Por Muhammad bin Jamil Zino

 “Existem fatores que nulificam o Iman (fé), ou crença, assim como existem fatores que nulificam o wudhu’. Se um indivíduo incorrer em qualquer um destes fatores, ele perde o seu estado de pureza ritual. O mesmo acontece com a crença. Os nulificantes da crença podem ser classificados em quatro categorias:

 

1. Rejeição da existência do Rabb [Senhor] ou insultar e falar mal Dele

2. Rejeição do direito de Allah de ser adorado ou adorar algo ou outro juntamente com Ele.

3. Rejeição de qualquer um dos Nomes e Atributos de Allah estabelecidos no Qur’an e na Sunnah, ou ofendê-los.

4. Rejeição da função de Muhammad (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) como o Mensageiro de Allah ou profanar a sua Mensagem.

 

 

1. Rejeição da existência do Rabb invalida o Iman

Esta primeira categoria engloba vários tipos:

a) Puro ateísmo; tal como a crença dos comunistas que negam que o Universo tenha um criador e dizem: “Não existe deus, e a vida é um fenómeno puramente material.” Eles atribuem a criação e todas as ações ao puro acaso, ou à “natureza”, mas esquecem-se Daquele que criou o próprio “acaso” e a “natureza”, conforme Allah disse:

“Allah é O Criador de todas as cousas. E Ele, sobre todas as cousas, é Patrono.” [Surah Az-Zumar (39): 62]

Esta classe de descrentes é mais firme na sua apostasia do que os Árabes politeístas do período pós-Islâmico, e até mesmo mais do que o próprio Satanás, visto que aqueles Árabes politeístas admitiram a existência do seu criador, assim como o Qur’an afirma acerca deles dizendo:

“E, se lhes perguntas: "Quem os criou?", em verdade, dirão: "Allah!"” [Surah Az-Zukhruf (43): 87]

E o Qur’an também menciona a afirmação do Satanás:

“Iblis disse: "Sou melhor que ele. Criaste-me de fogo e criaste-o de barro." [Surah Sad (38): 76]

É um ato de descrença para um muçulmano dizer, “a natureza criou algo, ou veio à existência por acaso.”

 

b) Uma pessoa alegar ser o Rabb; tal como Faraó alegou dizendo:

“E disse: "Sou vosso senhor, o altíssimo."” [Surah An-Nazi’at (79): 24]

c) Afirmar que existem grandes santos [chamados “Qutb” na terminologia Sufi, que literalmente significa eixos (da criação)], que possuem controlo sobre o que ocorre no Universo, ainda que essa afirmação seja acompanhada da aceitação de que Allah, o Senhor Soberano, exista. As pessoas que possuem esta crença estão numa pior condição que os adoradores de ídolos antes do Islam, que reconheciam que Allah é o Único Controlador dos assuntos do Universo, conforme indicado pela Sua afimação:

“Dize: "Quem vos dá sustento do céu e da terra? Ou quem tem poder sobre o ouvido e as vistas? E quem faz sair o vivo do morto e faz sair o morto do vivo? E quem administra a ordem?" Dirão: "Allah." Dize: "Então, não temeis a Allah?"” [Surah Yunus (10): 31]

d) Afirmações de alguns Sufis de que Allah permeia na Sua criação, ou de que se tenha encarnado nela. O Sufi, Ibn Arabi, que está enterrado em Damasco, disse:

“O Senhor é um servo, e o servo é o meu Senhor. Apenas desejo saber, qual é o Mukallaf.”

[Mukallaf é uma terminologia básica da Shari’ah, que se refere ao papel essencial do ser humano adulto e são: de que ele ou ela é encarregado/a por Allah com vários deveres e responsabilidades, ordens e proibições, e será questionado/a com base na forma como cumpriu com as suas responsabilidades.]

 

E este transgressor Sufi ainda afirmou:

“E o cão e o porco são nada mais que a nossa divindade, nem é Allah mais do que um monge numa igreja.”

 

E Hallaj (um Sufi de Bagdade) afirmou: “Eu sou Ele (isto é, o Rabb) e Ele é eu.” Devido a esta sua afirmação, a qual não retraiu, os estudiosos decidiram que devia ser executado como um apóstata. Elevado e Exaltado seja Allah sobre o que estas pessoas dizem.

 

2. Shirk (politeísmo) na adoração invalida Iman

 Esta segunda categoria inclui a negação de Allah como o objeto de adoração ou associar parceiros a Allah. Também possui várias manifestações:

 

a) Aqueles que adoram o sol, a lua, as estrelas, as árvores, o Satanás, ou qualquer outro ser criado, e abandonam a adoração de Allah, Aquele que criou todas estas coisas, que não possuem qualquer poder para beneficiar nem prejudicar. Allah disse:

“E, entre Seus sinais, está a noite e o dia e o sol e a lua. Não vos prosterneis diante do sol nem da lua, e prosternai-vos diante de Allah, Quem os criou, se só a Ele adorais.” [Surah Fussilat (41): 37]

 

b) Os que adoram Allah, e adoram junto com Ele algumas das Suas criações, tais como santos, personificações em ídolos, sepulturas, etc. Os Árabes adoradores de ídolos anteriores ao Islam eram desta categoria, já que costumavam invocar a Allah apenas nos momentos de dificuldades e necessidade urgente, e adoravam a outros em tempos de facilidade, tal como o Qur’an lhes descreve:

“Então, quando eles embarcam no barco, invocam a Allah, sendo sinceros com Ele, na devoção. E, quando Ele os traz a salvo à terra, ei-los que idolatram.” [Surah Al-Ankabut (29): 65]

 

Eles são caracterizados como sendo al-Mushrikun (aqueles que associam e atribuem parceiros a Allah), ainda que tenham suplicado a Allah Sozinho quando estavam com medo de se afogarem no mar, porque não permaneceram dessa forma. Pelo contrário, invocaram a outros depois de Allah os ter salvo.

 

c) Uma vez que Allah estava insatisfeito com os Árabes adoradores de ídolos anterior ao Islam, classificou-os como Kafiroon (descrentes), e ordenou ao Seu Profeta lutar contra eles, porque invocavam a outros para além de Allah em tempos de facilidade. Ele não aceitou a sua sinceridade quando invocaram-No Sozinho na adoração, e considerou-lhes Mushrikin. Portanto, o que podemos dizer sobre certos muçulmanos hoje em dia, que recorrem a santos mortos nos tempos de facilidade assim como nos tempos de dificuldade? E pedem-lhes por aquilo que apenas Allah tem o poder de conceder, como curar o doente, conceder sustento e orientação, etc., e esquecem-se do Criador de todos os santos, enquanto que Ele é o Único que cura, o Sustentador e o Guia. Além do mais, aqueles mortos não possuem qualquer poder e não conseguem sequer ouvir aqueles que lhes invocam, assim como Allah afirmou:

“E os que invocais, além d’Ele, não possuem, sequer, uma película de caroço de tâmara. Se os convocais, não ouvirão vossa convocação. E, se a ouvissem, não vos atenderiam. E, no Dia da Ressurreição, renegarão vossa idolatria. E ninguém te informa da Verdade como Um Conhecedor.” [Surah Fatir (35): 13-14]

 

Este versículo é explicíto para o efeito de que os mortos não conseguem ouvir aqueles que lhes invocam, e explicíto em afirmar que a sua súplica constitui Shirk maior.

 

Alguns deles podem argumentar: “Não cremos que estes santos e pessoas virtuosas teem o poder de beneficiar ou prejudicar. Apenas os consideramos intermediários que irão interceder por nós junto de Allah, e através deles aproximamo-nos de Allah.” A nossa resposta a isto é de que os idólatras anteriores ao Islam costumavam ter uma crença semelhante, como é mencionado no Qur’an:

“E eles adoram, além de Allah, o que não os prejudica nem os beneficia, e dizem: "Estes são nossos intercessores perante Allah". Dize "Vós infomaríeis a Allah do que Ele não sabe, nos céus nem na terra?" Glorificado e Sublimado seja Ele, acima do que idolatram.” [Surah Yunus (10): 18]

 

Este versículo é evidente em provar que quem quer que adore e suplique a outro que Allah, é um mushrik, mesmo que creia que esses outros seres não possuem benefício nem prejuízo, mas apenas os toma como intercessores.

 

Allah disse sobre os idólatras:

“E os que tomam protetores, além d’Ele, dizem: "Não os adoramos senão para que eles nos aproximem, bem perto de Allah." Por certo, Allah julgará, entre eles, naquilo de que discrepam. Por certo, Allah não guia quem é mentiroso, ingrato.” [Surah Az-Zumar (39): 3]

 

Este versículo é claro em provar a descrença daqueles que invocam outros que não Allah com a intenção de dessa forma aproximarem-se d’Ele.

 

O Profeta (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) disse:

“Pois a súplica é adoração.” (Tirmidhi)

 

d) De entre os anuladores da crença é governar com outro do que o que Allah revelou; caso seja acompanhado com a crença de que as Leis de Allah são inadequadas ou menos apropriadas, ou de que as leis feitas pelo homem que contradizem as Leis de Allah são igualmente apropriadas. Allah disse:

“O julgamento não é senão de Allah. Ele ordenou que não adoreis senão a Ele. Essa é a religião reta, mas a maioria dos homens não sabe.” [Surah Yusuf (12): 40]

 

Além disso, Allah também disse:

"E quem não julga conforme o que Allah fez descer, esses são os renegadores da Fé.” [Surah Al-Ma’ida (5): 44]

 

Se o governador estiver a aplicar uma lei outra que a que Allah revelou, enquanto crendo que a Lei revelada é a única Lei legítima, porém a contradizer com base nos desejos e inclinações pessoais, ou devido ao que considera ser pressão externa fora do seu controlo, então ele é injusto e tirânico ou corrupto, mas não cruza a linha da descrença. Isto é de acordo com a afirmação de Ibn Abbas que disse:

“Quem quer que rejeite aquilo que Allah revelou, então certamente descreu, enquanto que aquele que aceitá-lo (agindo em contradição a isso), é injusto e corrupto.”

 

Esta é a interpretação do versículo, escolhida pelo grande exegeta Ibn Jarir at-Tabari, e ‘Ata disse em relação à segunda afirmação:

“Um nível de descrença abaixo do nível que tira um indivíduo fora do Islam.”

 

Quanto àqueles que suspendem as Leis de Allah e as susbtituem por leis feitas pelo homem que as opõem, crendo na sua validade, descreram e saíram do islam, de acordo com o consenso dos estudiosos.

 

e) Dentre os anulantes da fé está o descontentamento com a legislação de Allah, ou a opinião de que seja demasiado confinada e rigorosa ou de que imponha dificuldade excessiva. Allah disse:

“Então, por teu Senhor! Não crerão; até que te tomem por árbitro das dissensões entre eles, em seguida, não encontrem, em si mesmos, constrangimento no que julgaste, e até que se submetam, completamente.” [Surah An-Nisa (4): 65]

 

Ou ainda detestar uma ordem revelada, conforme Allah disse:

“E aos que renegam a Fé, a eles, a desgraça! E Ele lhes fará sumir as obras. Isso, porque odeiam o que Allah fez descer. Então, Ele lhes anulará as obras.” [Surah Muhammad (47): 8-9]

 

 

3. Negação de alguns ou de todos os Atributos e Nomes de Allah, ou falar mal deles.

 

a) Invalida a Fé quando um crente nega os Nomes ou Atributos de Allah estabelecidos pelos textos do Qur’an e da Sunnah autêntica; por exemplo, negar que o Conhecimento de Allah seja total, ou o Seu Poder, ou a Sua Vida ou a Sua Audição, ou a Sua Visão, Fala ou Misericórdia, ou o Seu Estabelecimento sobre o Seu Trono, ou a Sua Transcendência sobre ele, ou a Sua Descida ao último céu ou de que Ele possua uma Mão ou um Olho, ou outros para além destes dos Atributos que são próprios da Sua Magnificência e que não se assemelham aos atributos de nada da sua criação. Allah disse:

“Nada é igual a Ele. E Ele é O Oniouvinte, O Onividente.” [Surah Ash-Shura (42): 11]

 

Neste versículo Allah rejeita a Sua Semelhança às Suas criaturas, e atribuiu a Si mesmo as faculdades da audição e da visão; e todos os Seus outros Atributos devem ser compreendidos da mesma forma.

 

b) É um erro e desvio interpretar alguns dos Seus Atributos afirmados, e mudar os significados das palavras usadas para descrevê-las a partir seu significado original na língua Árabe confundindo os sentidos, como a interpretação da palavra ‘Istawa’, que significa ascenção e estabelecimento sobre algo, para ‘Istila’, que significa tomar poder. No seu Sahih, Imam al-Bukhari transmitiu a interpretação autêntica da palavra ‘Istawa’ de Mujahid e Abul-‘Aliyah, dois dos proeminentes estudiosos dentre os Tabi’in, os sucessores dos Sahabah. A divergência de interpretação dos Atributos de Allah leva à sua negação. Como a interpretação da palavra ‘Istawa’, significando tomar poder é, de fato, uma negação de um dos Atributos de Allah, que é a Elevação de Allah sobre o Seu Trono, o qual é estabelecido em numerosos lugares no Qur’an e na Sunnah. Allah afirmou:

“O Misericordioso estabeleceu-Se no Trono.” [Surah Ta-ha (20): 5]

 

E Allah também afirmou:

“Estais seguros de que Quem está no céu não fará a terra engolir-vos, então, de súbito, agitar-se?” [Surah Al-Mulk (67): 16]

 

E o Profeta (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) disse:

“Allah registrou um Livro que está com Ele sobre o Trono.” (Mutaffac alaihi)

 

Este tipo de interpretação dos Atributos Divinos é uma forma de distorção, tal como Shaykh Muhammad Amin Shinqeeti afirmou no seu livro “Manhaj wa Darasat feel-Asma’i was-Sifat – Estudos sobre os Nomes e Atributos (Divinos)”, na página 26:

“Resumindo este assunto, gostaria de anotar dois pontos. Primeiro, o intérprete deveria considerar a afirmação de Allah aos judeus:

“... e dizei: Remissão!...” [Surah Al-Baqara (2): 58]

 

‘Hittatun (remissão)’ significa arrependimento, eles adicionaram a letra ‘n’ à palavra e disseram ‘hintatun’. Allah chamou esta adição uma alteração. Ele disse na Surah al-Baqarah:

“Mas, os injustos trocaram, por outro dizer, o que lhes havia sido dito; então, fizemos descer sobre os injustos um tormento do céu, pela perversidade que cometiam.” [Surah Al-Baqara (2): 59]

 

Do mesmo modo, também são aqueles que interpretam os Atributos de Allah com interpretação divergente. Foi-lhes dito ‘Istawa’, porém adicionaram um ‘l’ e, em vez, disseram ‘Istawla’. Considere a semelhança entre o ‘l’ que eles adicionaram e o ‘n’ que os judeus adicionaram (este ponto foi originalmente mencionado por Ibn al-Qayyim)."

 

c) Existem certos Atributos que são exclusivos de Allah, como o Conhecimento do oculto, o qual ninguém mais na criação possui. Allah disse no Seu Livro:

“E Ele tem as chaves do Invisível; ninguém sabe delas senão Ele.” [Surah Al-An’am (6): 59]

 

Allah pode divulgar certos aspetos do oculto aos Seus Mensageiros através de Revelação quando Ele quiser, conforme Ele disse:

“Ele é O Sabedor do invisível e não faz aparecer Seu invisível a ninguém, exceto a um Mensageiro, de quem Se agrade;...” [Surah Al-Jinn (72): 26]

 

De entre as afirmações de descrença e erro está a alegação do poeta al-Busairy em Qasidah Burdah, descrevendo o Profeta (sallAllahu ‘alayhi wa sallam):

“Certamente, da tua generosidade é o mundo e o seu rival (a Outra Vida) e parte do teu conhecimento é o conhecimento da Tábua e da Caneta.”

 

Este mundo e o Outro são indubitavelmente parte da criação de Allah e da Sua Generosidade, e não da generosidade ou criação do Mensageiro, como o poeta afirmou. Allah disse:

“E, por certo, são Nossas a Derradeira Vida e a primeira.” [Surah Al-Lail (92): 13]

 

O Mensageiro de Allah (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) não sabe o que está na Tábua Preservada, nem o que a Caneta escreveu, como o poeta alegou, uma vez que isso faz parte do absoluto oculto, que ninguém conhece exceto Allah. Conforme o Qur’an menciona:

“'Ninguém daqueles que estão nos céus e na terra conhece ao Invisível, exceto Allah.'” [Surah An-Naml (27): 65]

 

No que se refere aos santos, é apenas lógico que eles possuem menos acesso ao conhecimento do total oculto, já que não teem sequer acesso à Revelação direta pela qual Allah informou os Seus Profetas e Mensageiros de certos aspetos do invisível, pois a Revelação não descende sobre os santos; é reservada aos Profetas e Mensageiros, portanto quem quer que reivindique conhecimento do oculto, e quem quer que acredite nessas reivindicações terá anulado a sua crença no Islam. O Profeta (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) disse:

“Quem quer que vá a um vidente ou a um astrólogo e acredite no que diz, descreu no que foi revelado a Muhammad.” (Ahmad)

 

Ocasionalmente, as previsões destes videntes tornam-se verdadeiras, porém parte disso é devido ao acaso, porque eles adivinham e tentam extrapolar sobre o que já sabem. Se fossem realmente verdadeiros na sua alegação do conhecimento do oculto, estariam sempre certos, e nos informariam dos segredos dos judeus, e descobririam todos os tesouros enterrados da terra, e não estariam dependentes das pessoas para o dinheiro, tomando as suas riquezas sobre falsas pretensões.

 

 

4. Difamação dos Profetas invalida Iman

 Esta quarta categoria trata-se da rejeição de qualquer um dos mensageiros de Allah, ou de difamar os seus caráteres. Estes são os seguintes:

a) Rejeitar a Mensagem de Muhammad (sallAllahu ‘alayhi wa sallam), porque o testemunho de que Muhammad é o Mensageiro de Allah é um dos pilares da Fé.

 

b) Denegrir o Mensageiro de Allah (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) ou a sua veracidade, a sua lealdade no execução do que lhe foi confiado, ou a sua simplicidade, insultá-lo ou rir-se dele, fazer pouco dele, ou criticar qualquer um do seu comportamento registrado.

 

c) Atacar os seus ahadith autênticos (narrações transmitidas) e descrer neles, ou rejeitar as notícias verdadeiras que ele nos descreveu, incluindo as suas profecias registradas. Exemplos disso são, a aparência do Dajjal (o Anticristo) ou a descida de Jesus que irá governar através da Shari’ah de Muhammad (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) e outras profecias registradas no Qur’an e na Sunnah. É uma anulação de Iman rejeitar assuntos após aceitar a atribuição dos ahadith ao Profeta (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) como sendo autênticos.

 

d) Rejeitar qualquer um dos Mensageiros enviados por Allah antes de Muhammad (sallAllahu ‘alayhi wa sallam), ou negar as histórias e narrações relativas a eles e as suas nações, como relatadas no Qur’an ou pelo Mensageiro de Allah (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) em ahadith autênticos.

 

e) Alegar missão profética depois de Muhammad (sallAllahu ‘alayhi wa sallam), como exemplo Ghulam Ahmed, o Qadiyani (de Qadiyan, Índia), que reivindicou profecia, enquanto que o Qur’an diz neste versículo:

“Muhammad não é pai de nenhum de vossos homens, mas o Mensageiro de Allah e o selo dos Profetas.” [Surah Al-Ahzab (33):40]

 

E o Mensageiro de Allah (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) disse:

“Eu sou último, depois do qual não haverá nenhum outro Profeta.” (Mutaffac alaihi)

 

Quem quer que creia que existe algum Profeta depois de Muhammad (sallAllahu ‘alayhi wa sallam), quer seja um Qadiyani (seguidor do herege depravado, Ghulam Ahmad) ou de qualquer outro grupo, descreu e anulou a sua Fé.

 

f) Descrever o Profeta (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) com atributos que pertencem somente a Allah tais como conhecimento ilimitado do oculto, conforme alguns Sufis alegam. Um dos seus poetas disse:

“Ó (absoluto) conhecedor do oculto, recorremo-nos a ti; ó curador dos corações, bençãos sobre ti.”

 

g) Suplicar ao Profeta (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) por aquilo que somente Allah tem o poder de conceder, tal como suplicar por vitória ou ajuda, cura para doenças, etc., como acontece hoje em dia, entre muçulmanos, principalmente entre os Sufis, como o seu poeta, al-Busairy disse:

“Quem quer que implore ao Mensageiro de Allah por vitória, a terá; mesmo que um leão lhe encontre na floresta;

Nunca o tempo colocou sobre mim qualquer dificuldade e eu procurei pela sua proteção, exceto que a tive e nenhum mal me tocou.”

 

Este conceito da posição do Profeta (sallAllahu ‘alayhi wa sallam) é Shirk, contradizendo a inequívoca proclamação do Qur’an:

“E o socorro não é senão da parte de Allah.” [Surah Al-Anfal (8):10]

 

E contradizendo a ordem do Profeta (sallAllahu ‘alayhi wa sallam):

“E quando pedes, pede de Allah, e quando procuras ajuda, procura a ajuda de Allah.” (Tirmidhi)

 

Então, o que devemos pensar sobre aqueles que atribuem aos “santos” conhecimento do oculto, ou que fazem um nadhr (um juramento para dar caridade ou realizar alguma outra boa ação opcional) pela sua causa, ou que lhes dedicam sacríficios de animais, pedem a eles o que apenas pode ser pedido de Allah, tal como o sustento ou a cura de doenças, vitória, etc.? Sem dúvida, que tudo isto constitui Shirk.

 

h) Não negamos os milagres que apareceram dos Mensageiros de Allah, nem aqueles feitos milagrosos que vieram dos santos, mas o que negamos é fazer deles parceiros com Allah, suplicar para eles como suplicamos para Allah, e dedicar-lhes sacrifícios, empreendendo um regime de adoração opcional pela sua causa. Chegou ao ponto de as sepulturas de alguns “santos” notáveis serem inundadas com doações, que são aproveitadas pelos guardas e funcionários desses santuários, que depois as dividem entre si, consumindo o dinheiro das pessoas sobre falsas pretensões. Entretanto, estão cercados de multidões de pessoas pobres, que não possuem o suficiente para se alimentarem por um dia.

Um poeta disse: “Os nossos vivos não obteem sequer um dirham (uma moeda de prata), enquanto que milhares e milhares vão para os mortos.”

 

Nem todos estes santuários e sepulturas conteem o corpo de um santo. Porém, os burlões erguem alguns deles como uma forma de tomar o dinheiro dos ingénuos.

 

Como exemplo, um dos meus colegas professores contou-me que um certo Shaikh Sufi foi à casa de sua mãe pedir uma doação de forma a erigir uma bandeira verde para indicar a presença de um santo numa determinada rua, portanto ela deu-lhe algum dinheiro. Ele comprou um tecido verde e fixou-o a uma parede, e começou a dizer às pessoas, “está aqui um Wali (santo), um dos amigos de Allah. Eu vi-lhe no meu sonho.” E assim, começou a coletar dinheiro. Um dia, o governo decidiu alargar aquela rua, o que requeriria a remoção da sepultura. O homem que começou com toda esta história disse às pessoas que eles tentaram remové-lo antes, porém o aparelho usado tinha-se partido, e alguns indivíduos acreditaram nele, tendo o rumor começado a circular, o que levou a que o governo procedesse com cuidado. O próprio Mufti daquele país disse-me que o governo chamou-lhe no meio da noite ao local da sepultura do santo. Encontrou-a cercada por soldados. De seguida, foi trazida a escavadora e a sepultura foi exumada. O Mufti observou o seu interior e não encontrou nada, apercebendo-se de que tudo aquilo não passava de mentira e fabricação.

 

Um outro exemplo que ouvi de um professor no Haram, em Makkah: um homem pobre encontrou-se com outro e os dois se queixaram mutuamente da sua pobreza. Depois viram a sepultura de um santo que estava cheio de riquezas. Um deles disse ao outro: “Vem, vamos criar uma sepultura e colocar lá um santo, e o dinheiro começará a rolar.” O seu companheiro concordou, portanto saíram até se terem deparado com um burro que zurrava. Mataram-no, colocaram-no numa cova, e depois ergueram um sepulcro com uma cúpula por cima. De seguida, ambos rolaram sobre solo da sepultura para obter barakat (benção) dela. Quando as pessoas que passavam perguntaram-nos o que estavam a fazer, responderam: “Esta é a sepultura do santo Hubaish bin Tubaish, que efetuou milagres que desafiaram a descrição.” As pessoas foram levadas nas suas palavras e começaram a deixar doações sobre a sepultura como forma de caridade e para cumprir juramentos, até que os dois homens amontoaram grande riqueza. Quando começaram a dividi-la, iniciaram uma discussão, gritando um com o outro, o que atraiu uma multidão de espectadores. Um dos dois disse: “Eu juro-te por este santo de que não tirei nada de ti." O seu amigo respondeu: “Juras por este santo enquanto que ambos de nós sabemos que o que aqui está é um burro que enterramos juntos?” As pessoas ficaram surpresas e sentiram-se ridicularizadas devido às doações que fizeram como juramentos, e as tomaram de volta depois de terem espancado os dois homens.

 

Retirado do livro “The Pillars of Islam e Iman – and what every muslim must know about the religion”, por Muhammad bin Jamil Zino

Publicado por Dar-us-Salam

 

 

 

Fonte: Abdurrahman.Org

Tradução: Mariama bint Carlos