Um Breve Comentário sobre a Filosofia Islâmica

Um Breve Comentário sobre a Filosofia Islâmica
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Na obra Introdução à Filosofia Islâmica de Massimo Campanini é mencionado que:

“A mensagem do Islã era universalista, dirigida a todos os homens; ela se difundiu com as conquistas, mas não foi imposta pela força, e os muçulmanos respeitaram as civilizações subjugadas. Dessa forma, graças à conquista do Egito, da Síria e da Mesopotâmia, os árabes ficaram em contato com tradições culturais científicas, filosofias e visões de mundo bem mais avançadas e complexas (…)”


Antecedendo aos estudos filosóficos, duas correntes teológicas destacaram-se, foram elas: Mu´tazalitas e Ash’haritas. A filosofia islâmica medieval helenizada, também conhecida como falsafa, teve a influência do pensamento grego, e é pertinente dizer que muitas obras foram traduzidas, tanto para o siríaco, quanto para o árabe. Dentro do islamismo, surgiram alguns filósofos medievais, e como veremos no Discurso Decisivo de Averróis, surgiu também a dúvida: a filosofia poderia ser objeto de estudo de um muçulmano? Embora eu mencione alguns filósofos e obras, seria necessário um estudo mais detalhista. Estou longe de discorrer sobre eles com profundidade, visto que meu objetivo é mencionar a importância da filosofia no mundo islâmico. E confesso que durante a pesquisa eu senti falta de uma quantidade maior de autores tanto no cenário medieval quanto no atual. (Quem sabe este artigo não desperte o filósofo ou filósofa que há em você, caro leitor?)
Eis alguns pensadores do período medieval:

Al-Kindi, (? – 870), denominado “o filósofo dos árabes” destacou-se por traduzir obras filosóficas do grego para o árabe; Al-Farabi, conhecido como segundo mestre. Lia Platão e Aristóteles sem influências teológicas; Avicena (980 – 1037) destacou-se entre os filósofos muçulmanos, não especificamente por ser discípulo de Al-Farabi, e sim pela sua originalidade (conhecimento enciclopédico, etc); AL-Ghazali (1058-1111) célebre muçulmano, jurista e filósofo. Sua maior obra é: O Renascimento das Ciências Religiosas (em 40 volumes). De modo inspirador, analisou as obras de outros filósofos imparcialmente a partir de As Intenções dos Filósofos refutando-as com embasamento filosófico em Incoerência dos Filósofos; Avempace (? – 1139) Racionalista que inspirou Averróis. Possuía vasto conhecimento na filosofia grega. Mas, afinal, quem foi Ibn Rushd (Averróis)? Médico, jurista, filósofo e comentador. Defendido por uns e negado por outros.

No Discurso Decisivo de Averróis, é possível encontrarmos no segundo parágrafo a resposta sobre ser pertinente para um muçulmano ou não o estudo da filosofia, pois alguns julgavam proibido.

“Se o ato de filosofar consiste na reflexão sobre os seres existentes e na consideração destes, do ponto de vista de que constituem a prova da existência do Artesão, quer dizer, enquanto são [semelhantes a] artefatos – pois certamente é na medida em que se conhece sua construção que os seres constituem uma prova da existência do Artesão; e se a Lei religiosa recomenda a reflexão sobre os seres existentes e mesmo estimula para isso, então, é evidente que a atividade designada por esse nome (de filosofia) é considerada pela Lei religiosa, seja como obrigatória, seja como recomendada.”

Ibn Rushd (Averróis) nasceu em Córdoba, em 1126, e morreu em Marrakesh, em 1198. Na apresentação do Discurso Decisivo traduzido por Aida R. Hanania ela afirma que:

“Ressalta, na verdade, como fulcro do Discurso, a intenção de Averróis em ser, ao mesmo tempo, um crente no Islão e um filósofo, e a tentativa permanente de demonstrar que, assim como não há contradição entre Deus e a razão não há também contradição entre a religião e a filosofia.”

Reiterando tal asserção, segundo Massimo Campanini, podemos concluir que:

“A filosofia grega não é alternativa ao Islã nem o integra. O islã não se opõe à filosofia nem a condena. A filosofia grega ocupa-se de problemas filosóficos e políticos; o islã, de problemas filosóficos, teológicos e religiosos. A filosofia grega e o islã, todavia, não chegam a conclusões divergentes sobre questões mais importantes e essenciais. Existe uma compossibilidade recíproca entre religião e filosofia.”

Por curiosidade recorri a livros de filosofia do ensino médio e constatei uma abordagem superficial, limitada a poucos autores muçulmanos (quando estes eram citados). Em alguns Averróis é mencionado, sobretudo, na arte que o retrata no mesmo recinto que São Tomás de Aquino, um de seus leitores. Minha fonte de pesquisa foi em livros, páginas da Internet e artigos acadêmicos. Urge resgatarmos a memória destes pensadores medievais que transformaram o status quo, mesmo sob o risco de serem banidos, caluniados etc. Eles foram exemplos de que verdades prevalecem e a razão nos revela o caminho.

Por Juliane Arruda


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