O Papel das Mulheres na Preservação do Conhecimento

O Papel das Mulheres na Preservação do Conhecimento
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As mulheres desempenham um papel crucial na formação da sociedade. Elas são a primeira escola para os seus filhos. Se eles são educados correctamente, então uma nação surgirá a partir dessas crianças – prósperas, contentes e justas. Existem muitos papeis que a mulher desempenha ao longo da sua vida: filha, esposa, mãe, amiga, etc. Dentro desses papeis, longe de serem a vítima, passiva e oprimida segundo o estereótipo popular, as mulheres muçulmanas são vistas como pessoas activas e têm uma contribuição válida a dar em todos os níveis de vida da comunidade.


Numa época em que as mulheres muçulmanas são cada vez mais atraídas pelas “teorias feministas” que atacam alguns dos papeis das mulheres muçulmanas rotulando-os de “opressivos”, as irmãs devem ser lembradas de que as fontes autênticas do Islam, ou seja, o Qur’an e a Sunnah do Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) sempre falaram dos direitos das mulheres e reconheceram-nas como parceiras plenas na história humana. Homens e mulheres muçulmanos devem ter um conhecimento profundo da personalidade islâmica como definida pelo Qur’an e a Sunnah e os papeis complementares que lhes foram dados pelo Islam, a fim de trazer a harmonia entre os sexos prevista pelo Islam.

Até aos tempos modernos, têm havido muito poucos empreendimentos académicos onde as mulheres têm desempenhado um papel tão importante quanto os homens. A esfera das ciências dos ahadith é certamente uma excepção. Visto que os textos do Qur’an e da Sunnah sempre destacaram a importância das mulheres e a defesa dos seus direitos contra costumes pré-islâmicos, a Ummah não tinha quaisquer reservas em confiar-lhes questões de maior importância religiosa, pois, como irmãs, as mulheres muçulmanas eram de igual valor aos olhos de Allah. Esta é uma explicação para o facto de que o Islam produziu um grande número de estudantes excepcionais do sexo feminino cujo trabalho rigoroso e julgamento justo muitas das fundações do Islam dependem.

Ao longo da história islâmica, dentro dos limites da respeitabilidade e modéstia no vestir e nas maneiras, as mulheres viajaram pelo conhecimento e deram aulas em grandes mesquitas e escolas. Elas também transmitiram e criticaram ahadith e fatwas emitidas. Alguns dos estudiosos mais renomeados, como o Imam ad-Dhahabi, aprenderam de e elogiaram tanto os professores do sexo masculino como do sexo feminino por desempenharem um papel crucial na transmissão e preservação dos ahadith do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e ad-Dhahabi comentou que não conhecia qualquer mulher que não fosse confiável, ou que fosse duvidosa ou mentirosa na transmissão de ahadith.

Este tópico precisa de um estudo mais aprofundado, a fim de obter uma compreensão clara do papel que as mulheres desempenharam na sociedade islâmica; as suas realizações do passado e potencial futuro. As muçulmanas estudiosas eram parte da linha de vida do empreendimento académico islâmico e, talvez, olhar para trás e investigar esse aspecto da história irá ajudar-nos a trazer esta ummah de volta ao que era antes.

A primeira obra memorável dos muçulmanos em conexão com a arte de escrever a história é o arranjo e a compilação da ciência dos ahadith. Desde o advento do Islam, as mulheres sempre tinham tomado um papel importante na preservação e narração de ahadith, uma função que continuou por séculos. Desde o início da história islâmica, existiram numerosas estudiosas eminentes de ahadith que eram tratadas com reverência e respeito. Durante a vida do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) as mulheres eram transmissoras de tradições proféticas (ahadith) e depois da morte do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), muitas companheiras, especialmente as esposas do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) eram vistas como guardiãs vitais do baú enorme de conhecimento que tinham obtido durante o seu tempo com o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). Elas dispensavam prontamente este rico conhecimento quando questionadas por instrução pelos outros companheiros. Os nomes Hafsah, Umm Habibah, Umm Salama e A’ishah (que Allah esteja satisfeito com elas) são muito familiares a todos os estudantes de ahadith.

Na verdade, A’ishah é considerada uma das figuras mais importantes de toda a literatura de ahadith tanto como uma das primeiras narradoras do maior número de ahadith, como uma das intérpretes mais cuidadosas destes. As mulheres também ocupavam cargos importantes como estudiosas de ahadith, durante o tempo dos Califados Virtuosos [os primeiros que se sucederam depois do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele)].

Alguns tradicionalistas (muhadith – estudiosos de ahadith) durante este tempo incluem Hafsah, a filha de Ibn Sirin, Umm ad-Darda e Amrah bint Abdur-Rahman. Iyas ibn Mu’awiyah, um estudioso importante de ahadith desse tempo e juiz, considerou Umm ad-Darda como superior a todos os outros estudiosos de ahadith da época, incluindo estudiosos famosos como al-Hasan al-Basri e Ibn Sirin. Além disso, Amrah era considerada a maior autoridade de tradições relatadas por A’ishah (que Allah esteja satisfeito com ela). O califa ‘Umar ibn Abdul Aziz uma vez ordenou Abu Bakr ibn Hazm, um juiz em Medina (e também seu colega), a escrever todos os ahadith que ela soubesse.

Esta transmissão e preservação de ahadith continuou com mulheres devotas vindas de diversas origens para suceder e subir na hierarquia da erudição islâmica. Por exemplo, Abidah al-Madaniyah começou a sua vida como uma escrava e aprendeu um grande número de ahadith. Mais tarde, ela casou-se com Habib Dahhun, um grande muhadith (tradicionalista) de Espanha, que a levou de volta para Andaluzia. Lá, ela relatou mais de dez mil ahadith do Profeta ? sobre a autoridade dos seus professores de Medina.

Zainab bint Sulayman, por outro lado, nasceu numa família real e tinha obtido uma boa educação ganhando domínio nas ciências de ahadith. Ela desfrutou de uma reputação como uma das mais ilustres muhadithat (mulheres estudiosas de ahadith) do seu tempo e contou até mesmo muitos muhadithin (homens estudiosos de ahadith) importantes entre os seus alunos.

A parceria entre homens e mulheres no cultivo de tradições proféticas continuou ao longo dos séculos até ao ponto em que todos os compiladores importantes de ahadith do período mais antigo recebiam ahadith de estudiosas do sexo feminino. Cada colecção importante de ahadith continha nomes de mulheres como autoridades do autor. Quando essas obras foram compiladas, mulheres tradicionalistas dominaram-nas e entregaram-nas a um grande número de alunos, juntamente com as suas próprias ijazat (autoridades ou certificados para ensinar).

A forte tradição de mulheres estudiosas de ahadith (muhadithat) continuou ao longo dos séculos quarto, quinto e sexto do Islam. Por exemplo, no século IV, encontramos Fatima bint Abdur-Rahman (neta do famoso Abu Dawud – compilador de Sunan Abu Dawud), Amatul-Wahid, Umm al-Fath, Amatus-Salam e muitas outras estudiosas que davam aulas nas suas províncias. Além disso, nos séculos V e VI temos Fatima bint al-Hasan, que não era apenas conhecida pela sua religiosidade, mas também era famosa pelo seu conhecimento competente de ahadith e pela alta qualidade de isnaad (cadeias de narrações) que ela conhecia. Karimah al-Marwaziyah é outro exemplo: ela foi considerada a melhor autoridade no Sahih al-Bukhari no seu tempo, até ao ponto em que Abu Dharr de Herat, um dos principais estudiosos dessa época, aconselhou os seus alunos a não estudar Sahih al-Bukhari de ninguém a não ser ela, visto que ele atribuía grande importância à sua autoridade na transmissão de ahadith. Alguns dos seus alunos incluem eruditos como al-Khatib al-Baghdadi e al-Humaydi. Outro exemplo foi A’ishah bint Abdul-Hadi que, por um período de tempo considerável, foi uma entre os professores de Ibn Hajar al-Asqalani e foi considerada uma das melhores muhadithat do seu tempo – muitos estudantes viajaram grandes distâncias, para se sentarem aos seus pés a estudar o Islam.

O século IX é também animado por exemplos de mulheres estudiosas e tradicionalistas que foram aclamadas como sendo parte dos tradicionalistas mais precisos e instruídos do seu tempo, que também treinaram um grande número de estudiosos da geração seguinte. O dicionário biográfico de Abdul-Aziz ibn Umar ibn Fahd contém reconhecimentos biográficos de mais de 1100 dos seus professores, incluindo mais de 130 estudiosas cujo conhecimento ele estudou. Por exemplo, Umm Hani Maryam, que depois de adquirir uma quantidade enorme de conhecimento de todas as ciências islâmicas dedicou a sua vida a lecionar em grandes centros de aprendizagem no Cairo, concedendo ijazat a muitos estudiosos.

Ao longo da história islâmica, estudantes do sexo feminino assumiram um papel de liderança na academia islâmica e não limitaram a sua aprendizagem apenas ao estudo privado, mas fizeram grandes esforços para levar as suas posições como alunas e professoras para instituições públicas de ensino, juntamente com os seus colegas do sexo masculino. Vários manuscritos sobreviventes, como o Kitaab al-Kifayah de Al-Khatib al Baghdadi mostram mulheres estudiosas como Ni’mah bint Ali e Umm Ahmed Zainab bint al Makki, entre outras, a dar palestras por vezes de forma independente e outras vezes em conjunto com estudiosos do sexo masculino nas faculdades principais de aprendizagem como a Madrasah Aziziyyah e a Madrasah Diya’iyah – palestras que eram, por vezes, assistidas por Ahmed, o filho de Salahudin al-Ayubi.

Estes são apenas alguns exemplos da enorme contribuição das mulheres para o edifício elevado do empreendimento académico islâmico. Espero que isto capacite as irmãs a atingir o status e dignidade que já lhes foram concedidos pelos nossos predecessores piedosos ao jogar um papel crucial na preservação desta grande religião através do conhecimento.

Fonte: Islam21c


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