Casamento Misiyar

Casamento Misiyar
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Pergunta: O Casamento Misyar foi mencionado em seu website. O que é este casamento? É halaal ou haram?


Resposta:

Todos os louvores são para Allah.

Em primeiro lugar:

Misyaar é o casamento  onde um homem faz um contrato  (de casamento) de acordo com a shariah  com uma mulher, atendendo às condições do casamento, mas no qual a mulher desiste de alguns de seus direitos, tais como acomodação, manutenção ou do marido ter que passar a noite com ela.

Os motivos que levaram ao surgimento deste tipo de casamento são muitos, tais como:

  1. Aumento do número de mulheres solteiras que são incapazes de se casar, porque os  jovens estão cada vez mais adiando o casamento devido ao alto custo dos dotes e as despesas de casamento, ou porque há uma alta taxa de divórcio. Em tais circunstâncias, algumas mulheres vão concordar em ser a segunda ou terceira esposa e desistirão de alguns dos seus direitos.
  2. Algumas mulheres precisam ficar na casa de suas famílias, ou porque eles são os únicos a cuidar daqueles membros ou porque a mulher tem uma deficiência e sua família não quer que o marido seja sobrecarregado com algo que ele não pode suportar, e ele permanece em contato com ela sem ter que colocar um fardo muito grande sobre si mesmo ou porque ela tem filhos e não pode mudar-se com eles para a casa de seu marido, e por outras razões.
  3. Alguns homens casados querem manter a castidade de algumas mulheres, porque eles precisam disso ou porque  precisam de variedade e prazer halaal, sem que afete a primeira esposa e seus filhos.
  4. Em alguns casos, o marido pode querer ocultar o seu segundo casamento de sua primeira esposa, por medo das consequências que podem resultar e afetar seu relacionamento.
  5. O homem viaja frequentemente a um determinado lugar e lá permanece por longos períodos. Sem dúvida, ficar lá com uma esposa é mais seguro do que não fazê-lo.

Estas são as razões mais importantes para o surgimento desse tipo de casamento.

Em segundo lugar:

Os eruditos diferem quanto ao parecer sobre este tipo de casamento, e há várias opiniões, que abrangem desde o ponto de vista  de que é permitido,  de que é permitido, mas makrooh ou que não é permitido. Aqui devemos ressaltar várias coisas.

  1. Nenhum dos eruditos disseram que este tipo de casamento é inválido ou que não é correto;  ao contrário, eles indeferiram-no por causa das consequências adversas para a mulher, pois é degradante para ela e porque afeta a sociedade; pessoas de má fé tiram vantagem deste tipo de contrato, e a mulher poderia alegar que um simples namorado é seu  marido. Esse tipo de contrato também afeta as crianças cuja educação será afetada pela ausência do pai.
  2. Alguns dos que disseram que era permissível se retrataram dessa visão. Dentre os eruditos mais proeminentes que disseram que era permissível estão Shaykh ‘Abd al-‘Aziz ibn Baaz e Shaykh’ Abd al-‘Aziz Aal al-Shaykh; e entre os eruditos mais proeminentes que disseram que era permissível e depois se retrataram dessa visão está Shaykh al-‘Uthaymin;  dentre os mais proeminentes  eruditos que disseram que não é permitido de jeito nenhum, estava o Shaykh al-Albani
  1. Aqueles que disseram que é permissível não disseram nada sobre prazo definido  para o término do contrato, tal como no caso do mut’ah¹ E não disseram nada sobre 
    ser permissível sem um wali (tutor), porque o casamento sem  wali é inválido. E eles não disseram que o contrato de casamento pode ser feito sem testemunhas ou sem ser anunciado, ao contrário, é essencial  que um dos dois seja feito.

Em terceiro lugar:

Parecer dos eruditos em relação a este tipo de casamento:

  1. Shaykh Ibn Baaz (que Allah tenha misericórdia dele) foi questionado sobre o casamento Misyaar:

    Esse tipo de casamento é aquele onde o homem se casa com uma segunda, terceira ou quarta esposa, e a esposa está em uma situação que a obriga  a ficar com seus pais ou um deles em sua própria casa, e que o marido vai até ela em vários momentos dependendo das circunstâncias de ambos. Qual é o parecer islâmico sobre este tipo de casamento?

Ele respondeu:

Não há nada de errado com isso, se o contrato de casamento preenche todas as condições estabelecidas pela  Shari’ah, que é a presença do wali e o consentimento de ambos os parceiros, bem como a presença de duas testemunhas de bom caráter para a elaboração do contrato, e ambos os parceiros, sendo livre de quaisquer impedimentos, por causa do significado geral das palavras do Profeta Muhammad ( sallallaahu ‘alayhi wa sallam): “As condições que são mais dignas de serem cumpridas são aquelas por meio das quais a intimidade torna-se admissível para vocês “e “Os muçulmanos estão ligados pelas suas condições”. Se os parceiros concordam que a mulher vai ficar com sua família ou que a sua parte do tempo com o marido vai ser durante o dia e não durante a noite, ou em certos dias ou algumas noites, não há nada de errado com isso, desde que o casamento seja anunciado e não seja escondido. Fim de citação.

Fataawa Ulama’ al-Balad al-Haraam (p. 450, 451) e Jaridah al-Jazirah assunto 8768, Monday 18 Jumaada al-Oola 1417 AH.

No entanto, alguns alunos do Shaykh disseram  que depois  ele se retratou da visão de que é permissível, mas não conseguimos encontrar nada por escrito para provar isso.

  1. Shaykh ‘Abd al-‘Aziz Aal al-Shaykh (que  Allah o preserve)  foi perguntado:

Há um burburinho sobre o misyaar ser haram ou halaal. Gostaríamos de uma declaração definitiva sobre este assunto do senhor, com uma descrição das suas condições e obrigações, se for  permissível.

Ele respondeu:

As condições do casamento são de que os dois parceiros devem ser identificados e  darem seu consentimento , e deve haver um wali (tutor) e duas testemunhas. Se as condições forem atendidas, o casamento anunciado e  tanto o marido, a esposa ou seus tutores não concordarem em escondê-lo, e ele oferecer uma walimah² ou festa de casamento, então esse casamento é válido, e você pode chamá-lo do que quiser depois disso. Fim de citação.

Jaridah al-Jazirah, Friday 15 Rabi’ al-Thaani 1422 AH,  assunto n° 10508.

  1. Shaykh al-Albani foi questionado sobre o casamento Misyaar e ele o indeferiu por duas razões:

(i)

Que o propósito do casamento é o repouso, como  Allah diz (interpretação do significado): “ Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos “ [al-Room 30:21].

(ii)

Pode ser decretado que o marido tenha filhos com essa mulher, mas porque está longe dela e raramente vem a ela, isso se refletirá negativamente na criação e atitude de seus filhos.

Veja: Ahkaam al-Ta’addud fi Daw’ al-Kitaab wa’l-Sunnah (p. 28, 29)

  1. Shaykh Ibn ‘Uthaymin (que Allah tenha misericórdia dele) costumava dizer que era permissível, então deixou de dizê-lo por causa dos efeitos negativos,  já que este tipo de contrato era mal aplicado por alguns malfeitores.

Finalmente, o que nós pensamos é:

Que se o casamento Misyaar preenche as condições de um casamento válido, ou seja, a proposta e aceitação, o consentimento do wali e testemunhas ou o anúncio do casamento, então é um contrato de casamento válido, e é bom para algumas categorias de homens e  para as mulheres cuja circunstâncias exigem este tipo de casamento. Mas alguns que têm o comprometimento religioso fraco podem tirar vantagem disso, portanto, esta permissibilidade não deve ser descrita como de aplicação geral em um fatwa, ao invés disso a situação de cada casal deve ser examinada e, se esse tipo de casamento for bom para eles então deve ser permitido, caso contrário, eles não devem ser autorizados a fazê-lo. Isso é para evitar o casamento por uma questão de mero prazer, perdendo os outros benefícios do casamento, e para prevenir o casamento daqueles cuja união podemos ter certeza de que  é provável o seu fracasso e no qual a mulher será negligenciada, tal como aquele que ficará longe de sua esposa por muitos meses, e a deixará sozinha em seu próprio apartamento assistindo TV e entrando em salas de bate papo e na internet. De que outra forma alguém tão vulnerável passaria seu tempo?  Situação diferente da de quem vive com sua família ou filhos e tem comprometimento religioso suficiente, obediência, castidade e modéstia para ajudá-la a ser paciente durante a ausência de seu marido.

E Allah sabe mais.

fonte: http://islamqa.info/en/ 

[i]Notas da Tradutora:

[i]  [i]Mut’ah- Casamento com prazo de validade, ou seja, com data pré determinada para seu fim. Este tipo de casamento, geralmente praticado por Shiitas,  foi abolido pelo Profeta Muhammad ( sallallaahu ‘alayhi wa sallam), como mostra o hadith:

Sabra Juhanni relatou: O Mensageiro de Allah  ?  permitiu o casamento temporário para nós. Então, eu e outra pessoa saímos e vimos uma mulher dos Bana ‘Amir, que era uma jovem de pescoço comprido como a de um camelo fêmea. Nós nos apresentamos para ela (para a contrair  casamento temporário), ao que ela disse: O que você me daria de dote? Eu disse: Minha capa. E meu companheiro também disse: Minha capa. E a capa do meu companheiro era superior à minha, mas eu era mais jovem do que ele. Então, quando ela olhou para a capa do meu companheiro ela gostou, e quando ela  olhou para mim eu pareci mais atraente para ela. Ela então disse: Bem, você e sua capa são suficientes para mim. Fiquei com ela por três noites, e, em seguida, o Mensageiro de Allah ? disse: Quem  tem qualquer mulher com quem tenha contraído  casamento temporário, deixe-a ir.
Em outra versão foi dito: “ e eu não saí deste casamento (mut’ah) até que o Mensageiro de Allah ? o proibiu”.

Outro hadith, do mesmo Narrador, diz:

Sabra al-Juhani informou sob a autoridade de seu pai que, enquanto ele estava com Mensageiro de Allah ?, que ele disse:
Ó povo, eu tinha permitido que o casamento temporário com as mulheres, mas  Allah proibiu-o (agora) até o Dia da Ressurreição. Então, quem tem qualquer  mulher com este tipo de contrato de casamento, deve deixá-la ir, e não tomar de volta o que lhes deu (como dote).

² Walimah- reunião de casamento oferecidos aos convidados após a celebração da cerimônia nubente, geralmente acompanhada de comida, ao que muitos podem  também chamar walimah de banquete de casamento, no entanto a origem da palavra em árabe, que é awlam,  nos remete a reunião, no sentido de juntar os convidados.


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