Tafsir da Surah al Humazah – do Difamador (Capítulo 104)

Surah Al Humazah (104)
Ai de todo difamador, caluniador,
Que junta riquezas e, com deleite, as conta,
Supõe que suas riquezas o tornarão eterno.
Em verdade, não o tornarão! Em verdade, ele será deitado fora, em al-Hutamah.
E o que te faz inteirar-te do que é al-Hutamah?
É o Fogo aceso de Allah,
O qual sobe até os corações.
Por certo, será cerrado sobre eles,
Em colunas extensas.
Caráter Desprezível
Esta Surah retrata uma cena real, desde os primeiros dias da mensagem islâmica, no entanto, a mesma cena se repete em qualquer ambiente e sociedade. Ela mostra uma pessoa vil, a quem é dada a riqueza e que a usa para tiranizar os outros, até que esta pessoa começa a se sentir quase insuportável. Ela acha que a riqueza é o valor supremo da vida, diante da qual todos os outros valores e padrões caem por terra. Sente que desde que possua riqueza, consegue controlar o destino de outras pessoas, sem ser responsável por seus próprios atos. Imagina que seu dinheiro e sua riqueza é um deus, capaz de tudo, sem exceção, até mesmo de resistir à morte, tornando-o imortal e interrompendo o julgamento de Allah e Sua retribuição. Iludido como está, pelo poder da riqueza, conta-a e sente prazer em contá-lo novamente e novamente. A ímpia vaidade está solta dentro desta pessoa, levando-a a ridicularizar a dignidade ou posição de outras pessoas, insultando e caluniando-as. Critica os outros verbalmente, zomba com seus gestos – seja imitando movimentos e vozes ou ridicularizando aparência e características deles, através de palavras e mímicas, por provocação e calúnia.
É um quadro vil e degradante de alguém desprovido de ideais humanos, generosidade e fé. O Islam despreza este tipo de pessoa cujas características são diametralmente opostas ao alto padrão de moralidade da religião. Enfaticamente, o Islam proíbe o escárnio e a zombaria, bem como a deliberada procura dos defeitos alheios. Entretanto, neste caso, o Quran descreve essas ações como sórdidas e feias, dando um severo aviso a quem incorre nelas. Isto sugere que o capítulo se refere a um caso real de alguns incrédulos, que sujeitaram o Profeta e os crentes a provocações e calúnias. A resposta a essas ações vem na forma de uma forte proibição e um espantoso aviso. Existem alguns relatos que nomeiam indivíduos específicos como sendo estes caluniadores, mas os ditos não são autênticos, por isso não vamos discuti-los, em vez disso, contentaremos com observações gerais.
O aviso vem na forma de uma imagem da próxima vida, retratando o sofrimento mental e físico e desenhando uma imagem do inferno, sendo ambas palpáveis e reveladoras. Essas imagens relacionam o crime à punição infligida e seu efeito sobre o culpado. De um lado, há a imagem da provocação e calúnia, o caluniador que zomba e ridiculariza os outros, enquanto reúne riqueza pensando que, desta forma, garantirá a imortalidade. Esta imagem, de um caluniador cínico buscando poder através de sua riqueza, é contrastada com a pessoa desprezada, ignorada; arremessada dentro de um instrumento que esmagará e destruirá tudo que cruzar seu caminho. Logo isso esmagará sua estrutura e seu orgulho.
Este instrumento é “o Fogo aceso, de Allah” (Versículo 6). A sua identificação como o fogo de Allah sugere que é uma espécie excepcional, um fogo desconhecido, cheio de terror. Este fogo ‘sobe’ sobre a pessoa que zomba e ridiculariza os outros. Para completar o imagem da pessoa ignorada, desprezada e esmagada, o fogo se fecha sobre ele por todos os lados e o prende. Ninguém pode salvá-lo e ninguém pergunta sobre ele. Dentro, ele é amarrado a uma coluna, como animais são amarrados, sem qualquer respeito. O tom do vocabulário utilizado neste capítulo é muito forte “Que junta suas riquezas e, com deleite, as conta, supõe que suas riquezas o tornarão eterno. Em absoluto, não o tornarão! Em verdade, ele será deitado fora, em al-hutamah” por tais expressões, a contundência é enfaticamente transmitida: “Ele será deitado fora, em al-hutamah – e o que te faz inteirar-te do que é al-hutamah? – É o Fogo aceso, de Allah “(Versículos 4-6). Primeiro vem a generalização e uma expressão enigmática, em seguida, a exclamação sugerindo um grande horror, e, logo após, a resposta clara – todas são expressões fortíssimas. O estilo utilizado também transmite advertências: “Ai…”; “Ele será deitado fora em al-hutamah…”; “O Fogo aceso, de Allah”; “sobe até os corações…”; “será cerrado sobre ele…”; “em colunas extensas”. Em tudo isso há uma espécie de harmonia entre imagens, sentimentos e ações do “caluniador, difamador”.
No momento de sua revelação, o Quran acompanhou os incidentes enfrentados pela Mensagem islâmica, enquanto também os dirigiu durante todo esse percurso. O Quran é a arma infalível que destrói a astúcia de conspiradores, abala os corações dos inimigos e preenche os crentes com coragem e determinação para perseverar. Na verdade, reconhecemos dois fatos significativos no cuidado de Allah, Louvado seja, aqui; como Ele denuncia este tipo sórdido de pessoas: em primeiro lugar, nos é mostrada a feiura do declínio moral e quão abjetas são estas pessoas. Em segundo lugar, percebemos que Ele defende os fiéis, preserva suas almas contra os insultos de seus inimigos, mostra-lhes que Allah conhece e odeia o que é infligido sobre eles, e que punirá os malfeitores. Isso é suficiente para elevar suas almas e fazê-los sentir sua posição bem acima dos perversos desígnios de outrém.