Tradições Acadêmicas das Escolas em Bagdá: A Mustansiria como modelo

Tradições Acadêmicas das Escolas em Bagdá: A Mustansiria como modelo
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As escolas de Bagdá são um tema desafiador, que envolve várias diferentes facetas da história. Entre as quais destacamos os a cartografia para identificar a localização de cada escola, estudos biográficos para identificar os seus professores, pregadores, juristas e administradores, juntamente com sua cronologia. Como tal, as escolas foram – e continuam a ser – indissoluvelmente ligadas a numerosos aspectos da vida [1]. A continuidade cultural nos convida a olhar mais longe nas tradições acadêmicas das escolas de Bagdá. Árabes e muçulmanos se dedicavam ao conhecimento desde cedo, e durante todas as fases de suas vidas. Acadêmicos e estudantes eram agraciados com conhecimento incomparável, na mesma condição [2].


Quando o Islam foi fundado, foi dada maior ênfase à importância do conhecimento. O Alcorão, direcionava as pessoas em uma terminologia que elas compreendiam, fazendo referência a muito do que conheciam. O Alcorão encorajou as pessoas a aprender a escrever. Inúmeras menções são feitas à escrita, às suas regras e instrumentos, à aprendizagem, ao conhecimento e intelecto. Ele encorajou as pessoas a usar seu intelecto para se aperfeiçoar. Ele elogiou aqueles que detinham estas características. [3]

A ênfase à aprendizagem da leitura e escrita começou durante o tempo do Profeta Muhammad. Ele prestou a devida atenção à busca do conhecimento e considerava uma questão vital. Os muçulmanos o tomaram como modelo. Ele convidou as pessoas ao conhecimento, e participou aplicando a si mesmo. A busca do conhecimento foi valorizada a tal ponto que o ensino foi aceito como uma forma de resgate para libertar prisioneiros de guerra. [4]

O Islam era diferente das religiões precedentes; ele veio para organizar as coisas deste mundo através do trabalho para esta vida e para a próxima. Árabes e muçulmanos, por meio da educação islâmica e mundana em conjunto, com o objetivo de 
 aplicar o versículo do Alcorão: “Mas procura, com aquilo com que Allah te tem agraciado, a morada do Outro Mundo; não te esqueças da tua porção neste mundo…” [5] A concretização deste objetivo motivou as pessoas a aprofundar em muitos campos. Eles encorajaram as pessoas a aprender, desenvolveram e mantiveram as escolas que ensinavam Ciências Religiosas e a Sharia (Lei Islâmica). [6]

Com esta prioridade crescente e experiência progressiva, as funcionalidades das ciências começaram a tomar forma, e suas metodologias começaram a ser definidas. Cada campo de estudo passou a ter uma metodologia definida por suas ferramentas e foi formulado um currículo baseado no tema essencial iminente. Durante a primeira fase de elaboração da base metodológica para a investigação científica, as pessoas revisaram livros sobre narrações proféticas e compilaram trabalhos completos. Os quais mais tarde vieram a ser conhecido como as compilações autênticas (Sahih). [7]

Com a expansão do domínio islâmico, surgiu a necessidade de desenvolver a sociedade, expandir horizontes intelectuais, e aumentar a capital científica. As pessoas se deram conta de que precisavam estudar novas ciências, voltando sua atenção para áreas como a linguística, história, geografia, química, física, medicina, engenharia e astronomia. [8]

Devido a esta cultura abrangente, os muçulmanos foram capazes de construir uma enorme civilização, contribuindo de maneira incomparável com a herança intelectual e científica do mundo. Além disso, excederam os limites da imaginação em termos de quantidade e abrangência. [9]

Essa demanda intensa de conhecimento e aprendizagem criou a necessidade de escolas. As mesquitas funcionaram como as primeiras escolas. Surgiram então escolas Alcorânicas adjacentes (katātīb). Este movimento de educação foi iniciado por outras instituições, tais como associações da elite dominante (majalis), os seus palácios, as casas de conhecimento (dur al-‘ilm), livrarias e bibliotecas. Cada um desses estabelecimentos desempenhou o seu papel, mas não há espaço para entrar em mais detalhes aqui. [10]

Devido ao aumento do número destas casas, o papel do professor ganhou destaque, e a importância da educação tornou-se aparente. Citando al-Mawardi, surgiu a profissão de ensino “para a vida” [11]. Estudiosos árabes e muçulmanos disseminaram a base da ciência da educação, seus procedimentos, preceitos e regras. Eles descreveram os princípios da educação como o estágio primário de um estudo progressivo do conhecimento. Eles esclareceram questões relacionadas aos professores, sua seleção e deveres, métodos de ensino, à educação gratuita, às relações professor-pais, no ensino misto, repreensões, fins de semana, e até mesmo a programas estrangeiros. [12]

O ensino tradicional acontecia em locais que não eram destinados a esse fim. Isto até o aumento do conhecimento e da sua complexidade, garantindo o crescimento do número de subdisciplinas. Daí surgiu a necessidade de um lugar específico para dedicar à cultura da ciência e sua disseminação. As escolas (Madaris) começaram a aparecer. No período abássida numerosas escolas foram fundadas, especialmente no Iraque. Bagdá, o coração do califado abássida, viabilizou a ciência e especialistas em o maior número. Livros de história, historiografia e biografias mencionam cerca de 30 escolas em somente em Bagdá antes do estabelecimento da Mustansiria. [13]

Talvez a mais antiga escola (madraça) no sentido técnico da palavra foi a Niẓāmia. Tal como confirmado mediante consenso das fontes históricas, foi construída pelo Seljuk ministro Nizam-ul-Mulk em 462H (1069EC). [14] A Niẓāmia teve suas etiquetas, formalidades e tradições, envolvendo acadêmicos, alunos, doações e acomodação para estudantes. Os avanços que ocorreram na Niẓāmia, especialmente nos métodos de ensino, foram resultado do esforço de Nizam-ul-Mulk em manter as escolas sob o controle do Estado. Esta condição continuou com as escolas criadas após seu reinado. Nizam-ul-Mulk teve o cuidado de assegurar uma remuneração para estudantes, professores e a manutenção das escolas. Ele aboliu mensalidades que tinham sido impostas anteriormente aos estudantes, transferindo a responsabilidade para o Estado.

Dr. Imad Abd al-Salam afirma: “Ligar o sistema de ensino ao estado durante esse período foi, na opinião de alguns que defendiam a liberdade da busca do conhecimento, uma grande catástrofe para os métodos educacionais adequados.” [15] Nesse sentido, Haji Khalifa (Katip Çelebi) menciona que os estudiosos da Transoxania se entristeceram com a notícia do surgimento de escolas livres da taxa de matrícula e que atribuía salários para professores e alunos em Bagdá. Eles disseram:

“Aqueles que buscavam conhecimento para a sua honra, e por sua própria integridade, eram altamente motivados e sinceros. Daí surgiram acadêmicos de alto calibre e conhecimento. No entanto, se ao conhecimento fosse adjudicado um salário, o degenerados e os preguiçosos se interessariam por ele.” [16]

No entanto, esta atitude não persistiu por muito tempo. A escola provou sua reputação com benefícios para ambos, aluno e professor. Alguns estudiosos até mesmo mudaram sua linha de pensamento para alcançar um cargo de professor. [17] O número de escolas em Bagdá aumentou depois da Niẓāmia. Ibn Jubayr, durante a sua visita em 580H (1184EC), contou 30 escolas. É citado seus dizeres:

“Havia cerca de 30 escolas, todas localizadas ao leste, todas magníficas de se ver. A maior e mais famosa é a Niẓāmia, encomendada por Nizam-ul-Mulk, e reformada em 504H (1110EC). Estas escolas possuem grandes dotes com propriedades enormes para fornecer financiamento aos seus juristas e professores, e bolsas para estudantes. Estas escolas e hospitais (Maristan-at) são motivo de grande honra e orgulho duradouro. Que Deus tenha misericórdia de quem as estabeleceu, e daqueles que mantiveram aquela boa tradição!” [18]

Toda esta evolução precedeu a fundação da Mustansiria e proporcionou-lhe um vasto repositório de tradições. Desde o seu início, o movimento da educação árabe-islâmica atuou no âmbito de tradições específicas. Essas tradições eram demarcadas pelas necessidades, circunstâncias e contexto histórico da sociedade naquele momento.

Estas eram as características e objetivos do movimento de educação, bem como da criação de escolas durante o período abássida; a idade de ouro da cultura e diversos sistemas intelectuais. Os califas abássidas desempenharam um papel mais importante nesse sentido. O autor de ‘al-nubdhah fi-l-Tarikh’ (Um Esboço Histórico) na história abássida escreve:

“Foi um estado abençoado, do qual emergiram estudiosos e juristas, e pelo qual especialistas foram credenciados para propagar os Hadith (uma coleção de tradições que contêm ditos do Profeta Muhammad, que, com relatos de sua vida diária (a Suna), constituem a maior fonte de orientação para os muçulmanos depois do Alcorão. De acordo com os desejos da sua elite, surgiu a literatura e os escritores.” [19]

Mesmo durante períodos de invasão externa e de fraqueza do califado, a maioria dos califas abássidas tinham um entusiasmo e amor quase obsessivo pelo conhecimento, sentimentos estes, que permearam as eras… Talvez a maior evidência disto seja a criação da Mustansiria. A Mustansiria foi escolhida como modelo, uma vez que nela se estabeleceram e tornaram-se eminentes as tradições acadêmicas. Isto em termos de ensino pedagógico e administrativo, bem como outras tradições.

A Fundação da Mustansiria

Concomitante com as invasões mongóis, a Mustansiria foi a primeira grande “universidade” Islâmica (jāmi’a) em Bagdá durante o período abássida final. Todas as quatro escolas de pensamento islâmico (madhahib) ensinaram dentro dela. Além do mais, foi a primeira universidade islâmica árabe preocupada com o estudo do Alcorão e Suna, da jurisprudência madhahib, da língua árabe, matemática, medicina, cuidados com a saúde e aptidão física. [20]

Foi nomeada Mustansiria em virtude do califa abássida al-Mustansir Billah, Mansur bin Muhammad al-Dhahir (588-640H/1192-1242EC), que ascendeu ao poder em 623H/1226EC. Os livros de história e estudos biográficos (tabaqat) concordam que ele foi uma personalidade eminente. Até seu avô, al-Nasir, o chamou de “o juiz” (al-qadhi) por o seu intelecto consistente. [21] 

Talvez a mais famosa de suas façanhas fosse o seu amor pelo conhecimento e pelos acadêmicos, junto com seu patronato a eles. Ele coroou esta devoção ao estabelecer a Mustansiria. Ele parecia tê-la construído não na busca de um legado duradouro, mas sim por amor genuíno pelo conhecimento e aprendizagem. Isto é evidenciado por suas frequentes visitas e supervisão de muitos de seus assuntos. [22]

Em frente ao palácio do califado a Mustansiria foi construída no lado leste de Bagdá, na margem do Tigre. Sua construção começou em 625H (1227EC), foi concluída em 630H (1232EC) e foi inaugurada em 631H (1233CE). [23] Os historiadores foram refinados ao descrever a elegância de sua construção; Sibt Ibn al-Jawzi (d. 654H/1256EC) disse: “Nunca no mundo estrutura como tal foi erguida, foi construída da forma mais elegante em termos de aparência, instalações, salas, ornamentos e número de juristas e doações”. [24] Ibn al-Tiqtaqa (d. 709H/1309EC) a descreve como sendo “maior do que se poderia descrever, sua fama basta como atestado”. [25] al-Arbali (d. 717H/1317EC) a descreve, dizendo: “foi bem construída, vasta em dimensões, proeminente na aparência, e incrivelmente bem planejada.” [26] Ibn Kathir (d. 774 H/1372EC) declara: “nunca antes escola como tal foi construída.” [27]

Cerimônia inaugural da Universidade Mustansiria

A inauguração das escolas envolvia cerimônias e tradições que demonstravam o comprometimento e responsabilidade dos califas com a aprendizagem. A cerimônia inaugural da Mustansiria foi elaborada de tal forma que ficou como exemplo para as escolas futuras.

Livros atuais de história apresentam descrições da inauguração da escola. Seu dia de inauguração foi “um espetáculo público”. Foi inaugurada após sua construção ser concluída em 5 de Rajab 631H (06 de abril de 1234EC). A inauguração contou com a presença do ministro Nasir-ud-Din Ibn-al-Naqid, bem como de burocratas, notáveis, administradores, juízes, pregadores, ascéticos, poetas, dignitários,
comerciantes eminentes, Sufis, sábios, professores de outras escolas e seus assistentes. A inauguração começou com a distribuição de túnicas ‘acadêmicas’ para os construtores, artesãos e seus associados, bem como para bibliotecários e seus assistentes. [28] O arquiteto, mestres artesãos, governantas e enfermeiros também foram propriamente vestidos e se instalaram em uma casa de convidados especiais anexada à escola. [29]

Como parte da cerimônia, uma grande festa foi preparada. Historiadores, incluindo Ibn al-Futi (d. 732H/1331EC), al-Dhahabi (d. 748H/1347EC), Ibn Kathir e al-Ghassani (d. 803H/1400EC) descrevem-na em pormenores. [30] Uma grande toalha foi espalhada por todo o pátio da escola e na casa de convidados especiais, com muitos tipos de comida e bebida, e inúmeros tipos de doces. Os juristas fizeram um ‘jantaram luxuoso’. [31] Ibn Kathir diz que a festa foi tão grande que depois que todos aqueles que participaram tinham comido, sobras foram levadas para as ruas de Bagdá, para as casas dos notáveis e do público. [32]

Depois disso, sessenta e dois estudantes foram escolhidos para cada escola de pensamento. Foram nomeados dois reitores e dois vice-reitores. [33] Os reitores foram:

• Muḥyi-dīn Abu-‘Abdallāh Muḥammad bin Yaḥya bin Faḍlān al-Shāfi’i (d. 631H/1233EC), e
• Rashīd-ud-dīn Abu-Ḥafṣ Umar bin Muḥammad al-Farghāni al-Ḥanafi (d. 632H/1234EC)

Cada um dos reitores vestia uma toga preta (jubbah), lenço índigo, e foram equipados com uma mula com selaria intrincada e kits de montagem completos. [34] Os dois vice-reitores eram:

• Jamāl-ud-dīn Abul-Faraj Yūsuf bin Abd-ur-Rahmān bin al-Jawzi al-Ḥanbali (d. 656H/1258EC) e
• Abul-Ḥasan ‘Ali al-Maghrabi, al-Māliki

Cada um dos vice-reitores estava vestido com uma camisa finamente tecida e um turbante longo bordado. [35] Muhyi-Din ibn al-Jawzi estava fora, por isso, seu filho, Jamal-ud-Din ‘Abd-ur-Rahman tomou seu lugar. [36] Ibn al-Jazari (d. 739H/1338EC) menciona que no dia da inauguração cada um dos 16 bolsistas foi vestido com uma toga simples e um capelo bordado. Cada jurista também foi vestido com camisa de mangas longas e capelo. [37] Ibn al-Futi menciona que como parte da inauguração os dois reitores subiram à distintas plataformas de ensino e ficaram de pé. [38]

Depois daquele dia, a escola foi dividida em quatro partes. A parte à direita da qibla foi dada aos Shāfi’īs. A segunda, à esquerda da qibla, foi dada aos Hanafis. A terceira, à direita de quem entra, foi dada aos Hanbalis. A quarta parte, à esquerda de quem entra, foi dada aos Malikis. [39] Os alojamentos e quartos foram então ocupados.

No dia da inauguração, poetas recitaram versos. Um deles incluiu Abul-Ma’āli al-Qasim bin Abul-Hadid al-Mada’ini:

Ninguém jamais viu uma estrutura tão grande
na Terra antes do reinado de Al-Mustansir 
ما مثل هذا الفلك العظيم لمبصر في الارض قبل اياله المستنصر
Esta é uma construção expressiva de seu status,
sua fundação feita por um homem puro
هذا بناء معرب عن قـــــــــــدره رفعت قواعده بفعل مطهـــــــــر
Na margem oriental, onde está
o Monte Sinai de todo grande orador.
بالجانب الشرقي بالشاطىء الذي هو طور سينا كل صاحب منبـر
ومنها:
ما حق دجلة ان تفوه بلفظــــــــه فهرت واي مساجل لم يقهـــــــــر
وضع الامام بها اساس بنائــــــه والمعوج بين مجمجم ومزمجــــر
قصرا ومدرسة لمن طلب الغنى اورام شنأ والعالم المتبحــــــــــــر
قد كانت الفقهاء قبل بنائهــــــــــا في كل قطر واحد لـــم يذكـــــــــر
فاليوم قد جمعت امور الدين فـي ارجائها وازيل عذرا المقصـــــر [40]

Um poema de autor desconhecido [41] foi recitado durante a inauguração. Foi apresentado ante al-Mustansir pelo ministro (diwan), no dia 20 de Rajab 631H/sexta-feira 21 de abril de 1234EC. Assim iniciava o referido poema:

Durmo sem me preocupar com nossos jovens,
deixo minha confiança em al-Mustansir , o rei
ابيت فلا اقيم علـــــى الصغـــــار وبالمستنصر الملك انتصـــــــاري

O poema também incluía estes versos:

Contruiste a Casa do Saber,
A Toca do Leão
Toda escola fica desbotada quando comparada a ela.
وقد انشأت دارالعلم قلنـــــــــــــــا عرين الليث جل عن الوجــــــــار
تضاءلت المدارس اذ رأتهـــــــــا وباتت بالمذلة والصغـــــــــــــــار

Doações da Mustansiria

A Educação era anteriormente ministrada em locais distintos; mesquitas, casas de acadêmicos e casas de conhecimento. Não incorrendo, portanto, despesas; não a ponto de justificar o cálculo das finanças do dia-a-dia.

O zelo das pessoas ricas e influentes pelo conhecimento aumentou de forma fascinante, isso os motivou a disseminar o conhecimento para as massas. Assim surgiu um novo conceito; doar dinheiro e terras. As doações eram tidas como meio para reter um recurso confiável. A fim de disseminar o conhecimento e a aprendizagem, estas doações financiavam cada casa de conhecimento durante toda a vida do benfeitor. Dr Ahmed Shalabi menciona que Al-Mamun era uma figura de liderança a este respeito; sua época foi uma idade de ouro para a cultura. Ele teve grande cuidado em atribuir provisões generosas para estudiosos, doações de rendimentos específicos. [42]

Este princípio continuou a se desenvolver, até que em dado momento, a fundação de um instituto ou estabelecimento cultural veio a implicar inerentemente em receber uma doação fixa para as suas despesas. [43] As doações de riquezas tornaram-se uma tradição firme das escolas, especialmente para aqueles que trabalhavam a serviço do conhecimento dentro de mesquitas. Isso foi aparente na fundação da Niẓāmia em Bagdá. Ibn al-Jawzi (d. 597H/1200EC) menciona nas crônicas de 462H/1069EC: “O governador Al-A’meed Abu-Nasr reuniu notáveis, o juiz supremo e testemunhas da Niẓāmia. O registros de doações para a escola (livros que a compõem, bem como terras, propriedade e um mercado construído no seu portão) foi lido diante deles, e diante dos filhos de Nizam-ul-Mulk, com as condições estabelecidas por ele.” [44]

As doações a escolas se tornaram tão grandes que o viajante Ibn-Jubayr, enquanto passando por Bagdá, disse: “Estas escolas – as escolas de Bagdá – têm grandes doações e propriedades protegidas e controladas pelos juristas e professores. Com isso, eles apoiam os estudantes e suas necessidades.” [45] Assim, as doações se tornaram uma tradição firme na fundação de escolas. Fontes confirmam que quando al-Mustansir construiu sua Mustansiria, ele alocou grandes doações.

No entanto, a maioria dos historiadores não teve oportunidade de ler os registros doação da Mustansiria, se limitando a dizer que eram extensas, apesar das descrições detalhadas de outros aspectos da escola. Al-Ghassani diz: “Ele alocou um doação majestosa”, [46] e al-Qaramani (d. 1019H/1610EC), afirma: “Nada tão grande e magnifico na terra foi construído com doações.” [47] O único historiador que descreveu as doações da Mustansiria em detalhes foi al-Dhahabi. Ele mencionou que havia visto uma cópia de seus registros de doação em cinco volumes. Ele disse que incluíam vários quarteirões e lojas em Bagdá, e vilas grandes e pequenas, totalizando um valor de 900 mil dinares. [48] Comentando sobre isso, ele diz: “Não há nenhuma doação no mundo que se aproxime de seu patrimônio, exceto o da mesquita de Damasco, embora a da Mustansiria é, possivelmente, mais extensa.” [49] Ele, então, listas as suas doações como segue: [i]

• Entre a suas doações na região de Dujail:

o Qasr Sumaika50, medindo 3700 jarībs.
o Al-Jamad51 e todos os seus assentamentos, uma área de 6400 jarībs.
o Al-Ajamah, toda ela, uma área de 5050 jarībs.
o Nahr al-Malik Barafta, toda ela, uma área de 5500 jarībs.
o O Distrito dos Beduínos, uma área de 390 jarībs.
o Qusitisha, uma área de mais de 3000 jarībs.
o Qaryat Yazeed, toda ela, uma área de 4180 jarībs.
o O Distrito de Tabsani, uma área de 8100 jarībs.
o Susta, uma área de 3000 jarībs ou mais.
o O Distrito de Arha’, uma área de 4000 jarībs.
o Al-Farrashah, uma área de 1000 jarībs.
o Qaryat al-Nahrayn, uma área de 1200 jarībs.
o Al-Khattabiyah, uma área de 4800 jarībs.
o O Distrito de Bizindeen, uma área de 6500 jarībs.
o Al-Shaddadiyah, uma área de 20250 jarībs.
o Hisn Baqia, uma área de 4800 jarībs.
o Furha Tiya, 6000 jarībs.
o Hisn Khorasan, 5900 jarībs, e um adicional de 7200 jarībs.

• No distrito de Nahr Isa:

o Qaryat al-Jadeedah, 2600 jarībs.
o Al-Qutniyah, 6400 jarībs.
o Al-Mansal, 5500 jarībs.
o Mibeesha, 2500 jarībs.
o Qaryat al-Deenaria, 4600 jarībs.
o Al-Nasiria, todo ele, 190.000 jarībs.

Al-Dhahabi continua:

“Os que vivem sem doações desta escola, tanto quanto eu sei, são cerca de quinhentas pessoas, professores e juniores. Ouvi dizer que o feno da doação é suficiente para o grupo, e a colheita dessas aldeias permanece com o arrendamento da terra [considerada] alheia. Certamente há justiça.” [52]

Al-Dhahabi também observa: “As doações da Mustansiria, em alguns anos, excederam setenta mil mithqáls de ouro. [ii] O mais próximo em tamanho e doações é a Mustansiria do Cairo.” Ele então delibera sobre isso, dizendo que o que chegou à Mustansiria em seu tempo foi muito menos do que um décimo disso.” [53]

O relato de Al-Dhahabi sobre o declínio das doações da Mustansiria sugere que grande parte delas foi tomada por intrusos estrangeiros durante aquele período. Isto é confirmado por Muhammad bin Shakir al-Kutubi (d. 764H/1362EC) nas crônicas de 684H, que descrevem o estado da Mustansiria. Foi dito a seus jurisconsultos: “Quem vai se contentar apenas com pão? Caso não se contentem… não temos nada além disso.” Ele narra um poema de Taqi-ud-Din Ali bin Abd-ul-Aziz al-Maghrabi al-Baghdadi (d. 684H/1285EC) que lamenta o estado da Mustansiria em 684H/1285EC. Lê-se [54]:

Que inconveniente Estado para a Senhora de todas as escolas,

Aqueles dentro dela [são um exemplo para ser seguido?].

Mustansiria, finamente trabalhada,

Você estava no seu auge.

Como você pode diminuir,

Depois de tanta grandeza e honra.

Tornaste-te uma farsa,

Falsificada, falsa.

Tuas palmas foram bombardeadas,

Até seus frutos macios não mais existirem
Nada permaneceu em tuas feridas,

Além de angústia e fibras secas.

Eu me recordo; um momento bom que passamos juntos,

Recordado pelos contadores de histórias de Bagdá.

Cada significado revela,

De um conto bonito, outro conto.

Oh, Senhora, tantos foram os teus visitantes,

Quão vazia é a sua cama desde aquela noite,

Quando multidões cercaram Al-Baqillani,

 Agora todos sobrevivem de pão (?).


Portão principal da Universidade Mustansiria

حاشا لــــــــست المدارس ومن بها يضرب المثـــــــــــلد
مستنصريــــة سبيكــــــــة قد كنت في عصر الصبــــــــا
تهون من بعـــــــــــد ذاك التعظيم والتشريـــــــــــــــــف
واليوم قد صرت بهـــرج مزيفـــــــــة تزييــــــــــــــــف
ما زال نخلك يرجـــــــــم حتى فني الرطب الجنــــــــــي
وما بقى في قراحـــــــــك غير الكرب والليـــــــــــــــــف
ذكرت بيتا ظريــــــــــــف من كان وكان البغـــــــــــــاددة
وكل معنى يـــــــــــبـــــدر من الظريف ظريــــــــــــــــف
أي ست ما اكثر زبونــــك ما اخلى فراشك من العشــــــي
ذي زحمة الباقلانــــــــــي وكلهـــــــــــــــــم برغيــــــــف
Como afirmado por Ibn al-Sa’i nas crônicas de 595H/1198EC, as doações dessas escolas foram de grande importância. Estas doações escolares e públicas foram atribuídas ao supremo juiz. [55]

Como uma ferramenta para o crescimento e desenvolvimento das suas capacidades, este precedente indicava claramente a atenção da sociedade para a escola como um método principal de salvaguardar a identidade espiritual e cultural específica da ummah. [56]

Sistemas Acadêmicos da Mustansiria

A Mustansiria foi “uma das mais grandiosas escolas de Bagdá, a cidade da paz”. [57] Desde a sua fundação, houve um sistema elaborado definindo suas divisões acadêmicas, professores, número de funcionários, de servidores administrativos e gerais, e suas atribuições em termos de salários e subsídios, monetários ou de outras formas. Esse sistema e essas divisões foram aplicados de acordo com as condições de seu benfeitor, al-Mustansir . [58]

A Mustansiria foi a primeira universidade no Iraque, e a primeira universidade islâmica combinar as quatro escolas de pensamento dentro de um edifício. [59] Além da magnitude de suas divisões acadêmicas, fornecia pensão completa, de forma que cada um de seus assuntos realizavam gestão elaborada e diversos serviços.

Divisões acadêmicas da Mustansiria

Entre as mais importantes divisões acadêmicas da Mustansiria estavam:

A Casa do Alcorão

Al-Mustansir determinou que sua escola contivesse a Casa do Alcorão, especificando o seguinte:

• Um recitador proficiente, [moralmente] adequado para o Alcorão.
• Um assistente para ajudá-lo em seus deveres, ensinar aos alunos o Alcorão.
• Um número de estudantes, e 30 crianças órfãs para aprender o Alcorão, com a ajuda do assistente.
• Ao recitador foi atribuído 2 dinares mensais de salário, 4 libras de pão e uma concha de ensopado por dia. [60]
• Aos alunos foi atribuída a mesma quantidade de ensopado, pão e salário, bem como aos órfãos – o mesmo que aos outros estudantes de jurisprudência. [61]

A Casa do Hadith

Suas condições incluíam:

• Um estudioso sênior (sheik) de Hadith, de status elevado na corrente de narração.
• Dois leitores (qari) e dez outras pessoas trabalhando no campo do hadith.
• Que narrações proféticas fossem lidas todos os sábados, segundas e quintas-feiras. [62]
• Ao estudioso sênior de hadith foi atribuído um salário de 3 dinares mensais, 6 libras de pão e 2 libras de carne por dia. [63]
• Àqueles que trabalham no campo do hadith foi atribuído a cada um o salário mensal de 2 dinares e 10 quilates, 4 libras de pão e uma concha de ensopado por dia. [64]

Uma condição estabelecida por al-Mustansir para a sua escola era de que incluísse um acadêmico sênior (sheik) de medicina. [65] Outras condições incluíam:

A Faculdade de Medicina

• Que houvesse um médico muçulmano proficiente. [66]
• Que ele empregasse dez muçulmanos no campo da medicina.
• Que o médico oferecesse tratamento para qualquer um que adoecesse enquanto sob os cuidados desse legado, e que desse ao paciente os medicamentos prescritos. [67]
• O salário e as despesas do médico seriam idênticos aos dos outros estudiosos. Estudantes de medicina seriam reembolsados exatamente como estudantes de hadith em termos de pão, ensopado e salários. [68]

Ibn al-Futi narra que esta escola médica foi construída dois anos depois da Mustansiria, e que entrou em funcionamento após a conclusão do īwān oposto à Mustansiria, e do Suffa em que o médico ia sentar, junto com seu grupo de praticantes e os pacientes.

Como estímulo para o florescimento dos estudos médicos em Bagdá, esta escola médica teve importância significativa. [69] A sua importância foi tal, que o próprio califa emitia uma assinatura nomeando o professor de medicina. Após a sua nomeação, lhe era então concedida a veste de ensino em uma cerimônia especial realizada na casa de ministério (dār al-wizārah). Esta cerimônia era assistida pelos oficiais superiores, administradores, juízes, notáveis, juristas e todos os professores de outras escolas. Sentado na plataforma de ensino, o professor apresentaria sua pesquisa aos presentes usando um lenço simbólico da escola em seu turbante. Este traje oficial só poderia ser usado enquanto ele mantivesse este cargo. [70]

Testemunho da importância desta Escola Médica, Ibn al-Futi descreve os exames dos médicos com a chegada do “médico Majd-ud-dīn Ibn al-Sabbagh al-Baghdādi em 688H (1289EC), com um decreto para examinar o médicos e farmacêuticos do Iraque. Quem quer que ele considerasse apto, ele aprova o seu trabalho, e quem ele considerasse inapto, ele substitua por outro a quem ele considerasse capaz da prática, proporcionando tratamento e preservação da saúde e do estado de espírito “.

Parece que esta Escola Médica não ensinou apenas o conhecimento teórico, a aplicação prática também foi incentivada. Os professores de medicina, mediante o desejo de que os alunos realizem aplicação prática, os levavam da escola para o hospital vizinho e encorajavam os estudantes a aplicar seus conhecimentos teóricos em pacientes do hospital. [71]

Campos adicionais

Como condicionado por seu benfeitor, os campos adicionais ministrados na escola incluíam gramática, literatura e ciência de direitos sucessórios. A Mustansiria teve um sheik de gramática e literatura árabe, mas ainda não havia local próprio ou escola para esses dois campos. Assim, eram lecionados na tribuna da Mustansiria. [72] O ensino da gramática estava sujeito às seguintes condições:

• Que a escola contasse com um estudioso sênior de gramática, trabalhando no campo da língua árabe.
• Que a ele fosse atribuído um salário de 3 dinares mensais, e dado diariamente 6 libras de pão, e 2 libras de carne, legumes e lenha. [73]

Além das divisões acadêmicas acima mencionadas, outros campos, como a ciência de direitos sucessórios, matemática e tudo o que se refere a estudos religiosos também foram lecionados na Mustansiria. No entanto, ao que parece, que não havia um local formal para ministrar estes campos. Alguns historiadores fazem referência à existência desses campos em seus currículos, e alguns, incluindo ciência de direitos sucessórios e matemática, foram mencionados como parte das condições de doações.

Al-Arbali fala da Mustansiria: “É [como] a Caaba para as pessoas, a qibla para o Islam… compreendendo coleções e estudo da poesia… distribuição de herança e legados, estudo da matemática e estudo das zonas [iii], estudo da medicina, benefícios dos animais e conservação da vitalidade, da saúde e solidez do corpo.” [74]

Ibn al-Futi afirma: “Al-Mustansir condicionou que houvesse alguém para ensinar matemática e ciência de direitos sucessórios.” [75] Ibn al-Jazari confirma isso, dizendo que al-Faraḍi – um dos juristas – tinha, segundo seu conhecimento, mais de 13 quilates de ouro. [76]

Juntamente com seus funcionários, salários e subsídios de alimentação, o precedente eram as divisões acadêmicas mais importantes dentro da Mustansiria. As provisões para todos os funcionários eram aumentadas durante o Ramadã. [77]

É também digno de nota que a Mustansiria tinha sua própria mesquita dedicada a realizar orações, com um Imam (líder de oração), um Khatib (pessoa que faz o sermão) e um pregador. Em suas crônicas de 654H/1256EC, a presença desta mesquita é indicada por Ibn al-Futi. Ele menciona que, quando uma enchente atingiu Bagdá, causando o desmoronamento de muitas das suas casas e lojas, a situação exigiu várias salas de oração da mesquita da Mustansiria para acomodar as pessoas. [78]
Al-Ghassani narra, sobre o sistema acadêmico da Mustansiria e dos seus funcionários e alunos de jurisprudência, que cada divisão tinha um Imam para liderar a sua oração, um recitador para os sete qirā’at (recitações) do Alcorão, e um pregador, a cada um dos quais foi dado dez quilates por mês, além de seu salário mensal. Ele também mencionou que havia um muezzin (para realizar o chamado da oração). [79]

A Biblioteca da Mustansiria

Os livros são “instrumento de conhecimento”. Por esta razão, as pessoas se preocupavam com sua coleta e preservação. Bibliotecas foram construídas como meios clássicos de difusão do conhecimento. Devido ao seu custo proibitivo, era inviável para todos, exceto os ricos possuir livros, então, aqueles que desejavam educar as massas fariam bibliotecas contendo coleções de livros, e abririam as suas portas ao público. [80] Estas bibliotecas se desenvolveram e tornaram-se uma tradição essencial para acompanhar a fundação de qualquer escola. Isto é manifesto nas bibliotecas da escola – que Ibn al-Jawzi descreve:

“Eu vi a abóbada dos livros doados na escola Niẓāmia, e acredito que houvesse ali uns seis mil volumes. Quando al-Mustansir fundou a escola Mustansiria, ele dedicou grande atenção à sua biblioteca, enchendo biblioteca com livros.” [81]

Al-Arbali afirma:

“Por Deus ter lhe concedido uma inclinação para os [vários] campos do conhecimento, ele consistentemente – desde o início do seu tempo e da sua vida – se preocupou com o conhecimento religioso e literário, trabalhando para reproduzir livros com compromisso e consistência, elegantes na escrita, precisos em grande estilo. Seu amor pelo conhecimento o levou a construir de uma biblioteca [82], em que ele coletou [livros sobre] muitas áreas do conhecimento; diversificados, contrastantes e complementares. Assim, a biblioteca – a mais importante divisão acadêmica da Mustansiria – se tornou indescritivelmente famosa devido aos livros valiosos que continha.”

No dia em que foi aberta, al-Mustansir teve “Os Nobres Quartos [iv] e os valiosos livros de conhecimento religioso e literário transportados para a biblioteca por 160 homens.” [83] Isto além dos livros doados por al-Mustansir. Ele doou livros sem precedentes em quantidade, beleza e qualidade de produção. [84] Ibn ‘Inaba relata que al-Mustansir colocou 80 mil volumes dentro de biblioteca na Mustansiria, de tal forma que se tornou uma biblioteca inigualável em todo o mundo. [85]

A fim de maximizar seu benefício, a grande quantidade de livros mantidos dentro biblioteca da Mustansiria motivou sua organização e categorização. Ibn al-Futi descreve como al-Mustansir, depois de levar os livros de sua biblioteca pessoal para a Mustansiria, designou o Sheikh Abdul-Aziz, chefe do aposentos das mulheres na escola, para revisar os livros. [86] Ele delegou a responsabilidade [87] dos livros ao seu habilidoso filho, Dia-ud-din Ahmad. O zelador da biblioteca do palácio do califa também foi levado, ele cuidou dos livros e os organizou muito bem, detalhadamente, de modo a facilitar o acesso do leitor. [88]

O crescente número de livros na biblioteca da Mustansiria nos anos seguintes à sua inauguração levou à construção de uma ‘casa dos livros’ [separada] dentro dela, contendo muitos e valiosos volumes. Este edifício foi inaugurado em 644H/ 1246EC [89] e sua inauguração foi um espetáculo. Muwaffaq-ud-dīn Abul-Qāsim Ibn Abul-Hadīd descreveu em verso [90]:

Com livros, brilhantes na aparência
Eu vi a biblioteca adornada.

Seus nomes [tantos], que te iludiu
a compilá-los; o compilador não mentiu.

Nele, uma coleção como o mar, mas
tão generoso que não tem litoral.

Nele, o refinamento de sua excelência,
Suficiente e ainda generoso.

Nele está o significado para o que buscamos,
e nele está o nosso limite e perfeição.
رأيت الخزانة قد زينـــــــت بكتب لها المنظر الهائــــــل
تمثلت اسماءها منكـــــــــــم على النقل ما كذب الناقــــل
بها مجمع البحر لكنــــــــــه من الجود ليس له ساحـــــل
وفيها المهذب من فضلكــــم ومغن ولكنه نائــــــــــــــــل
وفيها الوسيط بما نرتجيــــه وفيها النهاية والكامــــــــــل
A biblioteca da Mustansiria foi de crucial importância na disseminação do conhecimento por muitos anos através de seus conteúdos valiosos e raros. Hājī Khalīfa (Katip Celebi) menciona em 14 volumes e com sua letra original, que continha uma cópia completa da história de al-Khatīb al-Baghdādi. [91]

O professor Abbas al-Azzawi diz sobre a poesia Jalayirid (738-864H/1337-1459EC) diz: “…Como poderia a poesia morrer, ou o espírito literário se extinguir, quando a biblioteca da Mustansiria ainda estiver de pé, oferecendo referência aos seus artefatos?… Ela foi um instrutor para quando não havia professor disponível, e um guia para o estudante da literatura. Foi para [o visitante], uma brasa a [inflamar] o amor pela poesia.” [92]

Nesta biblioteca havia um sistema dedicado. Era dirigida por um número de funcionários para gerir os seus interesses diários e facilitar seus benefícios para os alunos, incluindo:

• O guardião da biblioteca (khazin) era a função mais importante, já que seu dever era preservar os livros; “restaurá-los quando se desmancharem, consertá-los quando precisam de reparo, protegê-los de quem não os utilizam adequadamente, fornecê-los aos que precisam deles, e apresentá-los aos pobres e necessitados.” [93]
• O supervisor (mushrif) era o segundo em comando após o guardião da biblioteca.
• Depois vinha o copiador (nasikh), que copiava os livros. Ele deveria ter uma boa conduta moral. Em particular, ser digno de confiança, não comprometer seus princípios por ganhos mundanos, bem como ser meticuloso e paciente, de modo a exercer as suas funções proficientemente. [94]
• Havia também o bibliotecário (munāwil), cujo trabalho era orientar os leitores e estudantes quanto à localização dos livros. [95]
• Havia também o encadernador e o tradutor. [96]

As funções dos membros da equipe indicam a presença de sistemas e tradições confirmadas no estabelecimento dessas bibliotecas. Como ilustrado pelo tamanho da sua biblioteca e do respeito conferido ao conhecimento e estudiosos por seu benfeitor, a Mustansiria estava integrada dentro deste espírito. Al-Mustansir tomou todas as providências para atenuar as dificuldades enfrentadas por aqueles que se beneficiaram dela. Esta opinião é corroborada pela descrição de al-Mundhiri: “Ele era um filantropo impulsionado, esforçando-se por inúmeras boas obras… Ele construiu sua famosa escola, e organizou seus interesses, examinou as condições de acadêmicos e estudantes, considerando o seu conforto e lidando com quaisquer dificuldades que pudessem enfrentar.” [97]

Não há nenhum serviço mais nobre do que apresentar os livros às pessoas de conhecimento e a quem busca alcança-lo. Al-Mustansir fez isso, preocupando-se com seus assuntos, e cuidando daqueles que serviram suas necessidades. Ele atribuiu aos funcionários da biblioteca salários monetários e subsídios não monetários. O salário do guardião da biblioteca era de 3 dinares mensais, 10 libras de pão e 4 libras de carne por dia, com seus acompanhamentos. [98] Os bibliotecários eram assalariados, 2 dinares por mês, 4 libras de pão e uma concha de ensopado por dia. [99] Estes salários eram aumentados durante o Ramadan. [100]

O Comitê Escolar da Mustansiria

Al-Mustansir condicionou sua escola a conter 248 homens, 62 de cada denominação. Cada denominação teria um professor, 4 assistentes, um estudioso sênior do Alcorão, outro estudioso de hadith, um terceiro estudioso de medicina, um quarto para a ciência de direitos sucessórios, matemática e legados, e um quinto para as artes e gramática. [101]

De cada um destes esperava-se que tivessem as qualidades pessoais necessárias para empreender a mais crítica e nobre das profissões – Ensinar. Neste sentido, havia etiquetas e formalidades relacionadas à aprendizagem e ao ensino celebradas na tradição árabe. É suficiente a grande honra de que o Profeta foi citado por ter dito: “Deus não me enviou para obrigar [as pessoas], e Ele me enviou como um professor para facilitar as coisas.” 

O professor tem qualidades pessoais acordadas pelos livros sobre pedagogia e educação, as mesmas qualidades alimentadas na Mustansiria. O professor, conforme descrito em livros sobre pedagogia [102] deve:

• Se sobressair nas aulas que ministra, de modo que os presentes as compreendam de forma adequada às suas próprias cognições.
• Compreender o tema da lição, como a falta desta compreensão perturbaria o processo educacional, permitindo que pessoas não aptas invadissem a nobre profissão.
• Elaborar explicações, discussões e comentários, dando ao tema em questão a consideração que requer.
• Ter cuidado para suas ações não contradizerem suas declarações, como proibir algo e participar do que proibiu.
• Preservar a ciência e mantê-la livre da avareza.

Bem como numerosas outras qualidades. Um conjunto complementar para o aluno foi também delineado.

A Mustansiria foi o lugar ideal para aplicar tradições e valores pedagógicos. O amor de Al-Mustansir pelo conhecimento e pela ciência ajudou a estabelecê-los. Ele amava sua escola a tal ponto que se sentava no jardim vizinho para vê-la, observando sua situação, supervisionando seus juristas e inspecionando suas condições. [103]

Exceto por algumas menções de Ibn Battuta durante sua visita a Bagdá, não temos textos que indicam os métodos de ensino. Ele mencionou que o professor em um estado de serenidade e dignidade, sentava-se dentro de uma pequena cúpula de madeira numa cadeira decorada com tapetes, vestindo preto. À sua direita e esquerda estavam os assistentes, revisando tudo o que ele mencionava. Assim foi o arranjo de cada sessão (majlis) na escola. [104]

Há referências abundantes a estudiosos que ensinaram ou aprenderam na Mustansiria o seu status acadêmico e sua veneração pelos califas. [105]

O assistente, al-Subki (d. 771H) afirma que “o seu papel ultrapassou o de ouvir a lição, incluía a esclarecer aos alunos, os beneficiando, e fazendo o que está implícito na expressão iʻādah [v]. Caso contrário, ele estaria na mesma [condição] que o jurista (ou seja, o aluno)”. [106]

Uma tradição mantida pela Mustansiria foi a seleção de alunos. Era rigorosa ao admitir estudantes, escolhendo apenas aqueles que eram inteligentes, conhecidos pela compilação de livros e ensino. Esperava também que o estudante tivesse o coração purificado de características adversas, de modo a estar apto para receber o conhecimento e preservá-lo. [107] Esperava-se que o aluno tivesse sinceras intenções em buscar conhecimento. [108] Quanto às horas de ensino, não sabemos de nenhum tempo fixo. [109]

O processo de ensino começou por recitar partes do Alcorão. As metodologias diferiam de professor para professor, mas os métodos mais importantes eram palestras, discussões, ditados e instruções – especialmente os dois últimos. Quando o número de aulas aumentava, era dada prioridade aos tópicos ‘por ordem de nobreza e importância’, ou seja, exegese do Alcorão (tafsīr), seguido por narrações proféticas (hadith), em seguida, os fundamentos religiosos (‘usul), jurisprudência tradicional (madhab), diferenças de opinião (khilāf) ou gramática e retórica. [110]

Após a conclusão da educação, era concedida uma licença ao aluno (ijāza). O formando poderia [alternativamente] tornar-se certificado – premiado com uma shahāda – sem frequentar aulas.

Os salários dos professores na Mustansiria eram distribuídos como condicionado pelo benfeitor da sua doação:

• O salário mensal de cada professor era de 12 dinares, 20 libras de pão e 5 libras de carne. [111]
• Cada assistente era remunerado com 3 dinares mensais e 7 libras de pão por dia. [112]
• Cada jurista (isto é, cada estudante) era remunerado com 1 dinar, 4 libras de pão, comida caseira, doces, frutas, sabão e roupa de cama. [113]
• Curiosamente, ao professor era concedida uma mula, com selas e kit de montaria completo. [114]

Administração e Serviços Públicos na Mustansiria

A Mustansiria foi criada para ser um colégio interno, e matriculou alunos e professores que desfrutavam do generoso patrocínio do califa, que cuidou de suas despesas. [115]

Dr Naji Ma’rouf menciona que al-Mustansir trabalhou duro para pagar luxos sem precedentes dos estudantes para que pudessem dedicar-se à busca do conhecimento sem distrações com problemas da vida. Ele forneceu-lhes alimentação suficiente, bem como salários mensais. [116]

Devido ao tamanho da escola e as suas numerosas especialidades, foi necessário uma comissão para a sua gestão, e outra para o seu serviço e administração. Assim, seu corpo 
docente foi complementado por uma comissão administrativa, constituída de um reitor (Nazir), um supervisor (Mushrif), e um oficial (Katib).

Não há informações que indiquem a natureza do seu trabalho, mas há menções de seus salários e subsídios. Presume-se que o reitor (wali) ocupou a posição mais alta, seguido pelo supervisor, e finalmente o oficial. Ao que parece, também que os administradores e reitores da Mustansiria foram escolhidos dentre aqueles de notório conhecimento. [117]

Em adição a estas posições, houve um grande número de pessoal, o que reflete o tamanho da Mustansiria. No mais, seus elevados padrões de serviço condizem com seu cenário cultural avançado. Este pessoal incluía:

• muezzin (quem fazia o chamado para a oração),
• qayyim (registrador),
• mueqqit (cronometrista),
• cozinheiro e seu assistente,
• naffāṭ (gerente de abastecimento),
• khazin al-‘ālāt (guarda de ferramentas e instrumentos), 
• muzammilāti (transportador de água , seu salário era de 5 dinares),
• hammami (atendente da casa de banhos),
• muzayyin (barbeiro),
• guardião do īwan e seus ajudantes,
• farrāshīn (camareiras),
• bawwābīn (porteiros),
• supervisor de construção e manutenção. [118]

Estes inúmeros papéis revelam os avançados serviços que esta escola usufruía, indicam a égide do conhecimento e as partes envolvidas para atingi-lo.

Quanto aos seus salários, foram distribuídos da seguinte forma:

• O Reitor ou Governador: 12 dinares mensais, 20 libras de pão, 5 libras de carne, bem como os seus acompanhamentos. [119]
• O Supervisor: 7 dinares mensais, 10 libras de pão, 3 libras de carne. [120]
• O oficial: 5 dinares mensais, 5 libras de pão, 2 libras de carne. [121]
• Quanto aos outros agentes, de acordo com o autor de al-‘asjad [vi] lhes foram atribuídos pão e salários, “tudo conforme especificação do benfeitor”. [122] Nenhuma menção de seus salários é feita em qualquer fonte; calcula-se que eram baixos e coerentes com suas funções.

Teve-se o cuidado de instituir os regulamentos que requerem de estudantes e professores a preservação do mobiliário, livros e equipamentos da escola.

Assim, a Mustansiria foi motivo de orgulho para a cultura árabe-islâmica, e um centro de conhecimento e cultura. Era uma escola do conhecimento e da vida; um instrumento eficaz do serviço social. De suas galerias, muitos que lá estudaram se graduaram, e muitos continuaram a ensinar. Produziu grandes nomes que disseminaram o conhecimento através das gerações, incluindo al-‘Aqūli, e al-Jawzi. Historiadores como ibn al-Sā’ī, ibn al-Najjār (o historiador de Bagdá), e ibn al-Futi. Juristas inumeráveis. Famosos médicos, matemáticos, geógrafos, astrónomos, calígrafos, exegetas, auditores e viajantes, como ibn Faḍlān.

Ela também foi o destino de muitos estudiosos que se propuseram a alcançar certificado acadêmico de seus especialistas seniores. A Mustanṣiria foi um instrumento para servir a sociedade, compartilhando suas facilidades e dificuldades. Ela acolheu recepções festivas para convidados de honra de Bagdá, bem como cerimônias de funeral. Dentro dela foram realizadas assembleias para discutir queixas, e conflitos foram resolvidos. Ela resistiu bravamente, uma imponente torre, afirmando a grandeza da cultura árabe-islâmica. Ela foi conhecida como a melhor de todas as escolas e foi tema de muitos provérbios.

por: Nabila A. Dawood

Fonte: Muslim Heritage
Leia também: Islam e Ciência – Compatíveis?]

الهوامـــــش Notas Finais:
1. د.عماد عبدالسلام رؤوف : مدارس بغداد في العصر العباسي ، بغداد 1966،ص2.
2. د.حسين علي محفوظ : صورة الاستاذ الفاضل في التراث ، بحث ضمن الوقائع الكاملة لندوة مكانة الاستاذ في التراث ، بغداد ، مركز احياء التراث – جامعة بغداد 1988 .
3. د. صالح احمد العلي : العلوم عند العرب ، بيروت ، مؤسسة الرسالة ص22.
4. المرجع نفسه ص22.
5. احمد عبدالغفور عطار : آداب المتعلمين ورسائل اخرى في التربية ، بيروت 1967،ص15.
6. عن موضوع الاهتمام بالكتابة والتعلم والحض عليها يرجع الى :
• محمد بن الحسن الحضرمي (ت489هـ) : الاشارة الى ادب الامارة ، تحقيق د.رضوان السيد ، بيروت ، الابواب :الباب الاول في الحض على القراءة والتعلم ص50-51، الباب الثاني في آداب النظر والتفهم ص55-59 .
• وليد بن محمد التدمري (ق4هـ) : في السياسة والاداب مخطوط مصور اعمل على تحقيقه ، الباب (18) في الخط والتعلم ، الورقة 32 ، الباب (19) في الادب ، الورقة 33، الباب (20) العلم وفضله الورقة 35 .
• احمد بن جعفر بن شاذان (ق7هـ) : ادب الوزراء دراسة وتحقيق نبيلة عبدالمنعم داود (تحت الطبع) : باب في فضل الكتابة ، الورقة 8 ب ، باب في ادب الكتابة الورقة 10ب ، باب في ما جاء في بري العلم والمداد والختم ، الورقة 12ب .
• الملك الافضل العباس بن علي بن رسول الغساني (ت778هـ) : نزهة الظرفاء وتحفة الخلفاء دراسة وتحقيق نبيلة عبدالمنعم داود ، بيروت ، دار الكتاب العربي 1985 . الباي (3) فيما لايسع الملوك والرؤساء جهله من انواع العلوم ص22 وفيه رسالة طريفة للجاحظ (ت255هـ) في مدح العلوم ص54-55.
1. د.نوري القيسي ود.حاتم الضامن : البحث والمكتبة ، بغداد ص24 .
2. آداب المتعلمين ص12، د.عبدالله عبدالدائم : التربية عبر التاريخ ، بيروت ، ص263 .
3. التربية عبر التاريخ ، ص263.
4. انظر خليل طوطح : التربية عند العرب ، القدس ، احمد فؤاد الاهواني : تاريخ التربية في الاسلام ، القاهرة .
5. علي بن محمد الماوردي (ت450هـ) : الرتبة في طلب الحسبة مخطوط مصور ، مكتبة الدراسات الاسلامية العليا ، كلية الاداب ، الورقة 96أ .
6. انظر : محمد بن سحنون (ت256هـ) : آداب المعلمين ، ضمن كتاب آداب المتعلمين بيروت 1967.
• محمد بن محمد بن احمد ابن الاخوة القرشي (ت729هـ) : معالم القربة في احكام الحسبة (منشور ضمن كتاب في التراث الاقتصادي الاسلامي) بيروت دار الحداثة 1990 ، الباب (46) في الحسبة مؤدبي الصبيان ص168-171 ز
• ابن بسام المحتسب : نهاية الرتبة في طلب الحسبة (ضمن كتاب في التراث الاقتصادي) الباب (75) في معلمي الصبيان ومعلمات البنات ص441.
• المغراوي (ق10هـ) : جامع جوامع الاختصار والتبيان فيما يعرض بين المعلمين وآباء الصبيان ، تحقيق د.عبدالهادي التازي ، المغرب .
• بدر الدين ابن جماعة الكناني (ت732هـ) : تذكرة السامع والمتكلم في اداب العالم والمتعلم (نشر ضمن كتاب آدايب المتعلمين ) .
• ليفي بروفنسال : ثلاث رسائل اندلسية في الحسبة والمحتسب ابن عبدون ، والسقطي ، وابن عبدالرؤوف الجرسيفي ، القاهرة 1955.
• د.عبدالامير شمس الدين : الفكر التربوي عند ابن سحنون والقابسي ، بيروت ، دار اقرأ 1985.
• جمال الدين الالوسي : الاسس النفسية لاراء الماوردي التربوية ، بغداد 1988.
1. انظر : د.ناجي معروف : مدارس قبل النظامية ، بغداد ، التربية الاسلامية د.احمد شلبي ، د.عماد عبدالسلام : مدارس بغداد في العصر العباسي .
2. ابو الفرج عبدالرحمن ابن الجوزي(ت597هـ) المنتظم طبعه حيدر آباد الدكن ،ج8، ص256، ابو الحسن علي بن ابي الكرم ، ابن الاثير (ت630هـ) : الكامل في التاريخ ، طبعة الاستقامة ، احداث 462هـ وبقية الاصول التاريخية المعروفة .
3. مدارس بغداد في العصر العباسي ص14 .
4. مصطفى بن عبدالله ، حاجي خليفة (ت1067هـ) : كشف الظنون عن اسامي الكتب والفنون ، بغداد ، مكتبة المثنى .
5. مدارس بغداد في العصر العباسي ص15 .
6. محمد بن احمد بن جبير (ت614هـ) : رحلة ابن جبير .
7. مؤلف مجهول : نبذة من كتاب التاريخ ، موسكو ، معهد الدراسات الشرقية ، موسكو، الورقة6 .
8. عبدالرزاق بن احمد بن محمد بن الفوطي (ت723هـ) : الحوادث الجامعة والتجارب النافعة في المائة السابعة (منسوب) تحقيق د.مصطفى جواد ، بغداد 1351هـ ، ص58-59 ، سنبط قنيتو الاربلي (ت717هـ) : خلاصة الذهب المسبوك ، بغداد ، مكتبة المثنى ص286-287، شمس الدين ابو عبدالله محمد ابن ابراهيم بن الجزري (ت739هـ) : المختار من تاريخ ابن الجزري اختيار الذهبي ، دراسة وتحقيق خضير عباس المنشداوي ، بيروت ، دار الكتاب العربي 1988، ص150 .
9. ترجمته في :خلاصة الذهب المسبوك الاربلي (ت717هـ) ،ص285، عماد الدين اسماعيل ابو الفدا (ت732هـ) المختصر في اخبار البشر ، القاهرة، المطبعة الحسينية 1323هـ، ج3،ص173 ، المختار من تاريخ الجزري ص150 ، محمد بن احمد بن عثمان بن قايماز ، الذهبي (ت748هـ): تاريخ الاسلام الطبقة (64) دراسة وتحقيق د.بشار عواد معروف ود.صالح مهدي عباس ، بيروت ، مؤسسة الرسالة ، ص6 ، عبدالعظيم بن عبدالقوي المنذري (ت656هـ) : التكملة لوفيات النقلة ، تحقيق د.بشار عواد معروف ، بيروت ، مؤسسة الرسالة ، ج3، ص607 ، ابو محمد عبدالله بن اسعد اليافعي (ت768هـ) : مرآة الجنان وعبرة اليقظان بيروت ،1970 ، ج4 ، ص73 ، ابو العباس اسماعيل الغساني (ت803هـ) العسجد المسبوك والجوهر المحكوك، دراسة وتحقيق د.شاكر محمود عبدالمنعم ، بغداد ، دار البيان 1975، ابو العباس احمد بن يوسف بن احمد القرماني (ت1019هـ) :اخبار الدول وآثار الاول ، بيروت ، عالم الكتب ،ص180 ومراجع اخرى كثيرة .
10. زار المستنصر بالله المدرسة بعد الانتهاء من بنائها سنة 630هـ وبعد افتتاحها كان يشرف على الدرس من منظرة قصره المجاور للمستنصرية .
11. لم اتكلم عن بناء المدرسة وتخطيطها لاقتصار البحث على النظم والتقاليد ويمكن الاستفادة في هذا المجال من مراجع كثيرة منها : المدارس العباسية في العراق تخطيطها وعمارتها : كامل محمد حيدر (رسالة ماجستير لم تطبع بعد، بغداد ، كلية الآداب 1986 جامعة بغداد ) الفصل الرابع ص94-124 .
12. شمس الدين يوسف بن قرغلي ، سبط ابن الجوزي (ت654هـ) : مرآة الزمان، حيدر آباد الدكن 1951-1952 ، ج8 ، ص729 .
13. محمد بن علي بن طباطبا (ت709هـ) : الفخري في الاداب السلطانية ، بيروت دار صادر ،ص230 .
14. خلاصة الذهب المسبوك ص287.
15. عماد الدين اسماعيل بن عمر بن كثير (ت774هـ) : البداية والنهاية في التاريخ ، بيروت ، دار صادر 1966، ج13، ص461 .
16. انظر : الحوادث الجامعة ص56، المختار من تاريخ الجزري ص105 ، تاريخ الاسلام للذهبي الطبقة 64، ص6 ، البداية والنهاية ج13 ،ص139 ، العسجد المسبوك ص461 .
17. يقول الغساني في وصف هذه الدار : اما الدار المجاورة لهذه المدرسة فانه لم يرَ مثلها احد وهي احسن بناء واحكم قواعد من كل اثر اثره الخلفاء الماضون والائمة المهديون والعروس والبرج والجوسق والمختار والغريب والقلاية والبهر والبركة والجعفري والمعشوق ، العسجد المسبوك ص460 .
18. تاريخ الاسلام ص6 ، الحوادث الجامعة ص55 ، البداية والنهاية ج13 ، ص140 ، العسجد المسبوك 461 .
19. نفس المصادر السابقة في هامش (30) .
20. البداية والنهاية 13/140 ، لم يذكر ان الوليمة اقيمت في الدار المجاورة للمستنصرية الا ابن الجزري .
21. الحوادث الجامعة ص55.
22. المصدر نفسه ص55 .
23. المصدر نفسه ص55، وبقايير جمع بقيار ، نوع من العمائم وهي عمامة كبيرة يعتمها الوزراء والكتاب والقضاة . رينهارت دوزي : تكملة المعاجم العربية ، ترجمة د.سليم النعيمي ، بغداد ، دار الشؤون الثقافية ،ص478.
24. المختار من تاريخ ابن الجزري ، ص150 .
25. المصدر نفسه ص151.
26. الحوادث الجامعة ص58 .
27. المصدر نفسه ص56-57 .
28. المصدر نفسه ص56-57 .
29. هذه القصيدة من ورقة واحدة مخطوطة في خزانة مكتبة الدراسات العليا بكلية الآداب .
30. تاريخ التربية الاسلامية ص313-314 .
31. المرجع نفسه ص 314 .
32. المنتظم ج8،ص256 .
33. رحلة ابن جبير ص229 .
34. العسجد المسبوك ص435، ابو الفدا ج4، ص171 .
35. اخبار الدول وآثار الاول ص180 .
36. تاريخ الاسلام ص7 .
37. المصدر نفسه ص7 .
38. قرية شمالي بغداد ، تاريخ الاسلام الطبقة 64، ص7 .
39. من ناحية دجيل .
* ذكر محققو تاريخ الاسلام انهم لم يستطيعوا التعرف على هذه القرى فاكتفوا بضبطها بالشكل كما وردت عند الذهبي لان النسخة التي اعتمدوها للتحقيق بخط الذهبي .
52- تاريخ الاسلام ص47 .
53- المصدر نفسه ص431.
54- وردت القصيدة عند : محمد بن احمد بن شاكر الكتبي (ت764هـ) : عيون التواريخ20، تحقيق نبيلة عبدالمنعم داود ود. فيصل السامر ، بغداد دار الشؤون الثقافية 1984 ، ج20، ص369 ، محمد بن شاكر الكتبي : فوات الوفيات تحقيق د.احسان عباس ، بيروت ، دار صادر ، ج3،ص33.
55- علي بن انجب الساعي (ت674هـ) : الجامع المختصر في عيون التواريخ واعين السير ،ج9،ص30 : تحقيق د.مصطفى جواد ، بغداد 1934.
56- د.عماد عبدالسلام : ملامح من نظم مدارس العراق ابان العصر العباسي (ضمن الوقائع الكاملة لندوة مكانة الاستاذ في التراث ) مركز التراث – جامعة بغداد 1988 .
57- شهاب الدين احمد بن علي بن حجر (ت852هـ) : الدرر الكامنة في اعيان المائة الثامنة ، بيروت ، دار الجيل ، ج2، ص5 .
58- انظر : الحوادث الجامعة ص58-59 ، المختار من تاريخ ابن الجزري ص151 ، تاريخ الاسلام للذهبي ص6 ، ابو الفدا ج4،ص171 ، البداية والنهاية ج13،ص139 ، العسجد المسبوك 458 .
59- د.ناجي معروف : تاريخ علماء المستنصرية ، بغداد ، مطبعة العاني 1959، ج1،ص42.
60- يذكر صاحب العسجد المسبوك ص459 ان لشيخ القرآن في كل يوم (5) ارطال خبز وغرفان طبيخ وفي الشهر 3دنانير وللمعيد في كل يوم (4) ارطال خبز وغرف طبيخ وفي كل شهر دينار وعشرة قراريط ولكل صبي من المتلقين في كل يوم 3أرطال خبز وغرف طبيخ وفي كل شهر 13 قيراط وجبة .
61- الحوادث الجامعة ص51 ، العسجد المسبوك ص459 ، اما ابن الجزري ص151 فيقول لشيخ التلقين 30 درهما وللصبي في الشهر نصف دينار وشيء وثلاث ارطال خبز وطعام .
62- الحوادث الجامعة ص58 .
63- العسجد المسبوك ص459 .
64- المصدر نفسه ث459 .
65- تاريخ الاسلام للذهبي ص6 ، المختار من تاريخ ابن الجزري ص150 ، الحوادث الجامعة ص58 ، العسجد المسبوك ص460 ، ناهدة عبدالفتاح ، ايوان الطب ، بحث في مهرجان المستنصرية الاول 1985 .
66- الحوادث الجامعة 58 .
67- الحوادث الجامعة ص58 .
68- العسجد المسبوك 460 .
69- ناهدة عبدالفتاح : ايوان الطب ، د.محمد حسين الزبيدي : المستنصرية وملحقاتها ، مهرجان المستنصرية الاول 1985 .
70- د. ناجي معروف : التوقيعات التدريسية ، بغداد .
71- التربية عبر التاريخ ص162 .
72- محمد بن رافع السلامي (ت774هـ) ، منتخب المختار في تاريخ علماء بغداد ، تحقيق المحامي عباس العزاوي ، بغداد ص228 ، ويرى القرماني ان هذه المستشفى جزء من المدرسة ، آثار الاول ، ص180 .
73- العسجد المسبوك ص459 .
74- خلاصة الذهب المسبوك ص287 .
75- الحوادث الجامعة ص58 .
76- المختار من تاريخ ابن الجزري ص151.
77- المصدر نفسه ص151.
78- الحوادث الجامعة 318.
79- العسجد المسبوك ص460 .
80- تاريخ التربية الاسلامية ص115.
81- ابو الفرج عبدالرحمن بن الجوزي : صيد الخاطر ، بغداد ص366-367 .
82- خلاصة الذهب المسبوك ص286.
83- انظر الحوادث الجامعة ص53، العسجد المسبوك ص458
84- البداية والنهاية ج13 ، ص140 .
85- احمد بن علي بن الحسين ابن عنبة (ت828هـ) : عمدة الطالب في انساب آل ابي طالب ، النجف 1961 ، ص206.
86- اثبات الكتب فهرستها .
87- اعتبارها ، تسجيلها والتأكد من صحتها.
88- الحوادث الجامعة ص54.
89- المصدر نفسه ص210 .
90- المصدر نفسه ص210.
91- مصطفى بن عبدالله حاجي خليفة (ت1067هـ) : كشف الظنون ، بغداد ، مكتبة المثنى 1/171 .
92- المحامي عباس العزاوي : تاريخ الادب العربي في العراق ، بغداد ، الطبعة الاولى ، ج1،ص322.
93- عبدالوهاب بن تقي الين السبكي (ت 771هـ) : معيد النعم ومبيد النقم ، القاهرة،ص111 . ومن اشهر خزنة المستنصرية المؤرخ المشهور ابن الساعي (ت674هـ) وابن الفوطي (ت723هـ) .
94- معيد النعم ومبيد النقم ص131.
95- تاريخ التربية الاسلامية ص143، د.حسين امين : المدرسة المستنصرية 58 .
96- المرجع نفسه ص143، د.حسين امين : المدرسة المستنصرية 58.
97- التكملة لوفيات النقلة ج3 ص607 .
98- العسجد المسبوك ص459 .
99- المصدر نفسه ص459 .
100- المصدر نفسه ص459 .
101- المختار من تاريخ ابن الجزري ص151، العسج المسبوك ص458.
102- بدر الدين ابراهيم بن جماعة (ت733هـ) : تذكرة السامع والمتكلم ، طبع مع كتاب آداب المعلمين ، بيروت 1967،ص175-204 ، السبكي : معيد النعم ومبيد النقم ص105 .
103- ابن العبري ص442.
104- ابن بطوطة : رحلة ابن بطوطة ، ج1 ،ص141.
105- د. ناجي معروف : تاريخ علماء المستنصرية .
106- معيد النعم ومبيد النقم ص108.
107- تذكرة السامع والمتكلم ص75-77 .
108- ملامح عن مدارس بغداد : د.عماد عبدالسلام .
109- المرجع نفسه .
110- تذكرة السامع والمتكلم ص38 .
111- المختار من تاريخ ابن الجزري ص150 .
112- المصدر نفسه ص151.
113- المصدر نفسه ص150 .
114- الحوادث الجامعة ص54.
115- تاريخ التربية ص329 .
116- تاريخ علماء المستنصرية ج1ص17 .
117- الحوادث الجامعة ص59 .
118- العسجد المسبوك ص460 .
119- المصدر نفسه ص460 .
120-المصدر نفسه ص460 .
121- المصدر نفسه ص460 .
122- المصدر نفسه ص460 .

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[i] Alguns dos nomes dessas aldeias foram registrados, apesar de suas localizações terem sido perdidas na história.

[ii] Nota dos tradutores: isto é, cerca de 300 mil gramas. De £ 10/grama, isso seria equivalente a £ 3 milhões.

[iii] Nota dos tradutores: ‘estudo das zonas’ é muitas vezes usado com o significado de ‘Geografia’.

[iv] Nota dos tradutores: O Alcorão escrito foi dividido em quatro grandes volumes, conhecidos como Os Quartos (rub’āt)

[v] Nota dos tradutores: O Mu’īd praticava i’adah, literalmente ‘repetição’. Hoje em dia se refere a um assistente de ensino.

[vi] al-‘asjad al-masbook, por Ismā’īl ibn al-Abbas al- Ghassāni.


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