam ou davam interpretações afastando-se de seus significados aparentes dos textos do Qur’an e da Sunnah. Outros adotavam a postura de que é obrigatório crer em todos os nomes e atributos mencionados no Livro de Allah e da Sunnah autêntica. Criam neles segundo seu significado aparente e evidente. Negavam a possibilidade de compreender sua forma (kaifiyah), como também todo o tipo de similaridade dos atributos divinos com os atributos dos seres criados. Os que sustentam esta última opinião são chamados salaf (antecessores piedosos) e ahlus Sunnah (povo da Sunnah).”[18]

A crença correta sobre este tema, que remonta aos tempos do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) e seus companheiros, foi resumida por as-Saadi quando escreveu: “Quanto à crença em Allah é incluído: crer em todos os atributos que Allah descreveu em Seu Livro e todos os atributos que Seu Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) Lhe atribuiu. [A crença em tais atributos] se dá sem distorções ou negações e sem que se especifique como ou de que maneira são aqueles atributos. De fato, a crença é que não existe nada similar a Allah e, ao mesmo tempo, Ele é Aquele que tudo ouve e tudo vê. Portanto, o que Ele atribuiu a Si mesmo não pode ser negado, nem tampouco distorcido o significado de tais descrições. Além disso, os nomes de Allah não se negam, não se descrevem e nem são demonstrados de uma maneira que se assemelhe aos atributos de qualquer outro ser criado. Isso se deve ao fato de que não existe nada ou ninguém similar ou comparável a Ele. Não tem parceiros ou companheiros. Não se pode fazer uma analogia entre Ele, louvado e glorificado seja, e Sua criação. Com relação à crença nos atributos e nomes que se atribuem a Allah, deve haver uma combinação de afirmação e negação. Ahlus Sunnah wal Jamaah não permite afastar-se do que exemplificavam os Mensageiros, pois esse é o Caminho Correto. São muito importantes todos os versículos do Qur’an que tratem dos nomes, atributos e ações de Allah, além daquilo que deve ser negado em relação a Ele. Entre os versículos está crer no estabelecimento de Allah sobre o Trono[19], Sua descida ao nível mais baixo do céu, onde os crentes O verão na próxima vida – tal como foi confirmado em diversos ahaadith. Também se fala, sob este princípio, a noção de que allah está próximo de nós e responde nossas súplicas. O que se menciona no Qur’an e na Sunnah em respeito à Sua proximidade e “estar com” os crentes não contradiz o que se afirma com respeito à Sua transcendência e Sua posição acima da criação. Pois, Glorificado seja, não existe nada similar a Ele em absolutamente nenhuma de Suas características.[20]

Em um versículo, Allah ressalta que nada é similar a Ele e, ao mesmo tempo, que Ele tem atributos de perfeição. Allah disse: “…Por esse meio vos multiplica. Nada se assemelha a Ele, e é o Oniouvinte, o Onividente.”(42: 11). Portanto, há uma negação total de qualquer antropomorfismo, por sua vez são confirmados todos os atributos de onividência e onipresença Divinas.[21]

Este aspecto do tawhid é muito importante e não deve ser subestimado. Como assinala Ahmad Salaam, as pessoas, antes da chegada do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele), aceitavam a idéia de Allah como único Criador do universo. Sem dúvidas, ao mesmo tempo, associavam companheiros a Allah nas mais distintas formas de adoração. Portanto, o Islam chegou para purificar este conceito de Allah como Senhor ou Rabb e deu entendimento apropriado. Ao fazê-lo, poderiam obter o conhecimento e entendimento corretos dos nomes e atributos de Allah. Se é conhecido e compreendido corretamente os nomes e atributos de Allah, nunca se recorreria a ninguém, sob nenhuma forma de adoração, que não a Allah. Então, um compreensão correta e detalhada dos nomes e atributos de Allah é a verdadeira base para o cumprimento correto dos outros tipos de tawhid.[22] Se o tawhid ar Rububiyah é como uma árvore, a raiz é o tawhid al asma was sifaat. Em outras palavras, o tawhid ar Rububiyah é construído sobre a base do tawhid al asma was sifaat. Se não há esta raiz ou base, a árvore se torna debilitada e morre.[23]

Certamente, segundo esta parábola, o verdadeiro fruto do tawhid al asma was sifaat, novamente, é o tawhid ar rububiyah. Quanto mais se sabe sobre Allah e Seus atributos, mais temor, amor e esperança serão alcançados. Portanto, um correto entendimento dos nomes e atributos de Allah é muito importante e benéfico. Os que não seguem este caminho, prejudicam-se e perdem um grandioso destino.


NOTAS DE RODAPÉ

[1] O termo tawhid,no sentido de “unificar algo” ou “afirmar a unicidade”, não é um termo do Qur’an ou da sunnah. Sem dúvidas, converteu-se num termo mais utilizado para cobrir os aspectos da crença em allah, desde os tempos do companheiro do Profeta Ibn Abbas.

[2] “Senhor” não é exatamente uma tradução decente da palavra rabb, mas será utilizada aqui por falta de uma melhor definição em português.

[3] É certo que podem existir outros criadores, donos e mantenedores neste mundo. Não obstante, suas capacidades de criar, possuir e manter são limitadas e relativas. O absoluto nestes âmbitos é a exclusividade de Allah. Cf., Ibn Uthaimin, Sharh Hadith, pg. 11-14.

[4]  Muhammad ibn Uthaimin,  Sharh Usul al-Imaan  (Fairfax, VA: Institute of Islamic and Arabic Sciences in North America, 1410 A.H.), p. 19.

[5] Marwaan al-Qaisi, Maalim at-Tawhid (Beirute: al-Maktab al-Islami, 1990), pp. 61-62.

[6] Abdul Rahman As-Saadi,  Al-Fatawa al-Saadiah  (Riyad: Manshuraat al-Muassasat al Saidiah, n.d), pg. 10-11. A definição de As Saadi destaca o fato de que o tawhid al uluhiyah está composto de tawhid al ikhlaas (onde se atua pura e exclusivamente buscando a complacência de Allah), tawhid as sidq (onde se atua sincera e honestamente segundo sua crença) e tawhid at Tariq (onde o caminho que se segue é um só, o estabelecido pelo Profeta Muhammad). Para mais informações sobre esses conceitos, ver Muhammad al Hammad, Tawhid al uluhiyah (Dar ibn Khuzaima, 1414 A.H.), pg. 22-24.

[7] Citado em al-Hammad, p. 26.

[8] Jaafar Shaikh Idris, The Pillars of Faith  (Riyadh: Presidency of Islamic Research, Ifta and Propagation, 1984), pg. 9-10.

[9] Em algumas situações, pessoas ou objetos podem ser temidos, mas esse temor não está combinado com um amor pleno. Portanto, esse medo não constitui uma forma de adoração.

[10] Existem numerosas afirmações dos antigos sábios que destacam o equilíbrio apropriado dos distintos componentes do imaan no coração. Por exemplo, diz-se sobre o temor e esperança: “São como as duas asas de um pássaro. O crente voa até Allah com suas duas asas de esperança e temor. Se estão equilibradas, voa corretamente. Se falta uma delas, terá dificuldades. Se faltam ambas, o pássaro estará à beira da morte.” (al-Hammad, p. 41)

[11] Cf., al-Hammad, pp. 34-41.

[12] A palavra que Ibn Taimiyah utilizou foi abd (servo ou escravo); sem dúvidas, refere-se a todos os seres humanos.

[13] Isto é assim porque a alma, por seu caráter arraigado, anela o encontro com seu Criador.

[14] Ibn Taimiah, Maymu, vol. 1, pp. 24-29.

[15] Cf., al-Hammad, Tawhid al-Uluhiah, p. 18.

[16] Registrado por Abu Dawud, an-Nasai, at-Tirmidhi e outros. Classificado como sahih por al-

Albani. Al-Albani, Sahih al-Jami as-Saghir, vol. 1, p. 641.

[17]  Ibn Abu al-Izz, vol. 1, pp. 37-38

[18] Shuaib al-Arnaut, introdução ao Zain al-Din al-Maqdisi, Aqauil al-ziqaat fi Tauil al-Asma wa al-Sifaat wa al-Ayaat al-Muhkamaat wa al-Mushtabihaat  (Beirute: Muassassat al-Risalah, 1985), p. 6. Um dos primeiros exemplos de uma pessoa que perguntou sobre estes atributos e buscou uma explicação para eles vem do tempo do Imam Malik. Um homem se aproximou dele e disse: “[sobre o versículo do Qur’an que diz] ‘Allah tem se estabelecido sobre o Trono’, como é que Ele se estabeleceu?” A resposta de Malik foi: “A modalidade de Seu ato é desconhecida. Mas, Seu estabelecimento sobre o Trono não é desconhecido. É obrigatório crer nele. Perguntar por ele é uma inovação.” Este relato de Malik, com outras palavras, está presente em diversos livros. Para mais detalhes sobre suas cadeias de transmissão e significados, ver Jamaal Baadi, Al-Azaar al-Waarida an Aimmat as-Sunnah fi Abwaab al-Itiqaad Riyad: Dar al-Watn, 1416 A.H.), vol. 1, pp. 226-231

[19] Como assinalou al-Baihaqi, esta crença, que está indicada claramente no Qur’an e na Sunnah, rechaça a postura da seita Jahmiah que diz que Allah está em todas as partes e em tudo. Ver Abu Bakr al-Baihaqi, al-Itiqaad ala Madhhab al-Salaf Ahlus-Sunnah wal-Jamaah (Beirute: Dar al-Kutub al-Arabi, 1984), p. 55.

[20] Citado por Abdullah al-Jarallah, Bahyah an-Naadhirin fima Juslih ad-Dunya wa ad-Din (1984), pp. 7-8.

[21] Ibn Taimiyah (assim como seu aluno Ibn al-Qaiim) era um oponente ferrenho ao antropomorfismo. Seus escritos indicam claramente que os atributos de Allah são únicos e não são iguais aos atributos humanos. Não obstante, alguns o tem acusado de antropomorfismo. Essas acusações baseiam-se em relatos totalmente falsos sobre Ibn taimiyah, ignorância extrema ou ódio cego a este estudioso sábio que se opôs a muitas heresias. Para mais detalhes sobre este assunto e uma refutação de ditas acusações, ver Salaah Ahmad,  Dawah Shaikh  al-Islaam ibn Taimiyah  wa Azaruhaa ala al-Harakaat al-Islaamiah al-Muasirah (Kuwait: Dar ibn al-Azir, 1996), vol. 2, pp. 375-388.

[22] Ahmad Salaam, Muqaddimah fi Fiqh Usul al-Dawah (Beirute: Dar ibn Hazm, 1990), p. 97.

[23] Salaam, p. 100.


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