Jesus no Islam: O Que Realmente Acreditamos Sobre Ele?
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Jesus no Islam: O Que Realmente Acreditamos Sobre Ele?

Para muitos cristãos, a ideia de que os muçulmanos creem em Jesus pode parecer surpreendente. No entanto, Jesus (ʿĪsā, em árabe) é uma das figuras mais reverenciadas no Islam. Ele é mencionado no Alcorão com frequência, descrito com títulos nobres e milagres impressionantes, e ocupa uma posição de destaque como mensageiro de Allah.

Mas o que exatamente os muçulmanos acreditam sobre ele? Neste artigo, esclarecemos os pontos principais com base no Alcorão e na Sunnah autêntica.

1. Ele é um dos maiores profetas no Islam

O Islam considera Jesus um dos cinco maiores mensageiros de Allah, juntamente com Noé (Nūḥ), Abraão (Ibrāhīm), Moisés (Mūsā) e Muhammad ﷺ. Allah diz:

“E recorda, [ó Muhammad], quando firmamos o pacto com os profetas: contigo, e com Noé, e com Abraão, e com Moisés, e com Jesus, filho de Maria; e firmamos com eles solene pacto.” (Surat al-Aḥzāb, 33:7 — Tradução de Helmi Nasr)

2. Nascimento milagroso e pureza de Maria

O seu nascimento é apresentado como um milagre divino, sem pai biológico. Allah criou Jesus no ventre de Maria (Maryam), que é considerada a mulher mais pura da história:

“O Messias, Jesus, filho de Maria, é apenas o Mensageiro de Allah, e Sua palavra, que Ele lançou a Maria, e um espírito vindo d’Ele.” (Surat an-Nisā’, 4:171 — Tradução de Helmi Nasr)

Maria é a única mulher mencionada pelo nome no Alcorão, e o capítulo 19 é nomeado em sua homenagem: Sūrat Maryam.

Allah diz:

“E quando os anjos disseram: ‘Ó Maria, por certo, Allah te escolheu e te purificou, e te preferiu sobre todas as mulheres da humanidade.’” (Surat Āl ʿImrān, 3:42 — Tradução de Helmi Nasr)

3. Ele realizou milagres

Com permissão de Allah, Jesus realizou milagres extraordinários:

  • Falou ainda bebê no colo de sua mãe (Surat Maryam, 19:29-30);
  • Curou cegos e leprosos;
  • Ressuscitou mortos;
  • Criou um pássaro de barro e lhe deu vida.

“E [fizemos de Jesus] um mensageiro aos filhos de Israel: ‘Com efeito, vim a vós com um sinal de vosso Senhor. Criarei para vós, do barro, como que a figura de um pássaro, e soprarei nela, e será um pássaro, com permissão de Allah […].’” (Surat Āl ʿImrān, 3:49 — Tradução de Helmi Nasr)

4. Ele não é Deus, nem filho literal de Deus

O Islam rejeita com firmeza a ideia de que ele seja divino ou filho de Deus em sentido literal. Essa crença é considerada uma forma de shirk (associação), o maior pecado no Islam.

“Com efeito, descreram os que disseram: ‘Por certo, Allah é o Messias, filho de Maria’. […] Com efeito, descreram os que disseram: ‘Por certo, Allah é o terceiro de três.’” (Surat al-Mā’idah, 5:72-73 — Tradução de Helmi Nasr)

Allah é Único, Absoluto, sem parceiro ou semelhante:

“Ele não gera, e não foi gerado.” (Surat al-Ikhlāṣ, 112:3 — Tradução de Helmi Nasr)

5. Ele não foi crucificado

O Islam afirma que Jesus não morreu na cruz, mas que foi elevado por Allah, e que outro foi feito parecer com ele:

“E por dizerem: ‘Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de Allah’… Mas não o mataram, nem o crucificaram; apenas foi-lhes feito parecer assim. […] Ao contrário, Allah o elevou até Ele.” (Surat an-Nisā’, 4:157-158 — Tradução de Helmi Nasr)

Ou seja, a sua crucificação não ocorreu da forma como é narrada no Novo Testamento. Allah salvou seu mensageiro.

6. O seu retorno no fim dos tempos

O Islam ensina que Jesus voltará antes do Dia do Juízo, como sinal maior da Hora. Ele não virá como novo profeta, mas para quebrar a cruz, matar o falso messias (Dajjāl) e restabelecer a justiça.

O Profeta Muhammad ﷺ disse:

“Por Aquele em cujas mãos está minha alma! Certamente descerá entre vós o filho de Maria […] Ele quebrará a cruz, matará o porco e abolirá a jizyah. A riqueza será tão abundante que ninguém aceitará caridade.” (Sahih al-Bukhari, 3448)

7. O que isso significa para o diálogo inter-religioso?

Saber que os muçulmanos amam e reverenciam Jesus é um ponto de convergência importante com os cristãos. Embora existam diferenças teológicas, há um terreno comum de respeito, fé e expectativa pelo retorno de um mensageiro justo.

Conclusão

Jesus no Islam é um profeta nobre, nascido de forma milagrosa, sem pecado, servidor de Allah e exemplo de fé. Ele não é Deus, mas um dos maiores enviados de Deus. Ele será o sinal da Hora e retornará para restaurar a justiça.

Conhecer essa visão autêntica ajuda a quebrar estereótipos e construir pontes entre muçulmanos e cristãos — com base na verdade, respeito e diálogo.

Leia também: Jesus, filho de Deus?

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2 Comentários

    1. Olá Rogério. Agradecemos sua pergunta.

      O fato de Jesus ter nascido sem pai humano não o torna divino, e essa ideia não se sustenta nem na Bíblia nem no Alcorão. Vamos aos fatos:

      No Alcorão, Allah esclarece essa questão de forma direta:

      “Por certo, o exemplo de Jesus, perante Allah, é como o de Adão: Ele o criou do pó, depois disse-lhe: ‘Sê!’ e ele foi.”
      (Alcorão 3:59)

      Ou seja, se nascer sem pai torna alguém divino, então Adão seria ainda mais “divino”, pois nasceu sem pai nem mãe. Mas ninguém afirma que Adão é Deus. Por quê? Porque foi criado por Deus, assim como Jesus.

      Além disso, na Bíblia, encontramos também vários nascimentos milagrosos:

      – Isaque, nascido de Sara quando era estéril e idosa (Gênesis 17)
      – João Batista, filho de Isabel, também idosa e considerada estéril (Lucas 1)
      – E até Melquisedeque, descrito como alguém “sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de existência” (Hebreus 7:3), e ainda assim não é considerado divino.

      Sobre o fato de Jesus ser “sem pecado”, o Alcorão confirma que ele era puro:

      “E lembramos quando os anjos disseram: ‘Ó Maria, por certo, Allah te anuncia a boa nova de uma palavra, da Sua parte, cujo nome é o Messias, Jesus, filho de Maria, ilustre neste mundo e no Outro e um dos achegados de Allah’.”
      (Alcorão 3:45)

      Mas isso não o faz Deus, pois todos os profetas foram protegidos por Allah e escolhidos por Sua sabedoria, e o próprio Jesus reconhece que não é o autor das obras que realiza:

      “Por mim mesmo nada posso fazer (…) porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.”
      (João 5:30)

      Divindade pertence somente a Allah: Aquele que não nasce, não morre, não depende de ninguém, e não tem igual:

      “Dize: Ele é Allah, o Único. Allah, o Absoluto. Não gerou e não foi gerado. E ninguém é comparável a Ele.”
      (Alcorão 112:1–4)

      Portanto, Jesus nasceu de forma milagrosa como sinal de Deus, não como Deus. A grandeza do milagre aponta para o Criador, não para a criatura.

      Se tiver mais alguma dúvida, estamos aqui para esclarecer, se Deus quiser.

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