Malcolm X – Quem foi?

Malcolm X – Quem foi?
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Por Juliane Arruda

El-Hajj Malik El Shabazz

Malcolm X foi interpretado por Denzel Washington no filme homônimo de Spike Lee, lançado em 1992. Fui buscar na literatura dados reais sobre sua vida, afinal questionei o que seria realidade ou ficção, pois, até então, nada sabia sobre o protagonista. Li a Autobiografia de Malcolm X, organizada por Alex Haley e para minha surpresa me deparei com fatos semelhantes ao roteiro do filme.

“Mas havia um precedente em minha vida para aquela carta. Toda a minha vida sempre fora uma cronologia de… mudanças.” p. 321


 Sobre a infância marcada por tragédias e desafios que não cabem aqui mencionar, pois convido-lhes a ler, pergunto-me o que teria sido de Malcolm, que tirava excelentes notas na escola, o que teria sido dele se não houvesse a interferência do professor de inglês o qual o desencorajou a cursar Direito, porque “não era um curso realista para um negro”. Fosse qual fosse a intenção do Sr. Ostrowski, (professor de inglês) uma profissão mais adequada, na opinião dele, seria a carpintaria, até porque ele argumentava que Malcolm era hábil com as mãos e todo mundo gostava dele. Embora nos tempos atuais ainda testemunhamos a prática do racismo, a obra foi lançada em 1965. O livro possui mais de 400 páginas de relatos verídicos e aborda vários assuntos pertinentes ao comportamento humano, mas o ápice da obra é após o Hajj, sobre recordarmos de Allah, que Allah recordará de nós. Malcolm X dispensou parte do seu tempo para fazer um relato transparente com o intuito de contribuir para a sociedade, pois trata-se de um relato de uma vida inteira e que, tragicamente, ele chegou a prever que seria interrompida pela violência.

A biografia de Malcolm X é um exemplo de como Allah guia a quem quer. Malcolm jamais escondeu que foi um ex-presidiário. Num dos seus relatos, afirma que o teste mais difícil que já enfrentou na vida foi rezar. Estava ele no presídio quando levou pelo menos uma semana para curvar os joelhos para rezar.

Quando Malcolm conheceu o Islã estava distante das ruas e dos vícios. A busca pelo conhecimento tornou-se um hábito, conforme ele mesmo afirma na página 176:

Já sabia, quando ainda estava na prisão, que a leitura mudara para sempre o curso da minha vida. Pelo que entendo hoje, a leitura despertou dentro de mim uma ânsia há muito adormecida de estar mentalmente vivo.

Antes de deixar o presídio, Malcolm libertou-se dos antigos vícios e se corrigiu passando a praticar o Islã. No guia para o Novo Muçulmano, p. 38 lemos que: O Islã proíbe tudo que possa afetar a razão e a consciência, porque a razão é uma das maiores graças que Allah nos concedeu e ela é baseada na dignidade humana. É através da razão que se julga tudo nesta vida e na outra.

Quando finalmente livre, tornou-se membro e Ministro da Nação do Islã. Destacou-se como hábil orador e frequentemente era entrevistado.  Durante 12 anos, representou a Nação do Islã até que foi sentenciado a se manter em silêncio por 90 dias após tecer comentários sobre a morte de JFK Posteriormente, romperia com a doutrina, e finalmente, em Meca, descobriria divergências que o libertariam da antiga crença. “Foi na sua primeira viagem a Meca que Malcolm chegou à conclusão de que ainda precisava descobrir o Islã”. p.13 “O Islã que acreditava agora era o Islã ensinado em Meca… que não havia outro Deus que não Alá e que Muhammad ibn Abdullah (Maomé), que vivera na cidade Santa de Meca 1.400 anos antes, era o último mensageiro de Alá.” p. 350

Embora conhecido por seus debates polêmicos e por considerar o homem branco um inimigo, após a peregrinação, é possível ver o seguinte discurso:

“No passado, é verdade, fiz acusações amplas contra todos os homens brancos. Nunca mais voltarei a ser culpado disso, porque sei agora que alguns brancos são realmente sinceros, que alguns são realmente capazes de serem fraternais com um homem preto. O verdadeiro Islã ensinou-me que uma acusação indiscriminada contra todos os brancos é tão errada quanto a acusação indiscriminada dos brancos contra todos os pretos.” p. 341

Malcolm X foi casado com a muçulmana Betty, tiveram 4 filhas, não acumulou riquezas, fez a peregrinação apenas porque sua irmã emprestou-lhe uma quantia necessária e influenciou muitos a conhecerem o Islã por causa de seu discurso sincero. Quem leu a carta que Malcolm X escreveu na Terra Santa?

“Sou pela verdade, não importa quem a diga. Sou pela justiça, não importa quem esteja a favor ou contra. Sou um ser humano primeiro e acima de tudo; como tal, sou por qualquer um ou qualquer coisa que beneficie a humanidade como um todo.” p. 344


Carta de Malcolm X

(do livro A Autobiografia de Malcolm X – Alex Haley, p. 321-323)

Eis aqui o que escrevi… do fundo do meu coração:

“Jamais conheci uma hospitalidade tão sincera e um espírito tão superior da verdadeira fraternidade como os que são praticados por pessoas de todas as cores e raças aqui na Terra Santa, o lar de Abraão, Maomé e todos os outros profetas das Sagradas Escrituras. Ao longo da última semana, tenho estado atônito e fascinado pela boa vontade e cordialidade que vejo ao meu redor, praticadas por pessoas de todas as cores.

“Fui abençoado pela oportunidade de visitar a Cidade Santa de Meca. Já fiz sete circuitos em torno da Kaaba, levado por um jovem Mutawaf chamado Muhammad. Tomei água da fonte de Zem Zem. Corri sete vezes entre as colinas de Al-Safa e Al-Marwah. Rezei na antiga cidade de Mina e rezei no Monte Arafat.

“Vi dezenas de milhares de peregrinos de todas as partes do mundo. Eram de todas as cores, de louros de olhos azuis a africanos de pele preta. Mas estávamos todos participando do mesmo ritual, exibindo um espírito de união e fraternidade que minhas experiências na América haviam-me levado a acreditar que nunca poderiam existir entre os brancos e os não-brancos.

“A América precisa compreender o Islã, porque é a única religião que pode erradicar de sua sociedade o problema racial. NaS minhas andanças pelo mundo muçulmano, tenho-me encontrado, conversado e até mesmo comido junto com pessoas que na América seriam consideradas brancas… mas a atitude branca fora eliminada de suas mentes pela religião do Islã. Nunca antes eu tinha visto uma fraternidade tão sincera e verdadeira praticada por pessoas de todas as cores em comunhão, independente de suas cores.

“Podem estar chocados ao tomarem conhecimento de tais palavras, partindo de mim. Mas tudo o que vi e experimentei nesta peregrinação levou-me a reformular consideravelmente os padrões de pensamento que tinha anteriormente, revogando algumas das minhas conclusões prévias. O que não foi difícil para mim. Apesar das minhas convicções decididas, sempre fui um homem que procura enfrentar os fatos e aceitar a realidade da vida, à medida que novas experiências e novos conhecimentos se apresentam. Sempre mantive a mente aberta e receptiva, o que é necessário para a flexibilidade que deve ser inerente a qualquer busca inteligente e sincera da verdade.

“Durante os últimos 11 dias, aqui, no mundo muçulmano, tenho comido do mesmo prato, bebido do mesmo copo e dormido na mesma cama (ou tapete), sempre rezando ao mesmo Deus, com irmãos muçulmanos cujos olhos são do azul mais azul, os cabelos do louro mais louro, a pele do branco mais branco. E nas palavras, atos e ações dos muçulmanos ‘brancos’ senti a mesma sinceridade que encontrei entre os muçulmanos africanos pretos da Nigéria, Sudão e Gana.

“Éramos verdadeiramente iguais (irmãos), porque a convicção em um só Deus removera o ‘branco’ de suas mentes, o ‘branco’ do seu comportamento e o ‘branco’ de suas atitudes.

“Pude compreender, por isso, que se os americanos brancos puderem aceitar a Unidade de Deus, talvez então possam aceitar também na realidade a Unidade do Homem… e deixar de avaliar, estorvar e prejudicar os outros com base em suas ‘diferenças’ de cor.

“Com o racismo atormentando a América como se fosse um câncer incurável, o chamado coração branco ‘cristão’ americano deveria ser mais receptivo a uma solução já comprovada para um problema tão destrutivo. Talvez se possa chegar à solução a tempo de salvar a América do desastre iminente, a mesma destruição imposta à Alemanha pelo racismo e que acabou por destruir os próprios alemães.

“Cada hora que passo aqui, na Terra Santa, permite-me ter perspectivas mais amplas e profundas, em termos espirituais, do que está acontecendo na América entre pretos e brancos. O negro americano nunca pode ser culpado por suas animosidades raciais, pois está apenas reagindo a 400 anos de racismo cosciente dos brancos americanos. Mas enquanto o racismo leva a América pela trilha do suicídio, acredito firmemente, pelas experiências que com eles tive, que os brancos de geração mais jovem, nos colégios e universidades, verão as palavras na parede e muitos se voltarão para o caminho espiritual da verdade… o único caminho deixado à América para evitar o desastre a que o racismo inevitavelmente levará.

“Nunca fui tão honrado e homenageado. Nunca me senti tão humilde e insignificante. Quem poderia acreditar nas bênçãos com que foi cumulado um negro americano? Há poucas noites, um homem que na América seria considerado um homem ‘branco’, um diplomata na ONU, um embaixador, um companheiro de reis, cedeu-me a sua suíte de hotel, a sua cama. Por intermédio desse homem, Sua Excelência o Príncipe Faisal, que governa a Terra Santa, foi informado da minha presença em Jedda. Na manhã seguinte, o filho do Príncipe Faisal informou-me pessoalmente que, por vontade e determinação de seu estimado pai, eu seria um Hóspede Oficial do Estado.

“O próprio Subchefe do Protocolo levou-me ao Tribunal Hajj. Sua Santidade Xeque Muhammad Harkon aprovou pessoalmente a minha ida a Meca. Sua Santidade deu-me dois livros sobre o Islã, com seu sinete e autógrafo pessoais, dizendo que rezava para que eu me tornasse um bem-sucedido pregador do Islã na América. Um carro, um motorista e um guia foram postos à minha disposição, permitindo-me viajar pela Terra Santa quase à vontade. O governo providencia alojamentos com ar-condicionado e empregados para me servirem em todas as cidades que visito. Jamais eu teria sequer pensado em sonhar que um dia seria o alvo de tantas honrarias… honrarias que na América seriam concedidas a um rei, nunca a um negro.

“Todo Louvor cabe a Alá, o Senhor de todos os Mundos.”

El-Hajj Malik El Shabazz

(Malcolm X)


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