Tafsir dos versículos 7-10 da Suratul Ma’idah – Da Mesa Servida (Capítulo 5)

Tafsir dos versículos 7-10 da Suratul Ma’idah – Da Mesa Servida (Capítulo 5)
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Justiça Mesmo ao Lidar com os Inimigos

Até este ponto o capítulo traçou uma série de instruções concernentes aos tipos de comida permitidas aos crentes, purificação e outros assuntos. Por outro lado, comentando estas instruções, o capítulo relembra os crentes das bênçãos que Deus tem derramado sobre eles quando aceitaram a fé e aliança que foi feita para que ouvissem e obedecessem.


Ele fez com que eles escutassem e obedecessem. Certamente é esta aliança que os admite como parte do rebanho do Islam. Os próximos versículos relembram-nos o temor a Deus e que Ele está ciente de todos os pensamentos que as pessoas podem ter.

“E recordai-vos das mercês de Deus para convosco e da promessa que recebeu de vós, quando dissestes: ‘Ouvimos e obedecemos!’ Temei, pois, a Deus, porque Ele, do íntimo dos peitos, é Onisciente. Ó vós que credes! Sede perseverantes na causa de Deus, sendo testemunhas com equanimidade. E que o ódio a um povo não vos impulsione a serdes injustos. Sede justos: isso está mais próximo da piedade, e temei a Deus. Por certo, de tudo quanto fazeis, Deus é Conhecedor. Deus prometeu aos fiéis que praticam o bem uma indulgência e uma magnífica recompensa. Porém, os que renegam a fé e desmentem os Nossos sinais serão os companheiros do Inferno.” (Versículos 7-10)

A primeira geração à qual foi endereçada o Alcorão estava completamente consciente da extensão das bênçãos que Deus enviava sobre eles através da revelação desta religião. Eles sentiam as transformações neles mesmos, na suas vidas, sua comunidade e não posição que eles ocupavam entre os seres humanos. Uma simples referência a esta bênção era sempre suficiente para que voltassem sua atenção ao grande e inegável fato da vida. Similarmente, uma referência à aliança com Deus que os exortava a ouvir e obedecer despertava neles um sentimento de dignidade, já que eram a segunda parte em um contrato feito com Deus, o Todo-Poderoso. Para um crente que contempla essa relação, isso é algo realmente grandioso. Por isso, é suficiente lembrá-los de seu dever de permanecerem tementes a Deus. Eles estavam sempre conscientes de Deus: “E recordai-vos das mercês de Deus para convosco e da promessa que recebeu de vós, quando dissestes: ‘Ouvimos e obedecemos!’ Temei, pois, a Deus, porque Ele, do íntimo dos peitos, é Onisciente” (versículo 7).

O Alcorão, frequentemente, usa uma declaração altamente expressiva e evocativa que Deus possui plena consciência dos pensamentos mais íntimos ou dos segredos que guardam os corações das pessoas. Em árabe, esta expressão combina precisão e beleza inspiradora. Fala de algo que está sempre presente no coração. Esta é uma referência a sentimentos e pensamentos secretos. Tão profundamente quanto uma pessoa pode enterrar esses segredos, eles são inteiramente conhecidos por Deus.

Um Gigantesco Abismo

Parte da aliança – com a qual Deus tem vinculado à comunidade muçulmana – dirige o relacionamento com outras pessoas sob absoluta justiça, o que não deve ser afetado por sentimentos de amor ou ódio, por interesses ou convenções de qualquer espécie. É a justiça com base no dever de permanecer firme na devoção a Deus. Nenhuma influência é jamais permitida para inclinar a balança da justiça a um dos lados, especialmente quando os crentes estão conscientes de que Deus cuida deles e sabe o que está no fundo de seus corações. Eles compreendem integralmente esta passagem: “Ó vós que credes! Sede perseverantes na causa de Deus, sendo testemunhas com equanimidade. E que o ódio a um povo não vos impulsione a serdes injustos. Sede justos: isso está mais próximo da piedade, e temei a Deus. Por certo, de tudo quanto fazeis, Deus é Conhecedor” (versículo 8).

Anteriormente, neste capítulo, Deus proibiu aos crentes que nutrissem ódio contra aqueles que não permitiram que entrassem na Mesquita Sagrada, em Meca, e que aquilo se tornasse um ato de agressão contra eles. Este é, de fato, um padrão alto de autocontrole e tolerância, para o qual foram elevados pelo sistema Divino. Agora, eles são ordenados a não se afastarem da justiça através do ódio. Trata-se de um nível ainda mais elevado, o que é muito mais difícil de se atingir. O primeiro retrata uma fase que exige que não haja agressão. Já neste caso, são obrigados a manter a justiça apesar de seus sentimentos de ódio e hostilidade. A primeira etapa se encerra em uma atitude passiva que requer autocontrole. A segunda é uma atitude proativa que garante a justiça para as pessoas que são hostis e detestadas pelos crentes.

Este sistema Divino, que aflora o melhor no homem, acaba sendo um objetivo difícil. Entretanto, há um alento: “Ó vós que credes! Sede perseverantes na causa de Deus…” E, estas instruções são concluídas com um comentário que auxilia na busca de se alcançar este objetivo: “e temei a Deus. Por certo, de tudo quanto fazeis, Deus é Conhecedor”.

Nenhum ser humano pode atingir este patamar a menos que trate do assunto diretamente com Deus. Este é o resultado que surge quando as pessoas são firmes em sua devoção a Deus, dedicando seus sentimentos simplesmente a Ele, temendo ninguém mais, além d’Ele e conscientizando-se que Ele conhece os seus pensamentos mais íntimos. Nenhuma consideração terrena pode elevar os seres humanos a um padrão tão alto, mantendo-os lá. É um padrão atingível somente através de absoluta dedicação a Deus. Da mesma forma, nenhuma fé ou sistema na terra garante absoluta justiça para os inimigos mais detestáveis da mesma forma que esta religião. Isso é porque o Islam se dirige àqueles que acreditam nele, deixando claro que, mesmo quando têm de administrar a justiça para com seus inimigos, estão lidando com Deus e devem livrar-se de qualquer outra consideração. Com esses elementos básicos, o Islam tem mantido o seu papel de última religião universal (para a humanidade). Seu sistema garante a toda humanidade, acreditando ou não, a existência da justiça. A justiça absoluta é um dever de qualquer muçulmano e deve-se cumprir esse dever para com Deus – não importando se o ódio é apresentado através de outras pessoas.

Difícil e duro como esse dever é para a comunidade muçulmana, também é obrigatório por causa de seu papel de liderança na humanidade. O papel da liderança foi determinado e preenchido por esta comunidade e todas as suas condições foram satisfeitas quando os crentes nesta fé implementaram-nas. Para eles, estas instruções não eram meras recomendações ou ideais, mas uma realidade que deveria ser praticada em suas vidas diárias. A história da humanidade, nunca antes – nem jamais – testemunhou qualquer padrão como este em prática, tornando-se uma realidade apenas durante os períodos brilhantes na história em que o Islam foi implementado como uma forma de vida. A história nos dá numerosos casos e exemplos que testemunham estas normas e regras impostas por Deus e transformadas em um sistema prático, integralmente aplicadas no cotidiano da comunidade islâmica. Elas não eram apenas ideais que deveriam ser homenageados. Nem eram exemplos individuais. Elas deixaram sua marca na vida prática, à medida que as pessoas sentiram que aquela era a única maneira de viver.

Quando observamos a alta cúpula dentre os seres humanos, em todos os períodos de escuridão, em toda a Terra, incluindo o tipo de escuridão que vivemos nos tempos modernos, damo-nos conta de quão grande é o abismo entre um sistema concebido por Deus – para ser implementado na vida humana – e sistemas elaborados pelo homem. A diferença entre os efeitos causados nas vidas das pessoas, comparativamente entre estes dois sistemas: humano e Divino é demasiado grande.

As pessoas podem defender certos princípios, mas a defesa é uma coisa e a prática destes princípios, em realidade, é outra. Na verdade, muitas vezes há pessoas que não colocam em prática os princípios que admoestam os outros a adotarem. As pessoas não somente devem ser informadas a implementarem certos princípios em suas vidas, mas, o mais importante é que este chamado venha de alguma autoridade que tenha, sobre as consciências e sentimentos, alguma influência. Outro enorme fator instrumental é o conhecimento das pessoas em relação ao último árbitro no resultado final dos esforços que elas têm ao praticar estes princípios O verdadeiro valor deste apelo religioso às pessoas implementarem aqueles princípios vem das influências dos exercícios da religião sobre as pessoas. Mas quando uma chamada é feita apenas por uma determinada pessoa, temos de perguntar qual apoio que tal apelo possui, que autoridade exerce sobre as mentes das pessoas e que recompensa pode haver para aqueles que trabalham duro para aplicar estes princípios. Milhares de pessoas podem clamar por justiça, purificação, libertação, abnegação, tolerância, amor, sacrifício e assim por diante… O seu apelo, no entanto, não motiva ninguém porque não possui o apoio adequado. Não é a admoestação em si que é mais importante, mas sim o poder por trás dela.

As pessoas podem escutar outros advogando certas ideias, mas o que de prático vem através disso? O fato é que eles conhecem, por natureza, que esta defesa vem de pessoas como elas, as quais dividem os mesmos níveis de ignorância e fraqueza e que possuem preconceitos similares aos deles próprios. No fim do dia, tal defesa produz, apenas, um mínimo efeito nas vidas deles.

Diretivas religiosas, por outro lado, são complementadas por medidas práticas que visam moldar a vida de uma certa maneira. Se a religião fosse confinada a diretivas e rituais, então as diretivas permaneceriam sem aplicação prática, como vemos hoje em todos os lugares. Um modo de vida completo sobre a base da religião é necessário para permitir que as suas diretivas sejam colocadas em prática em situações da vida em que estas e as práticas se complementem. Esta é a visão islâmica de uma religião sistemática e completa,  regulamentando todos os aspectos da vida.

Quando este conceito de religião é colocado em prática pela comunidade islâmica, então, esta comunidade ocupa a posição mais alta na sociedade humana.


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O Islam

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