Mariyah al-Qitbiyyah

Mariyah al-Qibtiyyah – Surriya de Muhammad ﷺ

Introdução

Mariyah al-Qibtiyyah foi uma das surriyas* do Profeta, não uma de suas esposas. As Mães dos Crentes são as esposas do Profeta ﷺ. Allah diz (interpretação do significado):

“O Profeta tem mais prevalência sobre os crentes que eles mesmos não têm entre si. E suas mulheres são suas mães. E os de laços consanguíneos têm, na sucessão, mais prevalência sobre os laços que unem os crentes de Al-Madinah e os emigrantes de Makkah, segundo o Livro de Allah, a menos que queirais fazer um favor a vossos aliados. Isso está inscrito no Livro.” [al-Ahzaab 33:6]

O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) teve quatro surriyas, uma das quais era Mariyah.

A vida de Mariyah al-Qibtiyyah, também conhecida como Mariyah A Copta, é uma parte interessante e muitas vezes pouco explorada da história islâmica. Mariyah foi uma das surriyas do Profeta Muhammad ﷺ e desempenhou um papel importante em sua vida pessoal e familiar. Ela era uma cristã copta, originária do Egito, e sua chegada à vida de Muhammad está associada a uma série de eventos históricos e políticos que refletem as interações entre o Islam e as outras civilizações e religiões da época.

Origem e Envio a Muhammad

Ibn Sa’d disse: “O Mensageiro de Allah ﷺ alojou – referindo-se a Mariyah al-Qibtiyyah e sua irmã – com Umm Sulaym bint Milhaan, e o Mensageiro de Allah ﷺ foi até elas e falou sobre o Islam. Ele tomou Mariyah como surriya e a mudou para uma de suas propriedades em al-‘Awaali… e ela se tornou uma boa muçulmana”. (Al-Tabaqaat al-Kubra, 1/134-135)

Mariyah al-Qibtiyyah era de origem copta, um grupo cristão egípcio, e foi enviada a Muhammad pelo governante bizantino do Egito, al-Muqawqis, como parte de um presente diplomático que incluía, além dela, sua irmã Sirin e outros bens. Acredita-se que isso tenha ocorrido por volta do ano 628 EC, no sexto ano da Hégira, quando Muhammad ﷺ estava em Medina.

O envio de Mariyah a Muhammad ﷺ é visto por alguns estudiosos como uma tentativa de al-Muqawqis de estabelecer relações diplomáticas com o crescente poder muçulmano na Arábia. De acordo com as tradições islâmicas, Muhammad a aceitou como presente, e ela se tornou parte de sua casa.

Relação com Muhammad

Mariyah al-Qibtiyyah rapidamente se tornou uma figura importante na vida de Muhammad ﷺ. Embora várias fontes afirmem que ela era uma surriya, a relação entre Muhammad e Mariyah foi claramente especial, refletida por uma profunda afeição. Em alguns relatos, há menções de que ela poderia ser considerada como uma esposa formal de Muhammad ﷺ, embora esse ponto seja debatido entre estudiosos islâmicos.

Mariyah era conhecida por sua beleza e, embora fosse cristã, ela continuou a ser respeitada e bem tratada no círculo doméstico do Profeta ﷺ. Não há evidências claras de que ela tenha se convertido ao Islam, mas também não há menção de que sua fé tenha sido um problema entre ela e Muhammad ﷺ.

Um dos eventos mais significativos relacionados a Mariyah foi o nascimento de seu filho Ibrahim, o único filho homem que Muhammad ﷺ teve durante seus últimos anos de vida. O nascimento de Ibrahim trouxe grande alegria a Muhammad, especialmente porque todos os outros filhos homens que ele havia tido com Khadija haviam falecido em tenra idade. [Leia o artigo sobre Ibrahim, clique aqui]

Infelizmente, a alegria pelo nascimento de Ibrahim foi curta. Ibrahim adoeceu e faleceu em 631 EC, antes de completar dois anos. A morte de Ibrahim foi um dos momentos mais tristes na vida de Muhammad ﷺ. Ele demonstrou sua dor profunda, mas, ao mesmo tempo, reafirmou a crença islâmica no destino e no plano divino de Allah, dizendo:

“Os olhos choram, o coração está triste, mas não diremos nada, exceto o que agrada a nosso Senhor.”

A morte de Ibrahim também foi marcada por um eclipse solar, que algumas pessoas associaram ao luto pela morte do filho do Profeta. No entanto, Muhammad ﷺ explicou que o eclipse era um sinal de Deus, e não estava relacionado com a morte de ninguém.

Vida após Muhammad

Mariyah al-Qibtiyyah continuou a viver em Medina após a morte de Muhammad ﷺ em 632 EC. Ela foi tratada com respeito pelos companheiros do Profeta e pelos califas sucessores, incluindo Abu Bakr e Umar ibn al-Khattab, que garantiram que ela recebesse apoio financeiro, continuando a receber os mesmos privilégios que as esposas de Muhammad ﷺ.

Mariyah faleceu por volta do ano 637 EC, durante o califado de Umar. Ela foi enterrada no famoso cemitério de al-Baqi, em Medina, ao lado de outras esposas e membros da família do Profeta ﷺ. Sua morte marcou o fim de uma vida que, embora silenciosa em termos de influência política, teve um impacto profundo na esfera pessoal de Muhammad ﷺ.

Ibn ‘Abd al-Barr disse: “Mariyah faleceu durante o califado de ‘Umar ibn al-Khattaab, em Muharram do ano 16 AH. ‘Umar reuniu o povo pessoalmente para participar de seu funeral, e ele mesmo liderou a oração fúnebre por ela. Ela foi enterrada em al-Baqi’.”

Legado

Ibn al-Qayyim disse: “Abu ‘Ubaydah disse: ‘Ele teve quatro (surriyas): Mariyah, que foi a mãe de seu filho Ibrahim; Rayhanah; outra bela escrava que ele adquiriu como prisioneira de guerra; e uma escrava que lhe foi dada por Zainab bint Jahsh'”. (Zaad al-Ma’aad, 1/114)

Mariyah al-Qibtiyyah é lembrada principalmente por seu papel como mãe de Ibrahim e por sua contribuição à vida pessoal de Muhammad ﷺ. Ela também é um símbolo das relações diplomáticas entre os muçulmanos e o mundo cristão copta, refletindo a coexistência pacífica que poderia ser alcançada entre diferentes religiões e culturas naquele período.

Além disso, sua história também é relevante no debate histórico e jurídico islâmico sobre o status das surriyas e esposas, levantando questões sobre o tratamento de mulheres não muçulmanas em sociedades islâmicas. O afeto demonstrado por Muhammad ﷺ a Mariyah, independentemente de seu status formal, exemplifica os ensinamentos islâmicos sobre justiça, compaixão e respeito pelos outros, independentemente de sua origem ou fé.

Embora sua vida não seja tão amplamente documentada quanto a de outras esposas de Muhammad ﷺ, Mariyah al-Qibtiyyah permanece uma figura respeitada e significativa no panorama histórico do Islam. Sua história também oferece uma janela para as complexas relações sociais e culturais da época do Profeta Muhammad ﷺ.

*Em termos da lei islâmica, uma surriya (سرية) refere-se a uma escrava que foi tomada como “concubina” por seu senhor sob condições específicas. No Islam, esta prática, regulamentada pelos ensinamentos islâmicos, assegurava a proteção e dignidade da pessoa, concedendo-lhe direitos legais. Os filhos nascidos dessa relação eram considerados legítimos e tinham plenos direitos dentro da família. A relação baseava-se no respeito mútuo, e o Islam incentivava o tratamento humano das concubinas, promovendo sua eventual libertação por meio da alforria ou casamento. É importante notar que a escravidão e a concubinagem existiam nas sociedades pré-islâmicas, e o Islam introduziu reformas que pavimentaram o caminho para sua gradual eliminação, enfatizando a emancipação dos escravos como um ato virtuoso.

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