A Grandeza de Granada – Andaluzia

A Grandeza de Granada – Andaluzia
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Quando os muçulmanos (árabes e berberes) chegaram à Espanha (Andaluzia), no início do século VIII, pensaram ter descoberto o paraíso na terra. A água, que era um luxo para eles, era encontrada em abundância nos picos nevados das montanhas. Por uma série de canais intrincados, eles a transportaram para os terrenos dos palácios e planícies baixas. Ainda hoje, em Granada, vislumbra-se o paraíso (assim descrito por muitos visitantes) na majestade do Palácio de Alhambra e nos adjacentes Jardins Generalife (Janna Al-Rafia’a, o Jardim do Arquiteto).


Pequenos riachos levam água para várias fontes e lagoas, correndo por uma escada de pedra. Observa-se e ouve-se água jorrando, sob as coníferas, rosas, lírios, jasmins com grandes exibições de cores e formas. Além do luxo do próprio Palácio, há os pátios sombreados por uma variedade de árvores exóticas e refrescados por fontes e canais de água subterrâneos.

Por toda parte, sente-se a presença de Allah, Todo-Poderoso, pois há versículos do Alcorão inscritos nas paredes, sendo o mais proeminente e onipresente: “Wa la ghalib illa Allah” (Não há vencedor senão Allah).

Ao caminhar por Alhambra e pelos Jardins, absorve-se uma atmosfera do passado e começa-se a experimentar um enorme sentimento de orgulho e admiração pela glória que foi o Islam. Mas, enquanto caminhávamos pelo palácio, o guia turístico apontou para o “Salão do Embaixador”, onde o governante muçulmano Abu Abdallah (“Boabdil”, como o guia se referia) havia assinado o tratado em 25 de novembro de 1491 para a eventual rendição de Granada, em janeiro de 1492 ao rei católico Fernando e à rainha Isabel. Lembrei-me da cena dolorosa sobre a qual li há algum tempo, quando Abu Abdallah derramou lágrimas e gritou: “Allahu Akbar”, sua mãe disse a ele: “Chore como uma mulher por um reino perdido do qual tu não pudeste defender como um homem”. Assim, sente-se a dor de um fim inglório para um passado glorioso, intensificado ainda mais pelo conhecimento de um mundo islâmico atualmente dividido e empobrecido, sujeito à hegemonia ocidental quase desde as Cruzadas.

Existem inúmeros outros lembretes do Islam histórico em Granada. Vários palácios menores e o bairro histórico de Albaican (o bairro muçulmano, onde ainda vivem alguns muçulmanos e onde a antiga mesquita se ergue como Igreja de El-Salvador). Muitas igrejas cujos telhados eram decorados com cúpulas, cruzes e campanários, em vez do antigo crescente e do Adhan do Muezzin, revelavam claramente seu antigo status. Lá está a Catedral Gótica, que já foi a Grande Mesquita de Granada e onde estão enterrados os dois monarcas católicos, Fernando e Isabel. Ao visitar a Catedral, vi uma infinidade de estátuas e pinturas de ícones católicos, lembrando-me de pelo menos uma das razões da divisão protestante do século XVI no cristianismo.

Uma pintura/escultura gigante que cobria uma grande parede era muito dolorosa de absorver. Mostrava um guerreiro a cavalo e um homem morto com o pescoço esmagado, deitado sob as patas do cavalo. O guia explicou: “É Santiago e seu cavalo, matando um muçulmano”. Quando perguntei mais, ele disse: “É o apóstolo Santiago que ajudou na vitória cristã sobre o Islam”. Então, ressaltei a mensagem de ódio implícita, ele ficou um pouco surpreso e perguntou se eu era muçulmano, e quando afirmei, ele respondeu se desculpando: “bem, é apenas uma pintura”. Desde aquela experiência, aprendi um pouco sobre a lenda de São Tiago (“Santiago” em espanhol). Sob contínua infiltração de guerreiros cristãos de Leon (norte da Espanha), causando destruição e insegurança nas províncias muçulmanas vizinhas, o comandante muçulmano, Ibn Abi Amir (também conhecido como “Al-Mansur bi Allah”, que significa “vitorioso pela graça de Allah”; e “Almanzor” no Ocidente), decidiu combatê-los para trazer de volta a segurança e a paz a estas províncias. Ele capturou Leon no século X e suas tropas chegaram à Igreja de Santiago de Compostela. As reivindicações cristãs sobre a grande destruição causada pelo exército de Almansur, incluindo a demolição de St. James, devem ser tomadas com grande cautela, pois nem o ensinamento islâmico que proíbe destruir vidas e matar inocentes, nem o bom caráter deste califa permitem tal brutalidade. Ao contrário, Al-Mansur é conhecido por ter preservado o santuário do apóstolo cristão São Tiago naquela estrutura. Mais tarde, com a perda de terreno dos muçulmanos, o mito de Santiago foi cultivado, e Santiago “Matamoros” (“Santiago matador de mouros”) ficou conhecido como a inspiração para a vitória cristã; tornando-se assim o santo padroeiro da Espanha.

Conclusão

A Espanha contemporânea promove vigorosamente Alhambra e outros monumentos de Al-Andalus como principais atrações turísticas. No entanto, os promotores, incluindo os guias turísticos, não chegam a apontar que estes são legados de quase oito séculos de presença islâmica na Espanha, durante os quais plantaram as raízes do Renascimento europeu através de uma transferência de conhecimento sem paralelo em quase todos os campos conhecidos. Em outras palavras, enquanto a Espanha e o Ocidente estão felizes em herdar e se beneficiar do legado da Espanha islâmica (com sua própria assimilação, com certeza, do reservatório de conhecimento grego redescoberto), há a relutância histórica em reconhecer como esse legado contribuiu para o despertar da Europa. O viajante americano Washington Irving observou esse paradoxo quando visitou a Espanha no início do século XVIII. Os espanhóis, observou ele, consideravam os muçulmanos apenas como “invasores e usurpadores”; e isso ainda parece ser o caso hoje.

Seguindo a nova liberdade de religião que foi adotada recentemente na Espanha, o Islam foi oficialmente aceito como religião em 1989. No entanto, ainda há ocasiões em que o fanatismo e o racismo ressurgem.

De acordo com informações disponíveis na Universidade Islâmica de Córdoba, há agora cerca de meio milhão de muçulmanos vivendo na Espanha, dos quais apenas um quinto são cidadãos, o restante é composto por migrantes. Dos cidadãos, cerca de vinte mil são convertidos, os demais são naturalizados. Os novos muçulmanos vivem em várias regiões da Espanha, embora a maioria está concentrada na região da Andaluzia. Existem hoje cerca de duzentas mesquitas na Espanha, cinquenta delas na região da Andaluzia. Ao mesmo tempo, é claro, havia mais de 1.600 mesquitas só em Córdoba!

Por: Dr. Ghazanfar – um residente dos EUA, nascido na Índia pré-particionada, migrou para o Paquistão em 1947 e mudou-se para os EUA como estudante em 1958; tendo atuado como professor e presidente do Departamento de Economia da Universidade de Idaho, Moscou, Idaho 83843 (EUA). Atualmente é professor emérito (aposentado, 2002)

Fonte: Spain’s Islamic Legacy
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