Casamento Misiyar

Pergunta: O Casamento Misyar foi mencionado em seu website. O que é este casamento? É halaal ou haram?
Resposta:
Todos os louvores são para Allah.
Em primeiro lugar:
Misyaar é o casamento onde um homem faz um contrato (de casamento) de acordo com a shariah com uma mulher, atendendo às condições do casamento, mas no qual a mulher desiste de alguns de seus direitos, tais como acomodação, manutenção ou do marido ter que passar a noite com ela.
Os motivos que levaram ao surgimento deste tipo de casamento são muitos, tais como:
- Aumento do número de mulheres solteiras que são incapazes de se casar, porque os jovens estão cada vez mais adiando o casamento devido ao alto custo dos dotes e as despesas de casamento, ou porque há uma alta taxa de divórcio. Em tais circunstâncias, algumas mulheres vão concordar em ser a segunda ou terceira esposa e desistirão de alguns dos seus direitos.
- Algumas mulheres precisam ficar na casa de suas famílias, ou porque eles são os únicos a cuidar daqueles membros ou porque a mulher tem uma deficiência e sua família não quer que o marido seja sobrecarregado com algo que ele não pode suportar, e ele permanece em contato com ela sem ter que colocar um fardo muito grande sobre si mesmo ou porque ela tem filhos e não pode mudar-se com eles para a casa de seu marido, e por outras razões.
- Alguns homens casados querem manter a castidade de algumas mulheres, porque eles precisam disso ou porque precisam de variedade e prazer halaal, sem que afete a primeira esposa e seus filhos.
- Em alguns casos, o marido pode querer ocultar o seu segundo casamento de sua primeira esposa, por medo das consequências que podem resultar e afetar seu relacionamento.
- O homem viaja frequentemente a um determinado lugar e lá permanece por longos períodos. Sem dúvida, ficar lá com uma esposa é mais seguro do que não fazê-lo.
Estas são as razões mais importantes para o surgimento desse tipo de casamento.
Em segundo lugar:
Os eruditos diferem quanto ao parecer sobre este tipo de casamento, e há várias opiniões, que abrangem desde o ponto de vista de que é permitido, de que é permitido, mas makrooh ou que não é permitido. Aqui devemos ressaltar várias coisas.
- Nenhum dos eruditos disseram que este tipo de casamento é inválido ou que não é correto; ao contrário, eles indeferiram-no por causa das consequências adversas para a mulher, pois é degradante para ela e porque afeta a sociedade; pessoas de má fé tiram vantagem deste tipo de contrato, e a mulher poderia alegar que um simples namorado é seu marido. Esse tipo de contrato também afeta as crianças cuja educação será afetada pela ausência do pai.
- Alguns dos que disseram que era permissível se retrataram dessa visão. Dentre os eruditos mais proeminentes que disseram que era permissível estão Shaykh ‘Abd al-‘Aziz ibn Baaz e Shaykh’ Abd al-‘Aziz Aal al-Shaykh; e entre os eruditos mais proeminentes que disseram que era permissível e depois se retrataram dessa visão está Shaykh al-‘Uthaymin; dentre os mais proeminentes eruditos que disseram que não é permitido de jeito nenhum, estava o Shaykh al-Albani
- Aqueles que disseram que é permissível não disseram nada sobre prazo definido para o término do contrato, tal como no caso do mut’ah¹ E não disseram nada sobre
ser permissível sem um wali (tutor), porque o casamento sem wali é inválido. E eles não disseram que o contrato de casamento pode ser feito sem testemunhas ou sem ser anunciado, ao contrário, é essencial que um dos dois seja feito.
Em terceiro lugar:
Parecer dos eruditos em relação a este tipo de casamento:
- Shaykh Ibn Baaz (que Allah tenha misericórdia dele) foi questionado sobre o casamento Misyaar:
Esse tipo de casamento é aquele onde o homem se casa com uma segunda, terceira ou quarta esposa, e a esposa está em uma situação que a obriga a ficar com seus pais ou um deles em sua própria casa, e que o marido vai até ela em vários momentos dependendo das circunstâncias de ambos. Qual é o parecer islâmico sobre este tipo de casamento?
Ele respondeu:
Não há nada de errado com isso, se o contrato de casamento preenche todas as condições estabelecidas pela Shari’ah, que é a presença do wali e o consentimento de ambos os parceiros, bem como a presença de duas testemunhas de bom caráter para a elaboração do contrato, e ambos os parceiros, sendo livre de quaisquer impedimentos, por causa do significado geral das palavras do Profeta Muhammad ( sallallaahu ‘alayhi wa sallam): “As condições que são mais dignas de serem cumpridas são aquelas por meio das quais a intimidade torna-se admissível para vocês “e “Os muçulmanos estão ligados pelas suas condições”. Se os parceiros concordam que a mulher vai ficar com sua família ou que a sua parte do tempo com o marido vai ser durante o dia e não durante a noite, ou em certos dias ou algumas noites, não há nada de errado com isso, desde que o casamento seja anunciado e não seja escondido. Fim de citação.
Fataawa Ulama’ al-Balad al-Haraam (p. 450, 451) e Jaridah al-Jazirah assunto 8768, Monday 18 Jumaada al-Oola 1417 AH.
No entanto, alguns alunos do Shaykh disseram que depois ele se retratou da visão de que é permissível, mas não conseguimos encontrar nada por escrito para provar isso.
- Shaykh ‘Abd al-‘Aziz Aal al-Shaykh (que Allah o preserve) foi perguntado:
Há um burburinho sobre o misyaar ser haram ou halaal. Gostaríamos de uma declaração definitiva sobre este assunto do senhor, com uma descrição das suas condições e obrigações, se for permissível.
Ele respondeu:
As condições do casamento são de que os dois parceiros devem ser identificados e darem seu consentimento , e deve haver um wali (tutor) e duas testemunhas. Se as condições forem atendidas, o casamento anunciado e tanto o marido, a esposa ou seus tutores não concordarem em escondê-lo, e ele oferecer uma walimah² ou festa de casamento, então esse casamento é válido, e você pode chamá-lo do que quiser depois disso. Fim de citação.
Jaridah al-Jazirah, Friday 15 Rabi’ al-Thaani 1422 AH, assunto n° 10508.
- Shaykh al-Albani foi questionado sobre o casamento Misyaar e ele o indeferiu por duas razões:
(i)
Que o propósito do casamento é o repouso, como Allah diz (interpretação do significado): “ Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos “ [al-Room 30:21].
(ii)
Pode ser decretado que o marido tenha filhos com essa mulher, mas porque está longe dela e raramente vem a ela, isso se refletirá negativamente na criação e atitude de seus filhos.
Veja: Ahkaam al-Ta’addud fi Daw’ al-Kitaab wa’l-Sunnah (p. 28, 29)
- Shaykh Ibn ‘Uthaymin (que Allah tenha misericórdia dele) costumava dizer que era permissível, então deixou de dizê-lo por causa dos efeitos negativos, já que este tipo de contrato era mal aplicado por alguns malfeitores.
Finalmente, o que nós pensamos é:
Que se o casamento Misyaar preenche as condições de um casamento válido, ou seja, a proposta e aceitação, o consentimento do wali e testemunhas ou o anúncio do casamento, então é um contrato de casamento válido, e é bom para algumas categorias de homens e para as mulheres cuja circunstâncias exigem este tipo de casamento. Mas alguns que têm o comprometimento religioso fraco podem tirar vantagem disso, portanto, esta permissibilidade não deve ser descrita como de aplicação geral em um fatwa, ao invés disso a situação de cada casal deve ser examinada e, se esse tipo de casamento for bom para eles então deve ser permitido, caso contrário, eles não devem ser autorizados a fazê-lo. Isso é para evitar o casamento por uma questão de mero prazer, perdendo os outros benefícios do casamento, e para prevenir o casamento daqueles cuja união podemos ter certeza de que é provável o seu fracasso e no qual a mulher será negligenciada, tal como aquele que ficará longe de sua esposa por muitos meses, e a deixará sozinha em seu próprio apartamento assistindo TV e entrando em salas de bate papo e na internet. De que outra forma alguém tão vulnerável passaria seu tempo? Situação diferente da de quem vive com sua família ou filhos e tem comprometimento religioso suficiente, obediência, castidade e modéstia para ajudá-la a ser paciente durante a ausência de seu marido.
E Allah sabe mais.
fonte: http://islamqa.info/en/
[i]Notas da Tradutora:
[i] [i]Mut’ah- Casamento com prazo de validade, ou seja, com data pré determinada para seu fim. Este tipo de casamento, geralmente praticado por Shiitas, foi abolido pelo Profeta Muhammad ( sallallaahu ‘alayhi wa sallam), como mostra o hadith:
Sabra Juhanni relatou: O Mensageiro de Allah ? permitiu o casamento temporário para nós. Então, eu e outra pessoa saímos e vimos uma mulher dos Bana ‘Amir, que era uma jovem de pescoço comprido como a de um camelo fêmea. Nós nos apresentamos para ela (para a contrair casamento temporário), ao que ela disse: O que você me daria de dote? Eu disse: Minha capa. E meu companheiro também disse: Minha capa. E a capa do meu companheiro era superior à minha, mas eu era mais jovem do que ele. Então, quando ela olhou para a capa do meu companheiro ela gostou, e quando ela olhou para mim eu pareci mais atraente para ela. Ela então disse: Bem, você e sua capa são suficientes para mim. Fiquei com ela por três noites, e, em seguida, o Mensageiro de Allah ? disse: Quem tem qualquer mulher com quem tenha contraído casamento temporário, deixe-a ir.
Em outra versão foi dito: “ e eu não saí deste casamento (mut’ah) até que o Mensageiro de Allah ? o proibiu”.
Outro hadith, do mesmo Narrador, diz:
Sabra al-Juhani informou sob a autoridade de seu pai que, enquanto ele estava com Mensageiro de Allah ?, que ele disse:
Ó povo, eu tinha permitido que o casamento temporário com as mulheres, mas Allah proibiu-o (agora) até o Dia da Ressurreição. Então, quem tem qualquer mulher com este tipo de contrato de casamento, deve deixá-la ir, e não tomar de volta o que lhes deu (como dote).
² Walimah- reunião de casamento oferecidos aos convidados após a celebração da cerimônia nubente, geralmente acompanhada de comida, ao que muitos podem também chamar walimah de banquete de casamento, no entanto a origem da palavra em árabe, que é awlam, nos remete a reunião, no sentido de juntar os convidados.