Agressão a Mulheres é Permitida no Islam? – Sobre o Verso (4:34)

Agressão a Mulheres é Permitida no Islam? – Sobre o Verso (4:34)
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Este texto clarifica os conceitos errados criados pela má tradução do significado das palavras do Qur’an para várias línguas e a má interpretação que resultou nesta ideia de que o Islam permite a agressão. O verso em questão está traduzido para a língua portuguesa como o seguinte:


“Os homens têm autoridade sobre as mulheres, pelo que Allah preferiu alguns a outros, e pelo que despendem de suas riquezas. Então, as íntegras são devotas, custódias da honra, na ausência dos maridos, pelo que Allah as custodiou. E àquelas de quem temeis a desobediência, exortai-as, pois, e abandonai-as no leito, e batei-lhes. Então, se elas vos obedecem, não busqueis meio de importuná-las. Por certo, Allah é Altíssimo, Grande.” (4:34) – Tradução do Dr. Helmi Nasr

Em inglês, este foi traduzido de uma maneira mais forte ainda em muitas traduções, mencionando não só o termo “bater”, mas até “espancar”. Assim, vejo-me obrigada a reunir provas e traduzir conteúdo importante que ajude a desmistificar esta alegação tão perpetuada pelos não muçulmanos e até muçulmanos.

O Tratamento das Mulheres no Islam

O Profeta Muhammad (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) diz-nos que Allah disse: “Antes da criação do universo, Eu proíbi-Me de oprimir e odeio quando alguém oprime”.

Precisamos então perceber a razão pela qual o Islam foi revelado no tempo e lugar onde este surgiu:

  • No Islam, tudo é sobre tratamento/cuidado; como tratamos do nosso Senhor; como tratamos o Seu Mensageiro; como nos tratamos a nós próprios; como tratamos a nossa família; como tratamos os outros; como tratamos o nosso ambiente – é tudo sobre como interagimos e reagimos.
  • Devemos ter em mente a condição das pessoas que não tinham qualquer orientação de Deus Todo-Poderoso e como elas se desviaram bem longe da mensagem que veio com Adão, Abraão, Moisés, Jesus e outros grandes profetas, que a paz esteja com eles todos.
  • A mentalidade ignorante e egoísta que permanecia em todas as terras árabes antes do Islam não permitia às mulheres até os direitos mais básicos e o tratamento para com as mulheres era repugnante. As mulheres eram tratadas como propriedade, até inferior a gado. Elas eram negociadas como mercadorias ou tomadas como esposas sem o seu consentimento ou consideração pelos seus sentimentos (ver artigo Casamento Forçado?). Os costumes das pessoas nesse tempo eram bem longe de tudo o que poderemos imaginar hoje.
  • As afirmações no Qur’an sobre o tratamento das mulheres vieram a melhorar a condição destas e elevar o seu estatuto a um nível balançado ao lado dos homens. O Islam veio para mudar os corações das pessoas e mostrar-lhes a maneira correcta de adorar Allah e de interagir entre si.

Transliteração do Verso em Questão

Ar-rejalu qawwa muna ‘alan-nisa’a bima fadhdhallahu ba’dhahum ‘ala bi’dhi wa bima anfaqu min amwalihim. Fas-saliHatu qaintat HafaTHatul-lilghaybi bimaa HafiTHal-lahu, wal-lati takhafuna nushuza hunna fa’idhuu hunna wa hjaruu hunna fiil-lmadha ji’i wadhribu hunna. Fa’in aTa’nakum flaa tabghuu ‘alayhinna sabiilan. Innal-laha kaana ‘aliyaan kabiira(n).

O tafsir (explicação ou comentário de versos do Alcorão) deste verso (4:34) de acordo com alguns sábios é o seguinte:

“Os homens são o apoio das mulheres, pois Deus dá a alguns mais capacidades do que a outros, e porque eles dão da sua riqueza (para as sustentar). Então as mulheres que são virtuosas, são obedientes a Deus e guardam o oculto (das vistas dos outros) como Deus o guardou. Em relação a mulheres que têm um comportamento contrário, falem com elas com boa persuasão, deixem-nas sozinhas na cama e deem-lhes uma palmadinha (como um doutor dá a uma paciente – levemente), se elas abrirem o seu coração a vós, não procurem qualquer meio para as culpar. Por certo, Allah é Sublime e Magnífico.”

O Significado das Palavras

As palavras fa’izu, wahjaru e wadribu, foram traduzidas neste tafsir como “falem com elas com persuasão”, “deixem-nas sozinhas (na cama – fi’l madage’)” e “dêem-lhes uma tapa”, respectivamente.

Fa’idhu (usar discurso persuasivo ou admoestação)

Esta palavra implica que o primeiro passo a dar deve ser fazer claro a elas com conversa directa, a posição em que elas estão e o que é requerido para se obedecer aos ensinamentos do Islam. Este passo pode ser repetido até ela compreender, estar disposta a consentir e voltar ao comportamento que é esperado de uma mulher muçulmana.

Hajara – hjaru (não tocar ou incomodar)

Esta palavra significa separar corpo de corpo, e é de notar que a expressão “wahjaru hunna” metaforicamente significa abster-se de as tocar ou incomodar. Zamakhshari (um autor de tafsir) é mais explícito no seu Kshshaf quando ele diz “não entrem dentro dos seus lençóis”.

Dharaba -dhribu (dêem uma palmadinha leve, como em percussão, não significa bater)

Esta palavra significa dar uma leve palmadinha. Este ponto de vista é reforçado pelos ahadith do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) relatados em vários livros, incluindo Bukhari e Muslim:

“Poderiam alguns de vós bater na sua esposa como se batesse num escravo, e depois deitar-se com ela à noite?”

“Nunca batam nas servas de Allah” (Abu Dawud, Nasa’i, Ibn Majah, Ahmad Ibn Hanbal, etc.)

O melhor de vós é aquele que é melhor para com a sua esposa, e eu sou o melhor de vós para com as minhas esposas” (At-Tirmidhi, 3895; Ibn Majah, 1977; classificado como sahih por Al-Albani em Sahih al-Jaami, 3314).

Alguns tradutores deste verso usaram erradamente a palavra “bater” para representar a palavra “dharaba” em árabe. Esta não é a opinião de todos os sábios ou daqueles que compreendem bem o Islam e a língua portuguesa e inglesa.

Outros tradutores ofereceram palavras como “pancadinha” e “palmadinha” para representar um tipo físico de admoestação. Enquanto sendo mais aceitável do que as palavras “bater” ou “espancar”, estas palavras mesmo assim não mostram a posição e uso de tais termos em relação ao primeiro verso e a conexão à seguinte passagem, na qual as claras instruções lidam com as mulheres que não se comportam. Logo, esta deve ser considerada como “uma tapa dada por um doutor a um paciente”.

Nós entendemos disto que algumas traduções não estão a representar correctamente o espírito do significado. Assim, elas não podem ser consideradas como representantes do que foi pretendido por Deus Todo-Poderoso.

Agora podemos perceber correctamente que Deus Todo-Poderoso ordenou aos homens sustentar as mulheres e a permiti-las guardar todas as suas (das mulheres) riquezas, herança e salário sem exigir qualquer coisa delas para ajuda e sustento. Adicionalmente, se ela é culpada de obscenidade ou conduta indecente, o marido é ordenado a admoestá-la primeiro, e então ela deve parar com este comportamento. No entanto, se ela continua com esta indecência, então ele não deve partilhar a cama com ela (ele dorme noutro lugar), e isto deve continuar por um tempo. Finalmente, se ela se arrepender, então ele partilhará a cama com ela outra vez.

O Dr. Jamal Badawi (St. Mary University, Nova Scotia) é da opinião de que estes três passos são passos a dar necessários antes do divórcio. Em vez de um homem dizer “Eu divorcio-me de ti” três vezes seguidas, ele deve seguir este procedimento antes de agir apressadamente e fazer algo imprudente e desagradável a Allah. O primeiro passo seria como mencionado acima, ter uma “boa conversa” e se ela continuar com um comportamento desagradável, deixar a cama (não ter relações sexuais com ela) por um tempo e, finalmente, a última gota seria dar uma leve “palmadinha” no seu braço, para lhe mostrar que esta é a última gota e que se ela persistir com as suas más maneiras, ele pode divorciar-se dela.

Independentemente das várias posições e opiniões, não há permissão nos ensinamentos do Qur’an e da Sunnah de Muhammad, que a paz esteja com ele, que indiquem que uma pessoa pode “bater” noutra pessoa a seu próprio critério.

Quaisquer traduções do Qur’an que indiquem que os homens podem bater ou abusar das mulheres estão totalmente desconectadas da mensagem do Islam, do resto do Qur’an e dos ensinamentos de Muhammad, que a paz esteja com ele.

A mulher tem direito a pedir divórcio (khula’) se o marido for abusivo verbal e/ou fisicamente. A seguir encontra-se um veredicto quanto ao assunto:

“Uma mulher tem o direito a pedir divórcio quando o seu marido a trata mal de maneira que ela não possa suportar nem ser paciente, ou se ele não cumprir com a sua obrigação financeira para com ela, ou se ele é alguém que participa em más acções – se ela pensa que deixá-lo está de acordo com o seu melhor interesse e protegerá a sua devoção ao Islam e a sua castidade.”

Fatwa de Shaykh Waleed al-Firyaan

Fontes utilizadas: IslamQA e Islam’s Women

Leia também: A Mulher no Islam e o Feminismo


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