Tafsir da Surah ash-Shams – do Sol (Capítulo 91)

Tafsir da Surah ash-Shams – do Sol (Capítulo 91)
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Surah Ash Shams

Pelo sol e por sua plena luz matinal!

E pela lua, quando o sucede!

E pelo dia, quando o mostra em plenitude!

E pela noite, quando o encobre!

E pelo céu e por Quem o edificou!

E pela terra e por Quem a distendeu!

E pela alma e por Quem a formou!


Então, lhe inspirou sua impiedade e sua piedade.

Com efeito, bem-aventurado é quem a dignifica.

E, com efeito, mal-aventurado é quem a degrada.

O povo de Thamud, por sua transgressão, desmentiu ao mensageiro.

Quando o mais infeliz deles partiu, empenhado em matar o camelo fêmea,

Então, o Mensageiro de Allah disse-lhes: “Deixai o camelo fêmea – vindo de Allah – e sua porção de bebida.”

E desmentiram-no e abateram-no. Então, por seu delito, seu Senhor esmigalhou-lhes as casas sobre eles, e nivelou-as.

E Ele não teme as consequências disso.

Visão Global

Esta surata, que mantém a mesma rima em todos os seus versos e, também, o mesmo ritmo musical, inicia-se com vários toques estéticos que parecem brotar de fora desse nosso universo circundante ou de seus fenômenos. Estes fenômenos formam o quadro que engloba a grande verdade que é o objeto do

capítulo, ou seja, a natureza do homem, suas habilidades inerentes, a escolha de ação, e responsabilidade em determinar seu próprio destino.

Esta sura também se refere à história do Thamud e sua atitude negativa para os avisos que houveram recebido do Mensageiro de Allah, desde a morte do camelo fêmea, até, finalmente, sua completa aniquilação. Isso fornece um exemplo das pouco promissoras perspectivas que esperam aqueles que corrompem suas almas em vez de mantê-los puras e aqueles que não se contêm dentro dos limites da piedade. “Com efeito, bem-aventurado é quem a dignifica (mantém pura). E, com efeito, mal-aventurado é quem a degreda” (versículos 9-10).

Solene Juramento de Allah

“Pelo sol e por sua plena luz matinal!

E pela lua, quando o sucede!

E pelo dia, quando o mostra em plenitude!

E pela noite, quando o encobre!

E pelo céu e por Quem o edificou!

E pela terra e por Quem a distendeu!

E pela alma e por Quem a formou!

Então, lhe inspirou sua impiedade e sua piedade.

Com efeito, bem-aventurado é quem a dignifica.

E, com efeito, mal-aventurado é quem a degrada.” (Versículos 1-10)

Allah, louvado seja, jura por esses objetos e fenômenos universais como Ele jura pela alma humana, como eles são formados e a inspiração que recebem. O juramento dá a essas criaturas um significado adicional e chama a atenção do ser humano. O homem deveria contemplar esses fenômenos e tentar apreciar o valor dela, assim como a finalidade de sua criação.

Existe, na verdade, uma espécie de linguagem especial, por meio da qual o coração humano se comunica com o universo. Esta linguagem é parte da natureza humana. É uma linguagem que não usa sons ou articulação. É uma comunicação aos corações e uma inspiração para as almas que ganha vida quando o homem olha para o universo com uma visão alegre ou inspiradora. Por isso, o Qur’an, frequentemente, exorta o homem a refletir sobre o seu entorno. E faz isso de várias maneiras, às vezes diretamente e, por vezes, com dicas, toques acidentais e estímulos. Neste caso, por exemplo, alguns fenômenos do universo são objeto do juramento de Deus, a fim de servir como base para o que se segue no capítulo. Essas diretrizes explícitas e sugestões indiretas são muito frequentes nos capítulos do presente volume (a trigésima parte do Qur’an). Não há praticamente nenhum capítulo que não incentive o ser humano, de uma forma ou de outra, a se comunicar com o universo, em linguagem secreta, para que ele possa apreciar seus sinais e entender o seu objetivo.

Aqui temos um juramento inspirador pelo sol e pelo meio da manhã. O juramento também especifica o momento em que o sol nasce no horizonte, quando ele se encontra realmente em sua forma mais bonita. De fato, o meio da manhã é, no inverno, uma época que produz um calor refrescante. E no verão, é um momento em que a atmosfera está, apenas, leve e fresca, antes do calor escaldante do meio-dia, também o sol está no seu momento de mais claridade.

O juramento é, também, pela lua, enquanto ela segue o sol e espalha a sua bela e luminosa luz. Entre a lua e o coração do ser humano existe um fascínio secular que está arraigado no íntimo da alma dos homens. É um fascínio que renasce a cada vez que os dois se encontram. A lua emite seus próprios sussurros e inspirações ao coração humano, e ela canta suas canções de louvor a Allah, o Criador. Em uma noite clara, quase se pode sentir como navegando pelo luar, limpando-se de suas preocupações e desfrutando da felicidade, sente-se a mão do Criador além desta perfeita criação.

Allah também jura pelo dia, uma vez que este revela o sol. O texto árabe deste versículo, wan-Nahari idha jall?h?, torna ambíguo o pronome possessivo ligado a ‘esplendor’. Inicialmente, a pessoa tende a tomá-lo como se referisse ao sol. No contexto geral, no entanto, sugere que ele se refere à terra, quando é iluminada pelo sol. Este método de mudança de referenciais é amplamente empregado no Qur’na, onde a mudança é facilmente notada e o assunto se torna familiar. Aqui temos uma alusão discreta ao fato de que a luz solar revela a Terra e exerce um grande efeito sobre a vida humana. Nossa familiaridade com o sol e sua luz leva-nos a ignorar sua beleza e função. Esta dica do Qur’an nos alerta, novamente, sobre este magnífico espetáculo diário.

O mesmo se aplica ao próximo versículo, “pela noite, quando o encobre” (4). Este é o oposto do que acontece durante o dia. A noite é como uma tela que cobre e esconde tudo. Ela também deixa suas impressões sobre todos, e o seu impacto sobre a vida humana não é menos importante.

Allah, louvado seja, então, jura “pelo céu e por Quem o edificou” (5). Quando o céu é mencionado, nossos pensamentos vão, imediatamente, para o enorme domo – o céu acima de nós, no qual vemos as estrelas e os planetas em movimento, cada um em sua órbita. Mas, estamos, de fato, incertos da exata natureza do céu. No entanto, o que vemos acima de nós suportar a ideia de uma construção civil, pois, parece-nos uma unidade firme e sólida. Quanto à forma como é construído e o que o mantém unido, enquanto flutua no espaço infinito, não temos explicação. Tudo o que tem avançado neste campo é só teoria, passível de ser invalidada ou modificada. Estamos certos, no entanto, que a mão de Allah é aquilo que sustenta esta estrutura em conjunto, como enfatizado no Qur’an: “Por certo, allah sustém os céus e a terra, para que não se desloquem. E, se ambos se deslocassem, ninguém, depois d’Ele, os sustentaria. Por certo, Ele é Clemente, Perdoador” (Qur’an 35: 41). Esta é a única verdade definitiva e absoluta sobre o assunto.

O juramento inclui, em seguida, a terra e sua difusão – como preparatória para o surgimento da vida. Na verdade, a vida humana e animal não teria sido possível se a terra não houvesse se distendido. Certamente, as características especiais e as leis naturais que Allah incorporou na confecção desta terra que tornam a vida em possível, de acordo com Sua vontade e plano. Parece que, se qualquer uma dessas leis for transgredida, a vida na Terra seria impossível ou estaria alterada de seu curso. A mais importante delas é, talvez, a distensão da terra, que também é mencionado no capítulo 79, Os Tiradores: “E a Terra, após isto, estendeu-a. Dela, fez sair água e seus pastos” (Qur’an 79: 30-31). Quando o capítulo menciona a distensão da terra, realmente nos lembra da mão de Allah que tornou isso possível.

Um Olhar Sobre a Alma Humana

O capítulo prossegue para afirmar a verdade básica sobre o homem, e relaciona esta verdade a vários fenômenos do universo, para o homem é uma das maravilhas mais notáveis ??dessa harmoniosa criação: “E pela alma e por Quem a formou! Então, lhe inspirou sua impiedade e sua piedade! Com efeito, bem-aventurado é quem a dignifica. E, com efeito, mal-aventurado é quem a degrada.” (Versículos 7-10).

A base do conceito islâmico da psicologia humana é descrito nestes quatro versículos, junto com o versículo 10 da Surata anterior, A Cidade: “E indicamo-lhe os dois rumos”, e o versículo 3 da Surata 76, O Homem, que diz: “Por certo, guiamo-lo ao caminho, fosse grato, fosse ingrato”. Eles complementam os versículos que apontam a dualidade da maquiagem humana na Surata 38, Sâd, que diz: “Quando teu Senhor disse aos anjos: ‘Por certo, vou criar de barro um homem, e quando o houver formado e, nele, houver soprado algo de Meu Espírito, então, cai prosternados, diante dele” (38: 71-72). Estes versos também suplementam e se relacionam com aqueles que definem a responsabilidade do homem e a responsabilidade por suas ações, tais como os da Surata 74, O Agasalhado, onde se lê: “Cada alma será o penhor do que houver logrado” (versículo 38), e, também, o versículo em Surata 13, O Trovão, que afirma que a atitude de Allah para com o homem está diretamente relacionada ao próprio comportamento do homem: “Por certo, Allah não transmutará o que um povo tem, até que este haja transmutado o que há em si mesmo” (13: 11). Estes versículos semelhantes definem a visão islâmica do homem com perfeita clareza.

Allah criou o homem com uma dualidade em sua natureza e habilidade. O que queremos dizer com a dualidade é que os dois ingredientes de sua composição, ou seja, a argila da terra e o espírito de Deus formam, dentro de si, duas tendências para o bem ou o mal, que quer, igualmente, seguir a orientação divina ou extraviar-se. O homem é tão capaz de reconhecer o bem quanto o mal – em tudo o que encontra, também é igualmente capaz de se dirigir a um lado ou outro. Essa dupla capacidade está profundamente enraizada dentro dele. Todos os fatores externos, como mensagens divinas, só servem para despertar sua habilidade e ajudá-lo a tomar o caminho escolhido. Em outras palavras, esses fatores não criam essa capacidade (que é inata, na verdade); eles só ajudam-na a se desenvolver.

Além de sua capacidade inata, o homem é equipado com faculdades mentais conscientes que determinam sua linha de ação. Por isso, ele é responsável por suas ações e decisões.

Quem usa dessas faculdades para fortalecer suas inclinações para o bem e purificar-se e enfraquecer o seu mau direcionamento será próspero e bem sucedido. Por outro lado, uma pessoa que usa essas faculdades para suprimir o bem contido nele irá se arruinar: “Com efeito, bem-aventurado é quem a dignifica. E, com efeito, mal-aventurado é quem a degrada.” (Versículos 9-10). Deve haver, então, um elemento de responsabilidade ligado à consciência humana e a liberdade de escolha. Uma vez que ele é livre para escolher entre suas tendências, sua liberdade deve estar conjugada com responsabilidade. A ele é atribuída uma tarefa definida, relacionada com o poder que lhe foi conferido. Mas Deus, o Compassivo, não deixa o homem sem orientação, ao contrário de seus impulsos naturais ou de sua consciência, poder de tomada de decisão. Deus o ajuda enviando mensagens que estabelecem critérios precisos e permanentes, e o aponta sinais, dentro de si mesmo e do mundo em geral, o que deve ajudá-lo a escolher o caminho certo e livrar-se dos obstáculos em seu caminho, podendo, assim, enxergar a verdade. Desta forma, ele reconhece seu caminho e suas faculdades mentais, fácil e claramente, gozando de pleno conhecimento da natureza da direção e implicações de suas escolhas.

Isto é o que Allah quer para o homem e tudo o que acontece dentro deste quadro é um direto cumprimento da Sua vontade.

A partir deste esboço geral do conceito islâmico de homem emerge uma série de fatos importantes e valiosos: em primeiro lugar, que este conceito eleva o homem à alta posição de ser responsável por suas ações e permite-lhe a liberdade de escolha, dentro dos limites da vontade de Allah – Quem lhe concedeu essa liberdade. Responsabilidade e liberdade de escolha, portanto, fazem do homem a criatura homenageada neste mundo, ocupando uma posição digna da criatura na qual Allah soprou algo de Seu próprio espírito; modelou com Sua própria mão e elevou acima da maioria de sua criação. Em segundo lugar, isso coloca o destino do homem em suas próprias mãos – de acordo com a vontade de Allah, como já foi explicado – e torna-o responsável por isso. Isso estimula o cuidado, bem como um sentido positivo do temor a Allah. Para que ele saiba, então, que a vontade de Allah é cumprida através de suas próprias ações e decisões: “Allah não transmutará o que um povo tem, até que este haja transmutado o que há em si mesmo” (13: 11). Esta é, em si, uma grande responsabilidade, que exige que a pessoa esteja sempre alerta. Em terceiro lugar, isso relembra o homem de sua necessidade permanente de se referir aos critérios fixados por Allah, a fim de garantir que seus desejos não obtenham o melhor dele. Assim, o homem fica perto de Allah, segue Sua orientação e ilumina teu caminho pela luz divina. Na verdade, o padrão de pureza que o homem pode alcançar é ilimitada.

Exemplo Histórico

O capítulo, então, dá um exemplo do fracasso que recai sobre aqueles que se corrompem, e ergue uma barreira entre eles e orientação divina: “O povo de Thamud, por sua transgressão, desmentiu ao Mensageiro. Quando o mais infeliz deles partiu, empenhado em matar o camelo fêma, então, o Mensageiro de Allah disse-lhes: ‘Deixai o camelo fêmea – vindo de Allah – e sua porção de bebida. E, desmentiram-no e abateram-no. Então, por seu delito, seu Senhor esmigalhou-lhes as casas sobre eles, e nivelou-as. E Ele não teme as consequências disso” (Versículos 11-15).

A história de Thamud e seu Mensageiro, Salih, é mencionado várias vezes no Quran. A discussão sobre esta história se dá sempre que ela é mencionada. O leitor pode consultar, para obter mais detalhes, os comentários sobre a Surah 89, A Aurora. A presente Surah, no entanto, afirma que o povo de Thamud rejeitou seu profeta e acusou-o de mentir, simplesmente porque eram arrogantes e insolentes. Sua transgressão é representada aqui pelo mais infeliz e desgraçado dentre eles, quem sai correndo para matar o camelo fêmea. Ele se torna o mais miserável de todos como resultado de seu crime.O Mensageiro deles havia avisado, com antecedência: “É um camelo fêmea que pertence a Allah, então deixem-na beber” – esta foi a sua condição imposta quando lhe pediram um sinal. O sinal consistia em que o camelo fêmea tivesse a água para ela um dia e no dia seguinte deixasse para o resto do gado. O camelo fêmea provavelmente possuía outra coisa especial, mas não vamos entrar em detalhes porque Allah não nos revelou sobre isso. Thamud, no entanto, não atendeu as advertências de seu Mensageiro, e matou aquele camelo fêmea. A pessoa que cometeu o crime, o arqueiro pecador, é o mais miserável, de qualquer forma, todos foram considerados responsáveis porque não o impediram. Pelo contrário, aplaudiram o que ele fez.

Um princípio básico do Islam é que a sociedade tem responsabilidades coletivas nesta vida. Isso não entra em conflito com o princípio da responsabilidade individual na vida futura, quando todos serão responsabilizados pelos próprios atos. Isso também é um pecado: não aconselhar e exortar uns aos outros a aderir ao que é bom e não punir o mal e a transgressão. Como resultado da arrogância do povo de Thamud e seu crime ultrajante, uma calamidade se abateu sobre eles: “Então, por seu delito, seu Senhor esmigalhou-lhes as casas sobre eles, e nivelou-as” (Versículo 14). O versículo árabe usa o verbo Damdama para ‘esmigalhar’, o que cria, através de sua forma repetitiva, um sentimento adicional de horror, e aprendemos que aquela cidade foi completamente arrasada. “E Ele não teme as consequências disso” (Versículo 15). Todos os louvores e glória a Ele. Quem, o quê e por que ele temeria? O significado aqui é que a declaração implica: aquele que não teme as consequências pune mais severamente. Isto é verdade para a punição de Allah.

Em conclusão, podemos dizer que a Surah fornece uma ligação entre a alma humana, os fatos básicos do universo, suas cenas constantes e repetitivas e a infalível lei de Allah quanto a punir transgressores tiranos. Isto Ele faz segundo Seu próprio e sábio planejamento, que define um tempo para tudo e um propósito para cada ação. Ele é o Senhor do homem, do universo e do destino.


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O Islam

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