Muçulmanos Devem Votar em Países Não Islâmicos?

Muçulmanos Devem Votar em Países Não Islâmicos?

Muçulmanos que vivem em países não islâmicos frequentemente questionam se é permitido votar em candidatos ou partidos que não seguem a Sharia ou apoiar um sistema que não é islâmico. Esta é uma questão complexa, que exige reflexão sobre os benefícios e malefícios potenciais para a comunidade muçulmana, considerando o ijtihaad (esforço de interpretação) dos estudiosos.

O Papel do Profeta ﷺ como Guia na Vida dos Muçulmanos

A lei islâmica e a prática muçulmana estão profundamente enraizadas tanto no Alcorão quanto na Sunnah do Profeta Muhammad ﷺ. A obediência ao Profeta é central para a prática do Islam, não apenas em aspectos religiosos, mas em todas as esferas da vida, incluindo decisões políticas. O Alcorão diz claramente:

“Obedecei a Allah e ao Mensageiro…” (Surah Al-Imran, 3:32)

“Ó fiéis, obedecei a Allah e ao Mensageiro e não desmereçais as vossas ações.” (Surah Muhammad, 47:33)

Esses versículos reforçam a importância de seguir a orientação do Profeta ﷺ, cujas ações e ensinamentos servem como guia para os muçulmanos. No entanto, quando se trata de contextos políticos complexos, especialmente em países não islâmicos, a decisão de votar deve ser feita com base no ijtihaad.

A Questão do Voto em Países Não Islâmicos

A decisão de votar em países onde o sistema não é baseado na Sharia requer análise das situações específicas. Os estudiosos concordam que o voto é permissível ou não dependendo dos contextos e do potencial impacto sobre os muçulmanos.

Quando Evitar o Voto

Existem situações em que os estudiosos recomendam que os muçulmanos evitem votar, como:

  • Quando o voto não afeta a comunidade muçulmana: Se a eleição não trará impacto sobre os muçulmanos, votar se torna opcional, sem valor real.
  • Quando todos os candidatos representam o mesmo nível de ameaça ou hostilidade aos muçulmanos: Nesse caso, a participação na eleição não traz benefícios práticos, pois nenhum candidato representa uma melhoria para os muçulmanos.

O renomado estudioso Shaikh Ibn Uthaymeen afirmou que, se todos os candidatos são igualmente nocivos, votar torna-se irrelevante. Isso preserva o princípio islâmico de evitar envolvimento desnecessário em situações que não trazem benefícios à comunidade.

Votando para Evitar o Mal Maior

Em certos contextos, o princípio islâmico de evitar o mal maior pode justificar o voto em um candidato menos hostil ou mais favorável aos muçulmanos. Por exemplo, se houver uma eleição entre dois candidatos não muçulmanos, e um deles demonstrar uma posição mais favorável aos direitos dos muçulmanos ou oferecer apoio a políticas mais justas, votar nesse candidato pode ser uma ação válida para reduzir o mal.

O Shaikh Muhammad Salih Al-Munajjid, do site islamqa.info, enfatiza que, em alguns casos, é do interesse da comunidade muçulmana apoiar e votar no candidato menos prejudicial, desde que isso seja feito com a intenção de proteger os muçulmanos, não como um apoio ao sistema não islâmico em si. Ele cita o exemplo dos muçulmanos na Abissínia, que se alegraram quando o rei cristão Negus venceu uma guerra, pois isso lhes garantiu segurança e direitos sob o seu governo.

A Importância de Obedecer e Seguir a Orientação Profética

A participação política e as decisões em situações complexas devem estar sempre em consonância com o caráter islâmico e com os ensinamentos do Profeta Muhammad ﷺ. O Alcorão menciona que seguir o Profeta não é apenas uma escolha, mas um comando:

“Dize-lhes (mais): Obedecei a Allah e obedecei ao Mensageiro. Porém, se vos recusardes, sabei que ele (o Mensageiro) é só responsável pelo que lhe está encomendado, assim como vós sereis responsáveis pelo que vos está encomendado. Mas se obedecerdes, encaminhar-vos-eis, porque não incumbe ao Mensageiro mais do que a proclamação da lúcida Mensagem.” (Surah An-Nur, 24:54)

Essa obediência aos ensinamentos proféticos inclui buscar o bem maior para a comunidade e agir com sabedoria. Os muçulmanos podem adotar o mesmo princípio ao decidir participar em eleições, optando pelo caminho que protege a comunidade e os princípios islâmicos.

Entendimento do Ijtihaad no Ato de Votar

Shaikh Ibn Taymiyyah destacou que cada situação exige que os muçulmanos façam um esforço intelectual (ijtihaad), considerando o que é benéfico e o que é prejudicial para a comunidade. Essa avaliação é baseada no bem maior (maslahah) e na minimização do mal (mafsadah).

Participar de eleições ou apoiar candidatos menos hostis não implica apoio ao kufr (descrença), mas busca proteger a comunidade islâmica. O voto, nesses casos, deve ser uma medida prática, com o intuito de beneficiar os muçulmanos e não um apoio ao sistema político.

Exemplos Históricos de Suporte ao Bem Maior

Há exemplos históricos que mostram como o apoio a não-muçulmanos foi uma estratégia para proteger a comunidade islâmica. Durante a época do Profeta Muhammad ﷺ, os muçulmanos exilados na Abissínia encontraram segurança sob a proteção do rei cristão Negus. Embora ele não fosse muçulmano, ele era justo e oferecia segurança aos muçulmanos. Da mesma forma, o Alcorão relata a alegria dos muçulmanos quando os romanos (cristãos) derrotaram os persas, pois os romanos tinham uma posição mais próxima dos valores islâmicos.


Fontes Consultadas:

  1. IslamQA.info – “Concept of Democracy in Islam
  2. Fatwas do Shaikh Ibn Taymiyyah – Discussão sobre o ijtihaad e a avaliação de benefício e dano.
  3. Fatwas do Shaikh Ibn Uthaymin – “Voting in Non-Muslim Systems.”
  4. Fatwas do Shaikh Ibn Baaz – Avaliação sobre votar para proteger interesses muçulmanos.

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