A Distância entre Palavras e Acções

A distância entre Palavras e Acções

 

 

Por Sheikh Salman Al-'Audah

 

A distância entre palavras e ações, ou melhor, a distância entre o que se diz e o que se faz.

 

 

Porque dizer a verdade é uma faceta da ação, referida como a ação da língua. É a primeira acção concreta que alguém faz quando anúncia a sua entrada no Islam: “Testemunho que ninguém tem o direito de ser venerado excepto Allah (Deus) e Muhammad é o Seu Mensageiro”.

 

O título deste artigo é tirado do famoso poema de At-Taghree, “Lamiyatul-'Ahm”, onde ele diz:

“A lealdade tem diminuído enquanto a traição é próspera,

E a distância aumentou entre palavra e acção.”

 

Mas o que digo aqui mais especificamente é a importância da ação como um valor fundamental no Islam, em termos de manter a religião e em termos de desenvolver o mundo à nossa volta. A indispensabilidade da ação, por si só, é o maior princípio que é apoiado por centenas de textos no Qur'an e na Sunnah.

 

O sucesso ou fracasso do indivíduo, a força ou fraqueza de uma sociedade, e a felicidade deste mundo com Salvação no próximo, todos dependem de ação. Ou, no julgamento do juri, boas ações são o valor reconhecido cujos resultados propícios serão vistos em curto e longo prazo.

 

Estas boas acções devem cumprir duas condições importantes:

  1. Uma intenção apropriada, ou podemos dizer, sincera.
  2. Deve estar de acordo com a Sunnah e a Shari'ah, também referida como “exatidão”.

 

Ambas as condições são referidas neste verso:

“... para pôr à prova qual de vós é melhor em obras...” [Qur'an 67:2]

 

A bondade da ação gira em torno de duas questões: sinceridade para com Deus e aproximação à Shari'ah (lei islâmica). Por esta razão o verso no Qur'an tem a expressão “qual de vós é melhor em obras”.

 

O comentário de Fudail Ibn 'Iyad neste verso no capítulo Al-Mulk é bem conhecido. Ele disse referindo-se a “melhor em obras” que seria "o mais sincero e o mais correcto". Se uma ação é feita sinceramente mas não é correta, não é aceite. E se é correta mas não foi feita de forma sincera, também não é aceite. É só aceite quando é feita sinceramente e corretamente.

 

Eu tentei enumerar as vezes que “boas obras/ações” são mencionadas no Qur'an. Estas 2 palavras foram mencionadas juntas cerca de 19 vezes.

 

A palavra "ação" ou "obra" quando justaposta com outro adjectivo que não seja “boa” aparece muitas mais vezes. De acordo com uma rápida contagem, aproximadamente 300 vezes. É uma indicação clara da importância das ações na vida. Até quando se está a morrer, uma ação da intenção é requerida. É por isto que Deus diz:

“... não morreis senão enquanto muslims.” [Qur'an 2:132]

 

Nas escolas de pensamento ocidental em geral, mais especificamente na América, uma nova maneira de pensar (“pragmatismo”) surgiu. Esta concentra-se principalmente no trabalho e produção. Esta filosofia sustenta que benefícios reais e palpáveis são o critério do conhecimento. O que significa que o conhecimento verdadeiro é aquele que pode ser aplicado na prática e não apenas o conhecimento teórico que é distanciado da vida diária.

 

O louvor divino para a ação implica desdém por duas coisas que estão fora do caminho da verdade:

  • A primeira é o trabalhador que não está no caminho certo e que não tem conhecimento das leis divinas. São aqueles, cujas ações são descritas como sendo más. A ação mundana não terá o fruto desejado porque não foi baseada na visão adequada ou sobre a experiência certa.

 

Isto é o que Deus diz:

“Nesse dia haverá rostos humilhados, preocupados, fatigados. Queimar-se-ão num fogo incandescente. Dar-se-lhes-á de beber de uma escaldante fonte.” [Qur'an 88:2-5]

“Diz Muhammad: “Informar-vos-emos dos mais perdedores, em obras?” [Qur'an 18:103]

 

Todos os grupos estão fora do caminho de Deus estão nesta categoria de pessoas. A sua adoração a Deus está misturada com ignorância e falsidade. Tal como os servos e trabalhadores das pessoas que praticam inovações, independentemente se são Khawarij (uma antiga seita que em erro considerava muçulmanos que cometem grandes pecados como descrentes, em vez de pecadores), ou Sufis ("místicos" que acreditam que o conhecimento dos seus sheikhs é uma fonte de conhecimento em pé de igualdade com a revelação, ou mesmo acima dela.) ou outros.

 

De forma semelhante, escolas de pensamento revolucionárias que não formam as suas ideias na orientação divina também estão nesta categoria. Baseiam os seus esforços e ações em falsas premissas. A sua situação é como Deus descreveu:

“...aqueles, antes deles, usaram estratagemas, e Allah chegou à sua edificação, pelos alicerces. Então, o tecto ruiu e sobre eles, e o castigo chegou-lhes por onde não perceberam.” [Qur'an 16:26]

 

O exemplo mais ilustrativo nos nossos tempos, dentro desta categoria, é o Comunismo; As suas raízes filosóficas, políticas e sociais. A maioria dos seus defensores não esperava resultados tão desastrosos. Todos os seus esforços resultaram em danos e tornaram-se preocupados em encontrar formas de apoiar um sistema tão atrasado.

 

  • A segunda é aqueles que preferem inatividade e conforto. É a filosofia que é cega ao caminho de Deus. Nela, o homem quer que todos os seus desejos se tornem realidade sem qualquer esforço.

 

A natureza do Homem em termos de ser ativo e de construir e trabalhar torna a existência desse grupo duvidosa, na melhor das hipóteses. Mas as qualidades fundamentais deste grupo manifestam-se de diferentes maneiras. Por exemplo, aqueles que persistem em seguir as suas paixões e desejos, ou aqueles que pensam que é suficiente fazer parte de um slogan ou nome.

 

Os judeus diziam “o fogo só nos tocará por breves dias”. Depois vieram os cristãos com palavras semelhantes e a dizer que são as crianças de Deus e os que Ele ama.

 

Depois deles vieram os muçulmanos, dos quais, aqueles que seguiam as nações antigas, dizendo “seremos perdoados”.

 

Sim, o verso que contém o que os judeus disseram é primeiramente para os judeus e cristãos. Mas, também é para os muçulmanos...

 

Esta segunda categoria também inclui aqueles que não têm qualquer objectivo para o qual trabalham. São meros prisioneiros das suas circunstâncias e rotinas diárias. O seu comportamento não é dirigido por uma ideologia e o seu trabalho não está ligado a uma importante missão. Eles estão afogados em trabalho que não faz sentido. Um deles vai trabalhar para pagar a hipoteca da sua casa. E ele vem para casa dormir, comer e beber apenas para ser capaz de encontrar a energia para desempenhar as suas tarefas no trabalho! Uma máquina, sem um espírito é o que ele se tornou. Aquele que se encontra nestas circunstâncias nem sequer sonha com a situação precária em que está.

 

Mais abaixo, no buraco, está a escola filosófica que não dá valor ao intelecto. Para eles, o que é considerado pelo homem como sendo existente é, de facto, inexistente. Eles não acreditam nos valores. O seu objectivo é destruir, sem oferecer uma alternativa. O partido russo propagou esta ideologia em 1870. O seu objetivo era destruir a estrutura social, sem ter qualquer intenção de substituí-la com outro sistema.

 

Muitos são aqueles que se queixam sobre a realidade em que vivem. Esforçam-se para destruir a estrutura da sua sociedade, sem se importar com o fato de que o sistema consequente será o caos. As palavras de um deles foram "Destruição para mim e para o meu inimigo”.

Um poeta árabe disse: "Muitos dias eu chorei, e quando veio outro dia eu chorei mais que o anterior".

 

 

Fonte: Islaam.com