Mussa (que a paz esteja sobre ele)

Mussa (que a paz esteja sobre ele)
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Tanto no Judaísmo quanto no Cristianismo Mussa (Moisés – que a paz esteja sobre ele) é uma figura central.  É o homem do Velho Testamento mais mencionado no Novo Testamento, liderou os israelitas para saírem da escravidão no Egito, se comunicou com Allah e recebeu os Dez Mandamentos. Mussa é conhecido como líder religioso e legislador. No Islam, Mussa é amado e respeitado; é um profeta e um mensageiro. Allah o menciona mais de 120 vezes e sua história atravessa vários capítulos. É a história mais longa e detalhada de um profeta no Alcorão e é discutida em detalhes elaborados.  


O Nascimento de Mussa

Mussa nasceu em um dos momentos mais carregados politicamente na história. O faraó do Egito era a figura de poder dominante, tão incrivelmente poderoso que se referia a si mesmo como um deus e ninguém estava inclinado ou era capaz de questionar isso. Dizia: “Sou o vosso senhor supremo!” (Alcorão 79:24)

O faraó exercia sua autoridade e influência sobre todas as pessoas no Egito sem esforço.  Usava a estratégia de dividir e conquistar. Estabeleceu distinções de classes, dividiu o povo em grupos e tribos e colocou-os uns contra os outros. Os judeus (dentre eles a família de Mussa), os filhos de Israel, estavam no nível mais baixo da sociedade egípcia. 

De acordo com o sábio muçulmano Ibn Kathir, os filhos de Israel falavam vagamente sobre os filhos de sua nação tomar o trono do Egito do faraó. Talvez fosse apenas um sonho persistente de um povo oprimido ou até mesmo uma antiga profecia, mas a história de Mussa começa aqui. Uma ânsia por liberdade associada com o sonho de um rei tirânico.  

O povo do Egito

Este povo era influenciado por sonhos e suas interpretações (isso se destaca na história do profeta Yusuf – clique para ler) e, mais uma vez, na história de Mussa o destino dos filhos de Israel é afetado por um sonho. O faraó sonha que uma criança dos filhos de Israel se torna adulta e toma seu trono. Fiel ao seu caráter, o faraó reage arrogantemente e dá a ordem de que todos os meninos nascidos dos filhos de Israel fossem mortos. Seus ministros, entretanto, perceberam que isso levaria à aniquilação completa dos filhos de Israel e à ruína econômica do Egito. Como, se perguntavam, o império funcionaria sem servos e escravos? A ordem foi mudada; os meninos seriam mortos em um ano, mas poupados no ano seguinte.

“E quisemos agraciar os subjugados na terra, designando-os imames e constituindo-os herdeiros. E os arraigando na terra, para mostrarmos ao Faraó, a Haman (ministro-chefe do Egito) e seus exércitos, o que temiam.” (Alcorão 28:5-6)

A mãe de Mussa o salvou

Mussa nasceu em um ano no qual os filhos dos Filhos de Israel eram mortos no momento em que nasciam. A mãe de Mussa era uma mulher virtuosa, devota e temente a Allah e, portanto, em sua hora de necessidade voltou-se para Allah e Ele inspirou suas próximas ações.

“E inspiramos a mãe de Mussa: Amamenta-o e, se temes por ele, lança-o ao rio; não temas, nem te aflijas, porque to devolveremos e o faremos um dos mensageiros.” (Alcorão 28:7).

A mãe de Mussa passou os últimos meses ocultando sua gravidez por temor de que sua criança fosse morta, assim, Allah a inspira a jogá-lo no rio Nilo. A mãe de Mussa confiou em Allah:  “… não temas, nem te aflijas, porque to devolveremos…”. Ela fez uma cesta à prova d’água, colocou seu pequeno bebê dentro e o jogou no rio. Ibn Kathir narra que quando a cesta tocou a água, a corrente violenta se tornou calma e mansa, levando a cesta silenciosamente rio abaixo. A irmã de Mussa foi instruída pela mãe a caminhar silenciosamente pelos canaviais e seguir a cesta em sua jornada.

 “Mas, a quem temer a Allah, Ele lhe apontará uma saída. E o agraciará, de onde menos esperar. Quanto àquele que se encomendar a Allah, saiba que Ele será Suficiente, porque Allah cumpre o que promete. Certamente Allah predestinou uma proporção para cada coisa.” (Alcorão 65:2-3)

O resgate do bebê

O bebê Mussa foi levado para Asiya, a esposa do faraó. Asiya, em contraste com seu marido arrogante e orgulhoso, era uma mulher virtuosa e misericordiosa. Allah abriu seu coração e Asiya ao olhar para o pequeno bebê se sentiu tomada de amor por ele. O casal real era incapaz de conceber um filho e esse pequeno bebê despertou seus instintos maternais. Asiya o apertou em seu peito e pediu ao marido que aceitasse a criança na família. O faraó aceitou a criança que era parte do plano de Allah para derrubar a casa real. Longe de abandoná-lo, Allah colocou Mussa como filho real do Egito provendo-lhe com o apoio humano mais forte na terra. Asiya e o faraó agora tinham um filho, que estava protegido pela pessoa que tinha tentado matá-lo.

“A família do Faraó recolheu-o, para que viesse a ser, para os seus membros, um adversário e uma aflição; isso porque o Faraó, Haman e seus exércitos eram pecadores. E a mulher do Faraó disse: Será meu consolo e teu. Não o mates! Talvez nos seja útil, ou o adoremos como filho. E eles de nada se aperceberam.” (Alcorão 28:8-9)

Asiya convocou amas de leite ao palácio, mas a pequena criança se recusou a mamar. Isso causou grande aflição; pois não havia outra solução naquela época. E foi assim que a mãe de Mussa teve oportunidade de ser sua ama de leite. De acordo com Ibn Kathir, a família, incluindo o próprio faraó, ficou atônita. O faraó perguntou a mulher quem ela era e ela respondeu: “Sou uma mulher com leite doce e cheiro agradável e nenhuma criança me recusa.” O faraó aceitou essa resposta e assim Mussa foi devolvido aos braços de sua mãe e criado no palácio como um príncipe do Egito.

“E fizemos com que recusasse as nutrizes. E disse (a irmã, referindo-se ao bebê): Quereis que vos indique uma casa familiar, onde o criarão para vós e serão seus custódios.” (Alcorão 28:12)

 “Restituímo-lo, assim, à mãe, para que se consolasse e não se afligisse, e para que verificasse que a promessa de Allah é verídica. Porém, a maioria o ignora.” (Alcorão 28:13)

O jovem Mussa

Podemos perceber na história de Mussa que ele era um homem franco e defensor dos membros mais fracos da sociedade. Sempre que testemunhava opressão ou crueldade, achava impossível não intervir.

Ibn Kathir narra que um dia, enquanto caminhava pela cidade, Mussa passou por dois homens brigando. Um era israelita e o outro egípcio. O israelita reconheceu Mussa e pediu ajuda. Mussa entrou na briga e atingiu o egípcio com um golpe furioso. Ele imediatamente caiu no chão e morreu. Mussa foi tomado pela dor. Estava ciente de sua própria força, mas não imaginava que tinha o poder de matar alguém com um único golpe. (Leia: Alcorão 28:15-17)

Porque as ruas estavam relativamente desertas ou porque as pessoas não tinham vontade de se envolver um ataque sério, as autoridades não tinham ideia de que Mussa estava envolvido na luta. Entretanto, no dia seguinte Mussa viu o mesmo israelita envolvido em outra briga. Suspeitou que o homem fosse um criador de casos e se aproximou dele para alertá-lo sobre esse comportamento. O israelita viu Mussa indo em sua direção e com medo, gritou: “Vai me matar como matou o desgraçado ontem?” O oponente do homem, um egípcio, ouviu o comentário e correu para denunciar Mussa às autoridades. Mais tarde naquele dia, Mussa foi abordado por uma pessoa desconhecida que o informou que as autoridades planejavam prendê-lo e possivelmente sentenciá-lo à morte pelo crime de matar um egípcio. (Leia: Alcorão 28:15-21)

Mussa imediatamente deixou os limites da cidade. Não teve tempo de retornar para sua casa e trocar suas roupas ou preparar provisões. Mussa avançou pelo deserto em direção a Madian, o país que ficava entre a Síria e Egito. Seu coração estava cheio de medo e ele temia virar-se e ver as autoridades lhe perseguindo. Caminhou e caminhou e quando seus pés e pernas pareciam conduzidos, continuou caminhando. Seus sapatos se desgastaram no deserto e a areia quente queimou as solas de seus pés. Mussa estava exausto, com fome e sede e sangrando, mas forçou-se a continuar, alguns dizem que por mais de uma semana, até que chegou a um oásis do deserto e o aroma da água e a sombra das árvores devem ter parecido o paraíso na terra. Mussa, entretanto, não estava sozinho em seu recém-encontrado paraíso; o poço estava cercado de pastores dando água a seus rebanhos.

As pessoas estavam se empurrando, brigando, brincando e rindo, comportando-se de maneira rude e desordeira. Mussa atirou-se ao chão grato pela sombra de uma árvore. Quando recuperou o fôlego, notou duas mulheres e seu rebanho de ovelhas. Estavam paradas um pouco mais atrás, hesitantes em se aproximar do poço. Assim, ele ajudou-as a dar de beber ao rebanho.(Leia: Alcorão 28:22-24)

O convite recebido e o casamento

Uma das duas mulheres disse a Mussa: “Meu pai quer recompensá-lo por sua gentileza e o convida à nossa casa.” (Alcorão 28:25). Mussa foi ver o homem idoso. Sentaram-se juntos e Mussa relatou sua história. O idoso atenuou seus temores e contou a Mussa que ele tinha cruzado em segurança a fronteira egípcia; estava agora em Madian e a salvo das autoridades que pudessem estar lhe perseguindo.

O idoso, que alguns sábios acreditam que fosse o profeta Shuaib (leia mais sobre o Profeta Shuaib), ofereceu a Mussa a proteção e segurança de sua própria família. Deu a Mussa uma de suas filhas em casamento, com a condição de que ele trabalhasse por oito anos, ou dez se Mussa concordasse em ficar por mais dois anos. Ele, então, se casou com uma das mulheres que tinha inicialmente ajudado no poço, passou os próximos dez anos trabalhando com o pai dela e criou sua própria família. Sua nova vida era quieta e contemplativa e ele não tinha que suportar a intriga da corte egípcia ou a humilhação de seu povo, os filhos de Israel. Mussa era capaz de meditar sobre as maravilhas de Allah e o universo.

O retorno ao Egito e a revelação

Depois de Mussa ter completado o termo de serviço que tinha prometido ao seu sogro, estava consumido pela saudade de casa. Começou a sentir falta de sua família e da terra do Egito. Embora temesse o que poderia acontecer se voltasse, experimentava um estranho desejo de voltar para a terra de seu nascimento.  Mussa reuniu sua família e fez a longa jornada de volta ao Egito.

“E quando Mussa cumpriu o término e viajava com a sua família, percebeu, ao longe, um fogo, ao lado do monte (Sinai) e disse à sua família: Aguardai aqui, porque vejo fogo. Quiçá vos diga do que se trata ou traga umas brasas para vos aquecerdes.” (Alcorão 28:29)

Enquanto Mussa voltava pelo deserto, acabou se perdendo. Era uma noite escura e fria. Mussa viu o que parecia ser uma figura queimando à distância. Disse à sua família para ficar onde estava. Tinha esperança de conseguir orientações ou ser capaz de trazer algum fogo para aquecer sua família. Sem saber, Mussa estava prestes a participar em uma das conversas mais surpreendentes da história. Caminhou em direção ao fogo e, à medida que o fazia, ouviu uma voz.

“Bendito seja Quem está dentro do fogo e nas suas circunvizinhanças, e glória a Allah, Senhor do Universo! Ó Mussa, Eu sou Allah, o Poderoso, o Prudentíssimo.” (Alcorão 27:8-9)

Allah falou a Mussa. Pediu a Mussa para remover seus sapatos para que pudesse ficar com o pés tocando o chão. Allah revelou a Mussa que ele tinha sido escolhido para uma missão especial e ordenou-lhe que ouvisse o que estava prestes a dizer.

“Sou Allah. Não há divindade além de Mim! Adora-Me, pois, e observa a oração, para celebrar o Meu nome, Porque a hora se aproxima – desejo conservá-la oculta, a fim de que toda a alma seja recompensada segundo o seu merecimento. Que não te seduza por aquele que não crê nela (a Hora) e se entrega à concupiscência, porque perecerás!” (Alcorão 20:14-16)

Em uma conversa direta entre Allah e Mussa, a oração foi prescrita a Mussa e seus seguidores (A oração também foi prescrita ao profeta Muhammad e seus seguidores de forma muito parecida na noite da viagem do profeta Muhammad a Jerusalém e ascensão aos céus). Mussa segurava um cajado em sua mão.  Allah falou a ele e perguntou a Mussa o que era esse cajado.  Mussa respondeu: “É o meu cajado, sobre o qual me apoio, e com o qual quebro a folhagem para o meu rebanho; e, ademais, serve-me para outros usos.”  (Alcorão 20:18).Mussa conhecia seu cajado muito bem; sabia que não tinha qualidades milagrosas. Allah pediu a Mussa que jogasse o cajado ao chão e quando o fez, ele começou a serpentear e vibrar. O cajado tinha se transformado em uma cobra. 

Allah instruiu Mussa a colocar sua mão sobre seu manto e revelou-lhe outro sinal de sua magnificência e onipotência. Sinais que Mussa precisaria em sua missão, evidência para aqueles que eram desobedientes e rebeldes. Allah pretendia enviar Mussa ao faraó. O homem que ele mais temia, o homem que Mussa achava que certamente o condenaria à morte. Seu coração se contraiu de medo, mas Allah o tranquilizou. Em uma noite escura, na sombra do Monte Tur, Allah conferiu a missão profética a Mussa. Seu primeiro comando foi ir até o faraó.

“Vai ao Faraó, porque ele se extraviou.” (Alcorão 20:24)

A conversa entre Allah e Mussa

Mussa fugiu do Egito temendo por sua vida; passou 10 anos em um país fora da jurisdição do faraó. Agora Allah ordenava que enfrentasse seu maior temor, o corrupto faraó; o homem que Mussa estava certo de mandaria executá-lo. Mussa suplicou; implorou por força e conforto nessa missão muito difícil. Pediu a Allah que abrisse seu coração e lhe concedesse eloquência, autoconfiança e contentamento. Também suplicou a Allah que o fortalecesse com um companheiro confiável e capaz na missão profética, seu irmão Harun (leia mais sobre a história de Harun – Aarão, clique aqui).

O diálogo entre Allah e Mussa é uma das conversas mais surpreendentes contidas nas páginas do Alcorão. As palavras de Allah são transmitidas com eloquência e clareza. Pintam o retrato de um homem forte e ainda assim humilde e encantado com seu encontro com Allah. Transmitem um sentido etéreo de que Allah é Todo poderoso, Onipotente e, ainda assim, cheio de misericórdia e amor por Seus servos.(Leia os versículos: Alcorão 20:25-48).

Essa curta e surpreendente conversa com Allah mudou a vida de Mussa. Ensinou-lhe lições sobre si mesmo, sobre seu mundo, sobre a natureza da humanidade e, o mais importante de tudo, sobre a natureza de Allah. Ao ler a história de Mussa até agora, aprendemos a importância de confiar em Allah; aprendemos que os seres humanos planejam e tramam, mas o plano de Allah pode superar qualquer triunfo, teste ou tribulação. A história de Mussa nos ensina que não existe alívio dos tormentos desse mundo exceto com a lembrança e proximidade de Allah.

Ibn Kathir narra que Mussa e Harun foram juntos ao faraó e transmitiram sua mensagem. Mussa falou ao faraó sobre Allah, Sua misericórdia e Seu Paraíso e sobre a obrigação da humanidade de adorar somente Allah.  

“Mussa lhe disse: Cometi-a quando ainda era um dos tantos extraviados. Assim, fugi de vós, porque vos temia; porém, meu Senhor me agraciou com a prudência, e me designou como um dos mensageiros. E por esse favor, do qual me exprobras, escravizaste os israelitas? Perguntou-lhe o Faraó: E quem é o Senhor do Universo?Respondeu-lhe Mussa: É o Senhor dos céus e da terra, e de tudo quanto há entre ambos, se queres saber. O Faraó disse aos presentes: Ouvistes? Mussa lhe disse: É teu Senhor e Senhor dos teus primeiros pais! Disse (o Faraó): Com certeza, o vosso mensageiro é um energúmeno. (Mussa) disse: É o Senhor do Oriente e do Ocidente, e de tudo quanto existe entre ambos, caso raciocineis! Disse-lhe o Faraó: Se adorares a outro Allah que não seja eu, far-te-emos prisioneiro! Mussa (lhe) disse: Ainda que te apresentasse algo convincente? Respondeu-lhe (o Faraó): Apresenta-o, pois, se és um dos verazes!”  (Alcorão 26:20-31)

O faraó ironizou Mussa, acusando-o de ser ingrato e, finalmente, o ameaçou. Durante esse período histórico, muitas pessoas no Egito praticavam a magia. Existiam até escolas que davam aulas de mágica e ilusionismo. Quando Mussa jogou seu cajado e ele se tornou uma serpente deslizando pelo chão e quando tirou a mão de seu manto e reluzia branca e brilhante, o faraó presumiu que Mussa tinha aprendido a arte do ilusionismo. Ibn Kathir narra que o faraó prendeu Mussa e Harun enquanto despachava emissários através do Egito convocando todos os mágicos ao palácio. O faraó prometeu aos mágicos prestígio e dinheiro em retorno por seus truques. Uma competição foi organizada entre Mussa e os mágicos egípcios.(Leia: Alcorão 20:57-59)

Mussa pediu aos mágicos que se apresentassem primeiro. É narrado que até 70 mágicos se alinharam. Os mágicos jogaram seus cajados e cordas em nome do faraó e o solo tornou-se um mar de serpentes, se retorcendo e deslizando. A multidão olhava maravilhada. Mussa estava com medo, mas era perseverante e seguro de que Allah o protegeria e facilitaria a tarefa. Allah o cobriu de tranquilidade e orientou Mussa a jogar seu cajado. O cajado de Mussa se transformou em uma enorme serpente que rapidamente devorou as serpentes ilusórias que cobriam o solo. A multidão se levantou como uma grande onda, aplaudindo e gritando por Mussa. Os mágicos ficaram atônitos. Eram muito hábeis na arte da magia e ilusionismo, porque eram os melhores mágicos no mundo na época, mas sua magia era apenas um truque e souberam que a serpente de Mussa era real. Coletivamente se prostraram declarando sua crença no Senhor de Mussa e Harun. (Leia: Alcorão 20:70-73)

A perseguição do Faraó

O faraó estava zangado. Seu reino de temor foi construído pela opressão do povo e mantendo seus corações e mentes cativos. Todo o povo do Egito, desde os ministros e mágicos até os servos e escravos mais baixos temiam o poder e raiva do faraó, mas Mussa tinha exposto um ponto fraco. O faraó estava preocupado que seu reino estivesse prestes a se acabar; entretanto, estava cercado por bajuladores e parasitas que o incentivaram a uma tirania maior.  

Os oficiais de segurança e inteligência do faraó começaram a espalhar rumores. Disseram que Mussa e alguns mágicos tinham combinado secretamente que Mussa ganharia a competição. Os corpos sem vida dos mágicos assassinados estavam pendurados em lugares públicos para aterrorizarem ainda mais as pessoas. Devido à sua associação com Mussa, os filhos de Israel se tornaram bodes expiatórios. Reclamaram com Mussa que eram maltratados quando ele nasceu e que agora ele tinha feito com que fossem oprimidos novamente.

O faraó ordenou mais matança, pilhagem e estupros. Aprisionava qualquer um que reclamasse dessa opressão e Mussa estava impotente. Não podia interferir. Aconselhava paciência e observava em silêncio. Os filhos de Israel reclamavam com Mussa e ele ficou em uma situação muito difícil. Enquanto combatia os estratagemas e planos do faraó, seu povo estava se voltando contra ele e um dos seus trabalhava com os detentores de poder egípcios.

Carun era um homem dos filhos de Israel abençoado com fortuna e status, enquanto todos ao seu redor eram pobres e destituídos.  Não reconhecia as bênçãos de Allah e tratava os pobres com desprezo. Quando Mussa o lembrou de que era seu dever, como alguém que adorava o Allah único, pagar o tributo dos pobres, ele recusou e começou a espalhar o rumor de que Mussa tinha inventado o tributo para ficar rico. A ira de Allah recaiu sobre Carun e a terra se abriu e o engoliu, como se ele nunca tivesse existido. (Leia: Alcorão 28: 76-82)

Ibn Kathir narra que o faraó queria Mussa morto e que era apoiado por todos os seus ministros e oficiais, exceto um. Esse homem, que se acredita que seja um parente do faraó, era um crente na unicidade de Allah, embora até esse momento tivesse mantido essa crença em segredo.

“E um homem crente, da família do Faraó, que ocultava a sua fé, disse: Mataríeis um homem tão-somente porque diz: Meu Senhor é Allah, não obstante Ter-vos apresentado as evidências do vosso Senhor? Além do mais se for um impostor, a sua mentira recairá sobre ele; por outra, se for veraz, açoitar-vos-á algo daquilo com que ele vos ameaça.” (Alcorão 40:28)

O homem crente falou de maneira eloquente; alertou seu povo de que sofreria um desastre como os que tinham afligido povos do passado. Relembrou as pessoas que Allah tinha enviado sinais claros com Mussa, mas suas palavras não foram ouvidas. O faraó e muitos de seus ministros ameaçaram matar o crente, mas Allah o manteve a salvo, sob Sua proteção.

“E eis que Allah o preservou das conspirações que lhe haviam urdido, e o povo do Faraó sofreu o mais severo dos castigos!” (Alcorão 40:45)

O aviso e castigo de Allah

Allah ordenou a Mussa que alertasse o faraó de que ele e os egípcios sofreriam uma punição severa, se os filhos de Israel não fossem libertados. Se a tortura, opressão e assédio não parassem, os sinais da ira de Allah recairiam sobre eles. A resposta do faraó foi chamar todo o povo do Egito, inclusive os filhos de Israel, para uma grande reunião. Informou-os de que ele era seu Senhor e destacou que Mussa não era nada além de um servo vil sem poder ou força. A força de Mussa, entretanto, vinha diretamente de Allah. Mas as pessoas acreditaram e obedeceram ao faraó: os sinais do poder de Allah começaram a descer.

Allah afligiu o Egito com uma grande seca. Até os vales do suntuoso, verde e fértil Nilo começaram a secar e morrer.  As plantações morreram e o povo começou a sofrer, mas o faraó continuou arrogante e, portanto, Allah enviou uma enorme inundação para devastar a terra. As pessoas, inclusive os ministros-chefes, apelaram a Mussa.

“Ó Mussa, implora por nós, de teu Senhor, o que te prometeu; pois, se nos livrares do castigo, creremos em ti e deixaremos partir contigo os israelitas.” (Alcorão 7:134)

A terra voltou ao normal e as plantações começaram a crescer novamente, mas os filhos de Israel continuaram escravizados. Allah enviou uma praga de gafanhotos que devastou tudo em seu caminho. As pessoas correram para Mussa implorando sua ajuda. Os gafanhotos partiram, mas os filhos de Israel continuaram escravizados. Em seguida veio uma praga de piolhos, espalhando doença entre as pessoas, seguida de uma praga de sapos que assustavam e aterrorizavam as pessoas em suas casas e camas. Cada vez que as punições de Allah desciam, o povo implorava a Mussa que suplicasse a Allah por alívio e, a cada vez, prometiam libertar os filhos de Israel escravizados. Entretanto, não mantinham a promessa.

O sinal final da ira de Allah foi revelado e a água do rio Nilo se transformou em sangue. Para os filhos de Israel a água permaneceu pura e clara, mas para todos os outros parecia sangue espesso e vermelho.  Mesmo após essa série de sinais devastadores do desagrado de Allah, os filhos de Israel continuaram escravizados.(Leia: Alcorão 7:130-136)

O faraó e a maioria das pessoas do Egito se recusam a acreditar nos sinais. Repetidamente Allah enviou Suas punições e o povo apelou a Mussa, prometendo adorar somente a Allah e libertar os filhos de Israel, ma seguidamente quebraram suas promessas.  Finalmente Allah retirou Sua misericórdia e deu ordem a Mussa para liderar seu povo para fora do Egito.

“Porém, quando os livramos do castigo, adiando-o para o término prefixado, eis que perjuram! Então, punimo-los, e os afogamos no mar por haverem desmentido e negligenciado os Nossos versículos.” (Alcorão 7:130-136)

Os espiões do faraó sabiam imediatamente que algo importante estava acontecendo e o faraó marcou uma reunião com seus conselheiros mais confiáveis. Decidiram reunir um exército inteiro para perseguir os escravos fugidos. Reunir o exército levou a noite toda e o exército do faraó não deixou os confins da cidade até a alvorada. Marcharam para o deserto. Logo os filhos de Israel puderam olhar para trás e ver ao longe a poeira levantada pelo exército que se aproximava. E logo os que estavam nas primeiras fileiras dos filhos de Israel alcançaram o limite com o Mar Vermelho.

Como Allah salvou os Filhos de Israel

Os filhos de Israel estavam encurralados. À frente deles o Mar Vermelho e às suas costas um exército vingativo. Temor e pânico começaram a se espalhar entre eles. Apelaram a Mussa. Mussa estava caminhando na retaguarda de seu povo e podia ver o exército se aproximando cada vez mais. Abriu caminho entre as fileiras até o mar. Caminhou entre seu povo amenizando seus temores e lembrando-os de manter a fé e continuar a confiar que Allah não os abandonaria.

Mussa parou no limite do Mar Vermelho e olhou em direção ao horizonte. Ibn Kathir narra que Josué se voltou para Mussa e disse: “À nossa frente está uma barreira intransponível, o mar, e atrás de nós o inimigo. Não temos como escapar da morte!” Mussa não entrou em pânico; ficou de pé em silêncio e aguardou que Allah mantivesse Sua promessa de libertar os filhos de Israel.

Naquele momento, como o pânico tomava conta dos filhos de Israel, Allah inspirou Mussa a bater no mar com seu cajado. Ele fez o que lhe foi ordenado. Um forte vento começou a soprar, o mar começou a entrar em redemoinho e girar e, repentinamente, se partiu para revelar uma passagem; o fundo do mar ficou seco o suficiente para as pessoas caminharem através dele, cruzando-o.(Leia: Alcorão 10:90-92)

A morte do faraó

Ibn Kathir descreve a morte do faraó: “A cortina caiu sobre a tirania do faraó e as ondas jogaram seu corpo na direção da costa ocidental. Os egípcios o viram e souberam que o Allah a quem adoraram e obedeceram era um mero homem que não pode livrar seu pescoço da morte. Quando o faraó tinha poder, fortuna, boa saúde e força, eles se recusaram a reconhecer Allah, mas quando ele viu a morte se aproximando suplicou a Allah com temor e horror. Se a humanidade se lembra de Allah em tempos de facilidade, Allah lembrará até do mais vil dos seres humanos em tempos de aflição.

Gerações de opressão tinham deixado uma marca indelével sobre os filhos de Israel. Anos de humilhação e medo constante os tinham deixado ignorantes e obstinados.   A maioria deles tinha sido privada de confortos e luxos por todas as suas vidas. Ansiavam por qualquer coisa que fosse um sinal de fortuna ou materialismo.  Os filhos de Israel acreditavam em Allah, tinham acabado de testemunhar os milagres e sinais mais surpreendentes do poder de Allah, mas ainda assim cobiçavam um ídolo que viram em sua jornada para fora do Egito.(Leia: Alcorão 7: 138-141)

A ingratidão dos Filhos de Israel

Os filhos de Israel cruzaram o leito do mar sob a liderança de Mussa. Quando a última pessoa tinha cruzado a salvo, o mar voltou ao seu lugar e afogou o exército, incluindo o tirânico faraó. Os filhos de Israel foram integrantes de um povo oprimido e humilhado por um longo período. Várias gerações tinham vivido sob o jugo do faraó. Tinham se tornado um povo beligerante que sempre esperava o pior. 

Quando os filhos de Israel encontraram um povo que adorava ídolos, sua ânsia em ser como aquele povo que parecia feliz se manifestou e pediram a Mussa permissão para terem um ídolo, esquecendo completamente os milagres de Allah que tinham acabado de testemunhar. Quando Allah os proveu com alimento delicioso que até então era desconhecido para eles, reclamaram, querendo o alimento inferior ao qual estavam acostumados. Então, Mussa os orientou a marchar para uma cidade e derrubar os cananitas e eles se recusaram, em maior parte por medo e, assim, desobedeceram ao comando de Allah. Ibn Kathir narra que Mussa foi capaz de encontrar somente dois homens dispostos a lutar.(Leia: Alcorão 5:25-26)

Os “dias de perambulação” começaram. Cada dia era como o anterior. As pessoas viajavam sem nenhum destino em mente. Finalmente entraram no Sinai; Mussa o reconheceu como o lugar onde tinha falado com Allah antes de sua grande jornada no Egito ter começado. Allah ordenou a Mussa a jejuar, como purificação, por quarenta dias e então acrescentou mais dez dias. Depois de o jejum ter sido concluído, Mussa estava pronto mais uma vez para se comunicar com Allah.(Leia: Alcorão 7:142-144)

Allah deu a Mussa duas tabuletas de pedra, sobre as quais estavam os Dez Mandamentos. Esses mandamentos formam a base da lei judaica, o Torá (Taurah), e são os padrões de moralidade ainda estabelecidos pelas igrejas cristãs. Ibn Kathir e os primeiros sábios do Islam afirmam que os Dez Mandamentos são reiterados em dois versículos do Alcorão.

“Dize (ainda mais): Vinde, para que eu vos prescreva o que vosso Senhor vos vedou: Não Lhe atribuais parceiros; tratai com benevolência vossos pais; não sejais filicidas, por temor à miséria- Nós vos sustentaremos, tão bem quanto aos vossos filhos -; não vos aproximeis das obscenidades, tanto pública, como privadamente, e não mateis, senão legitimamente, o que Allah proibiu matar. Eis o que Ele vos prescreve, para que raciocineis. Não disponhais do patrimônio do órfão senão da melhor forma possível, até que chegue à puberdade; sede leais na medida e no peso- jamais destinamos a ninguém carga maios á que pode suportar. Quando sentenciardes, sede justos, ainda que se trate de um parente carnal, e cumpri os vossos compromissos para com Allah. Eis aqui o que Ele vos prescreve, para que mediteis.” (Alcorão 6:151-152)

Mussa esteve ausente para quarenta dias e seu povo tinha se tornado impaciente e eram como crianças, reclamando e agindo de forma impulsiva. Ibn Kathir descreve sua queda no pecado imperdoável da idolatria: “As-Samiri, um homem que era inclinado ao mal, sugeriu que encontrassem um novo guia, já que Mussa tinha quebrado sua promessa.” Disse a eles: “Para encontrar orientação verdadeira, é necessário um deus e eu fornecerei um a vocês.” Então, coletou todas as joias de ouro deles e as derreteu. Durante a fundição jogou um punhado de pó, agindo como um mago para impressionar os ignorantes. Do metal fundido, ele esculpiu um bezerro de ouro. Era oco e quando o vento passava através dele, produzia um som.”

Era como se tivessem tido sucesso em fazerem um deus vivo. O irmão de Mussa, Harun, tinha ficado com medo de enfrentar o povo, mas quando viu o ídolo percebeu que grave pecado estava sendo cometido, então, ele se manifestou. Lembrou ao povo que adorasse somente a Allah e alertou das graves consequências de suas açõe. Aqueles que permanecerem fiéis à crença no Allah Único se separaram dos idólatras. Quando Mussa retornou ao seu povo os viu cantando e dançando ao redor do bezerro de ouro ficou furioso.

 “Disse-lhe (Allah): Em verdade, em tua ausência, quisemos tentar o teu povo, e o samaritano logrou desviá-los. Mussa, encolerizado e penalizado, retornou ao seu povo, dizendo: Ó povo meu, acaso vosso Senhor não vos fez uma digna promessa? Porventura o tempo vos pareceu demasiado longo? Ou quisestes que vos açoitasse a abominação do vosso Senhor, e por isso quebrastes a promessa que me fizestes?” (Alcorão 20:85-86)

Mussa se voltou para seu irmão Harun; estava zangado e o agarrou pela barba, ao mesmo tempo puxou Harun em sua direção, pela cabeça. Gritou com seu irmão exigindo que explicasse por que desobedeceram as instruções que lhe tinha dado e como tinha permitido As Samiri enganar os filhos de Israel. Harun explicou que o povo não o ouviu e estava prestes a matá-lo. Apelou a Mussa para não deixar os idólatras separá-los. Harun não era tão forte e vigoroso quanto seu irmão e temeu não ser capaz de controlar os filhos de Israel e, então, esperou o retorno de seu irmão Mussa.

A promessa de Allah é verdadeira e Sua punição foi rápida. Mussa confrontou As Samiri e o enviou para o exílio. (Leia: Alcorão 20:97)

 “E de quando Mussa disse ao seu povo: Ó povo meu, por certo que vos condenastes, ao adorardes o bezerro. Voltai, portanto, contritos, penitenciando-vos para o vosso Criador, e imolai-vos mutuamente. Isso será preferível, aos olhos do vosso Criador. Ele vos absolverá, porque é o Remissório, o Misericordioso.” (Alcorão 2:54)

O perdão de Allah

Allah é misericordioso e perdoador. Depois de os filhos de Israel terem se purificado e matado os idólatras entre eles, Allah aceitou seu arrependimento. Mesmo após sua beligerância e teimosia contínua, os filhos de Israel mais uma vez sentiram o favor de Allah sobre eles.

Mussa então escolheu 70 homens dentre os anciões mais devotos dos filhos de Israel. Voltou com eles ao Monte Tur. Era uma delegação que pretendia se desculpar a Allah por seu comportamento. Ficaram para trás enquanto Mussa entrou em uma nuvem baixa para falar com Allah. Quando retornou a eles, ao invés de estarem arrependidos os anciões informaram a Mussa que não o seguiriam até que vissem Allah com seus próprios olhos.

O solo tremeu e os setenta homens foram atingidos por um raio. Caíram ao chão mortos. Mussa ficou atônito. Imediatamente pensou o que diria aos filhos de Israel. Aqueles setenta homens eram os melhores do povo; Mussa sentiu que agora os filhos de Israel não tinham esperança e voltou-se para Allah.

“Ó Senhor meu, quisesses Tu, tê-los-ias exterminado antes, juntamente comigo! Porventura nos exterminarias pelo que cometeram os néscios dentre nós? Isto não é mais do que uma prova Tua, com a qual desvias quem faz isso, e encaminhas quem Te apraz; Tu és nosso Protetor. Perdoa-nos e apieda-Te de nós, porque Tu és o mais equânime dos indulgentes! Concede-nos uma graça, tanto neste mundo como no outro, porque a Ti nos voltamos contritos. Disse: Com Meu castigo açoito quem quero e Minha clemência abrange tudo, e a concederei aos tementes (a Allah) que pagam o zakat, e crêem nos Nossos versículos.” (Alcorão 7: 155-157)

Fonte: História dos Profeta, Ibn Kathir e Islam Religion

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