A Paciência (Sabr)

A palavra sabr, na língua árabe, vem do verbo sabara – ser paciente e perseverante; indica também atrasar-se, imobilizar-se. Na shari’a isso significa: proteger a alma da inquietação; salvaguardar a língua da reclamação e segurar as mãos (de bater em si mesmo, rasgar as roupas e ações semelhantes). (Ibn Qayim, 750H)
Saiba que sabr vem subdividido em três tipos:
- Sabr para cumprir as ordens de Allah (sabr ad da’ah)
- Sabr para abandonar ou manter distância das proibições de Allah (sabr am ma masiyah)
- Sabr com o decreto Divino em relação às dificuldades, calamidades e aflições (sabr fi qadaa wa qadr)
Testes enfrentados pelos crentes:
Relatado por Annas, que Allah esteja satisfeito com ele: o Mensageiro de Allah, sala Allahu alaihi wa sallam, disse: “Sempre que Allah tem a intenção de fazer o bem a um de seus servos, Ele apressa-Se em puni-lo neste mundo. E sempre que Allah tenciona um mal a um servo, Ele adia a punição para o Dia do Quiyamah (Juízo).” (Tirmidhi, 2398; autenticado por al Albaani, Sahiha 1220)
Seu dito: “Sempre que Allah tem a intenção de fazer o bem a um de seus servos, Ele apressa-Se em puni-lo neste mundo” significa que este servo será afligido por dificuldades devido aos pecados que cometeu. Assim, ele estará limpo daqueles pecados no Dia do Quiyamah, não tendo que contabilizar nenhum destes erros cometidos.
Shaikhul-Islaam Ibn Taymiyah disse: “As aflições são, realmente, uma forma de benção, uma vez que elas expiam pecados cometidos e levam a pessoa a ter sabr – o que implica numa enorme recompensa. Da mesma forma, levam a pessoa a recorrer a Allah, e arrependimento, sendo humilde e submisso diante d’Ele… Existem, além destas, outras grandes vantagens…”
Então, as calamidades que recaem sobre as pessoas são a conseqüência de Allah limpando os seus pecados e podemos considerá-las grandes bênçãos. Elas são uma fonte de misericórdia e graça e provém à pessoa um temor de cair no pecado ou na desobediência novamente.
É claro que estas dificuldades podem significar um grande mal para a religiosidade de certas pessoas. Certamente, há pessoas que – quando afligidas por um teste ou dificuldade, como a pobreza, doença, fome – podem aumentar a hipocrisia em seus corações ou podem demonstrar ingratidão para com seu Senhor, ou ainda, podem abandonar as obrigações ou cometer atos ilícitos. E tudo isso prejudica a vida religiosa e espiritual daquela pessoa.
Então, para se manter protegido contra estas aflições e testes, é necessário ter paciência, sabr, para passar por elas e tomá-las como bênçãos e não transformá-las em prejuízos. Aqueles que se mantêm pacientes e obedientes ao seu Senhor nos momentos difíceis, entendendo que aquilo é uma conseqüência da misericórdia de Allah, aza wa jal, adquirem mais força para continuarem em seus caminhos e também obtêm uma recompensa no Dia da Prestação de Contas, insha’Allah.
Allah, subhanahu, diz na suratal Baqara, ayah 155-157:
“Certamente que vos poremos à prova mediante o temor, a fome, a perda dos bens, das vidas e dos frutos. Mas tu (ó Mensageiro), anuncia (a bem-aventurança) aos perseverantes. Aqueles que, quando os aflige uma desgraça, dizem: Somos de Allah e a Ele retornaremos, estes serão cobertos pelas bênçãos e pela misericórdia de seu Senhor, e estes são os bem encaminhados.”
Recompensas são proporcionais às dificuldades:
Foi narrado por Annas, radi Allahu anhu, que o Profeta, saws, disse: “As recompensas são proporcionais às aflições. Se Allah ama um povo, Ele inflige neles uma calamidade. Quem aceita, Allah congratula-Se e quem se ressente, desagrada a Allah.” (Tirmidhi e Ibn Maja, classificado como hasan por sheikh Al Albaani, Sahiha, 146)
Da mesma forma, narrado por Mahmud Bin Lubaid, o Mensageiro de Allah, saws, disse: “Sempre que Allah ama um povo, envia aflições sobre ele. Então, aqueles que suportam estão dentre os pacientes e aqueles que se ressentem estão dentre os ressentidos.” (Ahmad, 5/427; classificado como sahih por Ibn Hajar no Fatihul bari, 10/108)
O significado do primeiro hadith é que quanto maior a aflição, maior será a recompensa. E é mencionado que as aflições trazem outra recompensa: expiação dos pecados. Ibn Qayim disse que o aflito com uma calamidade alcança recompensas, assim como a expiação de seus pecados. Ou seja, se estas aflições foram a causa para a pessoa praticar boas ações – como, por exemplo, tendo sabr, contentando-se com o decreto de Allah, arrependendo-se e buscando o perdão de Allah – então, ela será recompensada por tais ações também
Atingindo a tranquilidade
E ar Ridaa (o prazer de Allah) é mencionada no dito do Profeta, saws: “Todo aquele que está satisfeito, então Allah também está satisfeito com ele” – e este também é um dos atributos de Allah revelado em várias partes do Qur’an e em muitos ahaadith.
“Cuja recompensa está em seu Senhor: Jardins do Éden, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente. Deus se comprazerá com eles e eles se comprazerão n’Ele. Isto acontecerá com quem teme o seu Senhor.” (Bayinah: 8)
A maneira dos Salaf (os predecessores piedosos) e aqueles que os seguem, ahlus sunnah (seguidores dasunnah) é afirmar estes atributos de Allah, os quais Allah, subhanahu wa ta’ala, tem afirmado, Ele mesmo em Seu Livro ou através de Seu Mensageiro, saws – de uma forma que beneficia Sua majestade e grandiosidade – sem tamthil (comparando Allah a qualquer coisa em Sua criação) ou ta’til (separando Allah de Seus atributos). Então, quando Allah, aza wa jal, se congratula com qualquer um de seus servos, tal pessoa merece toda Sua benevolência e está salva de quaisquer males.
Ar Ridaa resume-se em um servo se submeter aos assuntos de seu Senhor – Allah, subhanahu – mesmo que tenha opiniões e conhecimento sobre tal assunto, esperando a sua recompensa. Esta pessoa experimenta, em seguida, a tranqüilidade alegria e amor de Allah sobre ela.
Ibn Kathir, que Allah tenha misericórdia dele, disse:
“O Mu’min (crente) é um povo que tem evitado através do Alcorão, entregar-se aos prazeres deste mundo, que se interpõem entre eles e o que poderia destruí-los. O Mu’min é como um prisioneiro neste mundo, que tenta se libertar de seus grilhões, colocando sua confiança em nada, até o dia em que ele conhece seu Criador. Ele sabe muito bem que é responsável por tudo o que ele ouve, vê e diz, e por tudo o que ele faz com o seu corpo”.
[Al-Bidayah wa al-Nihayah, vol. 9 pg. 276, Cairo 1352 H.]