O Contexto dos Versículos sobre Jihad

O Contexto dos Versículos sobre Jihad
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Por Abu Muawiyah Ismail Kamdar

As Surahs de Jihad


 As próximas duas Surahs são a Surah Al-Anfaal e a Surah At-Tawbah. Estas duas são comumente conhecidas como as Surahs de Jihad e o seu tema é bem conhecido. Elas giram em torno das lições e leis relacionadas às batalhas chave na vida do Profeta (sallallahu ‘alayhi wa sallam). O contexto dos versículos de Jihad devem ser compreendidas, e é nisso que nos focaremos aqui.

Surah Al-Anfaal foi revelada pouco tempo depois da primeira grande Batalha no Islam, a Batalha de Badr, que também teve lugar no Ramadan. Após 15 anos de opressão às mãos dos Quraysh, os muçulmanos encontraram-se enfrentando os seus opressores numa batalha inesperada. Os muçulmanos estavam numa forte desvantagem numérica e mal preparados para o combate. Contudo, com a ajuda de Allah, venceram decisivamente, e os líderes tiranos de Makkah foram todos mortos em batalha.

Esta batalha marcou o começo de uma nova fase na História Islâmica. Os muçulmanos não eram mais uma minoria oprimida que não se podia defender. Eram agora a sua própria comunidade e possuíam os meios e a capacidade para lutar contra opressão e permaneceram vitoriosos. A Surah é melhor compreendida no contexto desta batalha e nas suas consequências.

De forma semelhante, a Surah At-Tawbah foi revelada ao longo de múltiplas ocasiões, nomeadamente a Batalha de Tabook e antes da conquista de Makkah. É importante notar que a Batalha de Tabook não foi realmente uma batalha, já que nenhuma luta teve lugar.

O Profeta (sallallahu ‘alayhi wa sallam) saiu com os seus companheiros para enfrentar os Romanos em Tabook. O Romanos então decidiram não comparecer. Esta batalha foi mais um teste de forma a mostrar quem estava disposto a deixar Madinah e a viajar para uma terra distante a fim de lutar contra uma superpotência em defesa do Islam.

A última metade da Surah At-Taubah centraliza-se nos eventos em volta de Tabook e nos incidentes que tiveram lugar durante e após esta jornada, assim como as lições de todos estes. Muitos dos versículos desta Surah podem somente ser compreendidas corretamente à luz destas histórias e eventos.

O início da Surah At-Taubah é uma declaração de guerra de Deus contra os pagãos de Makkah. É importante entender estes versículos no seu contexto. Os muçulmanos de Madinah haviam assinado um tratado de paz de dez anos com os pagãos de Makkah, o qual foi violado por alguns pagãos. Em resposta a essa violação, Deus declarou guerra ao povo de Makkah e ordenou o Profeta (sallallahu ‘alayhi wa sallam) e os seus companheiros lutarem contra eles.

O que se seguiu foi a conquista de Makkah, que em sua maior parte foi um período sem derramamento de sangue, visto que o Profeta (sallallahu ‘alayhi wa sallam) conquistou Makkah com mínima luta, e perdoou os seus inimigos pelos crimes contra ele. Este episódio marcou o início de Makkah como a terra do Islam, o que permanece até aos dias de hoje.

O Contexto dos Versículos de Jihad

É crucial que os versículos destas duas Surahs sejam compreendidas dentro do contexto correto. Elas Surahs falam muito sobre guerra, morte, e conquista. Estes versículos têm sido usados fora do seu contexto tanto por islamófobos assim como por extremistas para pintar a ideia de que os muçulmanos deveriam sempre lutar contra os não-muçulmanos, ou de que é um dever Islâmico matar os descrentes. Esta ideia é completamente absurda e não possui nenhuma base no Islam.

Estes versículos foram revelados em eventos específicos e o Profeta (sallalahu ‘alayhi wa sallam) e os seus companheiros nunca os entederam como uma “regra cobertor” para matar os descrentes. Foi um versículo específico ao contexto de guerra e foi dessa forma que o entenderam.

As evidências para isto são muitas e incluem as seguintes:

1. O ‘versículo da espada’, como as pessoas gostam de o chamar, o qual foi revelado no início da Surah At-Taubah levou à conquista de Makkah, que foi um perdão em massa, e não massacres. Claramente mostrando que não foi concebido da forma que algumas pessoas o interpretam hoje.

2. O Profeta (sallallahu ‘alayhi wa sallam) formulou regras de combate estritas para Jihad, que incluem a proibição de matar mulheres, crianças, não-combatentes e monges. Após a sua morte, estas leis foram mantidas por líderes muçulmanos virtuosos.

3. Os companheiros do Profeta Muhammad (sallallahu ‘alayhi wa sallam) depois do seu tempo, conquistaram muitos países, mas deixaram os habitantes locais seguirem as suas próprias religiões, e apenas pregaram-nos o Islam.

4. Os muçulmanos chegaram a governar terras tão distantes e diversas como Espanha e Índia, mas ainda assim foi permitida total liberdade religiosa aos habitantes locais. Isto aplicou-se a todas as religiões, incluindo o Judaísmo, o Cristianismo, o Budismo, o Hinduísmo, e o Zoroastrismo. É por este motivo que muitas destas terras ainda continuam a ter uma população de maioria não muçulmana.

Para todo aquele que estudou estes versículos dentro do seu contexto, o significado é bastante claro. Os muçulmanos hoje em dia, a nossa grande maioria, não considera estes versículos como um incentivo à violência. Eles foram revelados num contexto particular, e também aplicam-se apenas em tais contextos. Mesmo quando aplicadas, as leis de Jihad e liberdade religiosa para os não-muçulmanos mencionadas acima aplicam-se.

Atualmente, existem mais de um bilhão de muçulmanos no mundo, e 99.9% de nós acreditam que o nosso dever perante os não-muçulmanos é de convite, e não de guerra. Se não acredita em mim, apenas pergunte ao seu vizinho muçulmano. 

Fonte: AbuMuawiyah.Com


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