Definição de Crença

Definição de Crença
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Para a língua portuguesa, “crença” é simplesmente o reconhecimento de que algo é certo. Assim, é comum que nos perguntem: “Crês que Deus existe?” e a resposta pode ser um “Sim”. A mesma pessoa pode, então, perguntar-te: “Sua fé em Deus tem alguma influência ou ramificação em sua vida, suas ações e seus objetivos?” Ante essa pergunta,


a mesma pessoa que disse crer em Deus poderá responder: “Não”.  Diante desta situação tão comum, dever-se-ia fazer a seguinte pergunta: esse tipo de fé é equivalente ao que o Islam quer dizer com, por exemplo, “fé em Allah”?

A base de nosso Islam começa com o que está em nosso coração e nossa fé. Assim, o Islam ressalta o significado do verbo “crer”, como trataremos mais adiante, neste mesmo capítulo. Sem dúvidas, ao mesmo tempo, o Islam também destaca o que deveria ser a “fé”. A fé, desde uma perspectiva islâmica, não pode ser algo que a pessoa tenha em seu coração, mas que não influencie em nada sua vida e conduta. Ao contrário, a fé no coração deveria ser a força que impulsiona tudo o que a pessoa faz. Uma fé verdadeira e eficaz nunca permanece num universo abstrato, senão que sua influência se manifesta a nível prático, no cotidiano. Tomemos um exemplo simples: a questão de enganar e roubar está diretamente relacionada com o sistema integral da fé. Se uma pessoa crê que estes atos são moralmente incorretos e que existe um Deus justo e todo-poderoso, ante Quem deverá prestar contas de seus atos, seguramente, abster-se-á de praticá-los. Mas, se uma pessoa não crê nas influências eternas de seus atos ou no Dia do Juízo, seu fator de decisão girará somente em torno das possibilidades que poderão justificar algum tipo de castigo, ou seja, ela poderá se prender em uma armadilha.

De fato, a verdadeira fé é muito mais que fazer com que a pessoa se dê conta das influências negativas ou positivas de um ato. À medida que uma pessoa desenvolve sua fé fortalece suas crenças, sua fé se molda de acordo com a forma com que ela observa as coisas. Seu amor ou ódio por algo estão determinados pela sua crença naquilo. Por exemplo, quando reconhece que Allah ama algo, percebe que aquilo deve ser maravilhoso e merecedor de seu amor. Pelo contrário, se algo não agrada a Allah, a pessoa admite que essa coisa possui características que merecem sua repulsa.

Um exemplo é o ato de fumar. Alguém pode crer que fumar é prejudicial e danoso aceitando como certos os fatos que provam que fumar é prejudicial. Entretanto continua fumando e não deixa que aquilo que reconhece como certo guie suas ações. Em outras palavras, não se submete à verdade, nem tampouco implementa o que esta dita. Seu conhecimento fatual sobre o ato de fumar não chegou a seu coração de tal maneira que desenvolva uma aversão pelo tabaco devido a seus males. Portanto, seu reconhecimento dos fatos não é o mesmo que ter “fé”, ou, dito em termos qurânicos, “imaan”. O imaan implica ter a vontade de se submeter e promulgar o que é reconhecido como certo. No caso da verdadeira fé, ou imaan, se é forte ou sã, nesse momento, conseguirá alcançar a recusa, em seu coração, desse ato que julga incorreto ou prejudicial. Isso fará com que a pessoa não deseje cometer esse ato prejudicial. Ao mesmo tempo, colocará em seu coração o amor por todas as boas ações. Allah disse:

“… Porém, Deus vos inspirou o amor pela fé e adornou com ela vossos corações e vos fez repudiar a incredulidade, a impiedade e a rebeldia. Tais são os sensatos.” (49: 7)

Portanto, essa fé irá reger sua vida e o guiará ao que deve ser feito. Sem dúvidas, se sua fé é débil e se encontra superada por outras forças presentes em seu coração, provavelmente não terá efeito.

Então, a verdadeira fé significa que a pessoa atua de acordo com tal fé. Por exemplo, quando uma pessoa diz que crê nos anjos, significa que sabe que eles estão presentes e que realmente estão registrando todos os seus atos. Isso o afeta de tal maneira que não cometerá aqueles atos que não quer que os anjos vejam e registrem.

Assim, um estudo profundo do Qur’an e da Sunnah mostra que o imaan tem certos componentes. Esses componentes foram resumidos pelos primeiros sábios com as palavras “o imaan é a palavra e a ação”. A palavra aqui se refere à palavra do coração (afirmação) e a palavra da boca (verbalização). A ação inclui tanto as ações do coração (vontade de se submeter, amor, etc) e as ações do corpo (oração, jejum, etc). (Cf., Ahmad ibn Taimiyah, Maumu Fatawaa Shaij al-Islaam ibn Taimiah  (compilado por Abdul Rahmaan Qaasim e seu filho Muhammad, não há informação disponível da publicação), vol. 7, p. 672.)

Por razões de clareza, ao longo do tempo, estes componentes se dividiram nos seguintes três itens essenciais do imaan, que também foram mencionados por muitos sábios: (1) fé no coração; (2) verbalização; (3) realização de ações com as partes físicas do corpo.

Definitivamente, a fé, num sentido de se crer verdadeira e definitivamente em algo, deveria dirigir a uma correspondente submissão àquilo em que se crê. Do contrário, não é mais que uma aceitação de um fato, porém não constitui o conceito islâmico de imaan. Nesta linha, Ibn Uthaimin escreveu o seguinte:

“O imaan é a afirmação que requer aceitação e submissão. Se uma pessoa crê em algo sem aceitar nem se submeter, não é imaan. A evidência disso é que os árabes politeístas criam na existência de Allah como o Criador, Mantenedor, Quem dava a vida e a morte e Gestor de todos os assuntos do universo. Além disso, um deles aceitou o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) como Mensageiro, mas não era um crente. Essa pessoa era Abu Talib, o tio do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele)… entretanto, isso [fé no Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele)] de nada lhe servirá se não for aceito e não se submeter ao que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele) trouxe.” (Muhammad ibn Uthaimin,  Sharh Hadith Jibril Alaihi as-Salaam (Dar al-Thuraya, 1415 A.H.), pp. 4-5)


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