Ishaq (que a paz esteja sobre ele)

O Alcorão não dá detalhes sobre a vida de Ishaq (Isaac, que a paz esteja sobre ele), mas exegetas confiáveis do Alcorão mencionaram que quando Ibrahim sentiu que sua vida estava chegando ao fim, ele desejou ver Ishaq casado. Ele não queria que Ishaq se casasse com uma das mulheres da Cananeia, pois eram pagãs, então enviou um servo de confiança a Harã, no Iraque, para escolher uma noiva para Ishaq. A escolha do servo recaiu sobre Rebeca Bint Bethuel, cujo pai, Ibn Nahor, era irmão de Ibrahim. Ishaq se casou com ela e ela deu à luz gêmeos, Al-Yaas (Esaú) e Yaqub (Jacó).
Sentimentos ruins se desenvolveram entre os dois irmãos durante parte de suas vidas adultas. Al-Yaas não gostou do fato de que Yaqub havia sido favorecido por seu pai e por Allah com a profecia. Esse mal-estar tornou-se tão sério que Al-Yaas ameaçou matar seu irmão. Temendo por sua vida, Yaqub fugiu do país. Abaixo tentaremos explicar um pouco melhor como isso se deu:
O que os Cristãos falam sobre a História de Ishaq
O Povo do Livro disse que quando Ishaq tinha quarenta anos, ele se casou com Rebeca Bint Bethuel, durante a vida de seu pai, Ibrahim (que a paz esteja sobre ele). Foi dito que ela era estéril, então Ishaq rezou para Allah para que ela engravidasse. Ela deu à luz meninos gêmeos. O primeiro se chamava Esaú, a quem os árabes chamavam de Al-Yaas, que se tornou o pai de Rum. O segundo chamava-se Yaqub (Jacó, leia mais sobre ele clicando aqui), que significa Israel, (pertencente ao povo de Israel).
O Povo do Livro também afirmou que quando Ishaq envelheceu e sua visão enfraqueceu, ele desejou comida, então pediu a seu filho Al-Yaas que fosse caçar e lhe trouxesse um pouco de caça cozida. Al-Yaas pediu que ele abençoasse a comida e rezasse por ele. Al-Yaas, um caçador, saiu para buscar a carne para seu pai. Rebeca, ouvindo isso, ordenou a seu filho Yaqub que matasse duas cabras de seu melhor rebanho e as cozinhasse como seu pai gostava e trouxesse para ele antes que seu irmão voltasse. Ela vestiu Yaqub com as roupas de seu irmão e colocou pele de cabra em seus braços e pescoço, pois Al-Yaas tinha muitos pelos no corpo, enquanto Yaqub não. Quando ele se aproximou de seu pai com a comida, seu pai perguntou: ‘Quem é você?’ Yaqub respondeu: ‘Eu sou seu filho’. Quando seu pai terminou de comer, ele rezou para que seu filho fosse o irmão mais abençoado e prevalecesse sobre eles e todas as pessoas, e para que Allah o sustentasse e a seus filhos.
Quando Yaqub deixou seu pai, seu irmão Al-Yaas, que havia cumprido a ordem de seu pai, entrou. Ishaq perguntou-lhe: “O que é isto, meu filho?” Ele respondeu: “Esta é a comida que você gosta.” Ishaq perguntou: “Você me trouxe há uma hora e me pediu para rezar por você?” Al-Yaas disse: “Não, eu juro que não”, e ele sabia que seu irmão o havia precedido neste assunto e estava com o coração partido.
O Povo do Livro ainda relatou que Al-Yaas ameaçou matar seu irmão quando seu pai estivesse morto. Eles também disseram que ele pediu a seu pai que rezasse por ele para que Allah tornasse a terra boa para seus descendentes e multiplicasse seu sustento e frutos.
Quando sua mãe soube que Al-Yaas ameaçava seu irmão Yaqub, ela ordenou a seu filho Yaqub que fosse até seu irmão Labão na terra de Harã e permanecesse com ele por um tempo até que a raiva de seu outro irmão diminuísse. Ela também sugeriu que Yaqub se casasse com uma das filhas de Labão e pediu a seu marido Ishaq para comandá-lo com esse conselho.
Yaqub deixou sua família, partiu em viagem e quando a noite chegou ele encontrou um lugar para descansar. Pegou uma pedra e colocou sob a cabeça e dormiu. Ele sonhou com uma escada do céu para a terra. Os anjos subiam e desciam e o Senhor dirigiu-se a ele e disse-lhe; “Abençoarei você e sua descendência e farei esta terra para você e para aqueles que vierem depois de você.”
Quando ele acordou, sentiu-se feliz com o que tinha visto em seu sonho e jurou, pelo amor de Allah, que se ele voltasse para sua família em segurança, ele construiria ali um templo para Allah, o Todo-Poderoso. Também prometeu dar um décimo de sua propriedade pela causa de Allah. Derramou óleo na pedra para reconhecê-la e chamou o lugar de “Casa de Aile” (Bethel), que significa “Casa de Allah”. Seria a localização de Jerusalém mais tarde.
O Casamento de Ishaq e Raquel
O Povo do Livro também relatou que quando Yaqub veio até seu tio materno na terra de Harã, seu tio tinha duas filhas. A mais velha se chamava Léa (Lia) e a mais nova era Raquel (Rahil). Raquel era a melhor e mais adorável dentre as duas. Seu tio concordou em casar sua filha com ele com a condição de que Yaqub cuidasse de suas ovelhas por sete anos.
Depois de um tempo, seu tio preparou um banquete e reuniu as pessoas para o casamento. Ele o casou com Léa, sua filha mais velha, à noite. Ela era míope e feia. Quando amanheceu, Yaqub descobriu que ela era Léa e queixou-se ao tio: “Você me enganou; eu estava noivo de Raquel e você me casou com Léa.” Seu tio disse: “Não é nossa tradição casar a filha mais nova antes da filha mais velha. No entanto, se você ama a irmã dela, trabalhe mais sete anos e eu casarei você com as duas.”
Yaqub trabalhou por sete anos e, então, casou-se com Raquel. Era aceitável em seu tempo, conforme descrito na Torá, que um homem se casasse com duas irmãs. Labão deu uma serva para cada filha. A serva de Léa se chamava Zilpah e a de Raquel chamava-se Bilha.
Allah Todo-Poderoso compensou a fraqueza de Léa dando-lhe filhos. O primeiro foi chamado Rueben (Robel), depois de quem havia Simão (Shamun), Levi (Lawi) e Judá (Yahudh). Raquel sentiu ciúmes de Léa ter filhos, pois ela era estéril. Ela deu sua escrava Bilha a seu marido e ele teve relações com ela até que ela engravidou. Ela deu à luz um filho e deu-lhe o nome de Naftali. Léa ficou irritada porque a escrava de Raquel deu à luz um filho, então ela deu sua escrava Zilpah a Yaqub, Zilpah deu à luz dois filhos, Gad e Asher. Então Léa engravidou e deu à luz seu quinto filho, Issaacher, e mais tarde ela deu à luz um sexto filho, Zebulom. Depois disso, Léa deu à luz uma filha chamada Diná. Assim, Léa teve sete filhos de Yaqub.
Raquel rezou a Allah para lhe dar um filho de Yaqub. Allah ouviu seu chamado e respondeu à sua oração. Ela deu à luz um filho nobre, honrado e belo. Ela o chamou de José (Yusuf).
Tudo isso aconteceu quando eles estavam na terra de Harã e Yaqub (que a paz esteja sobre ele) pastoreava as ovelhas de seu tio, o que ele fez por um período de vinte anos.
Yaqub, então, pediu a seu tio Labão que o deixasse ir visitar sua família. Seu tio lhe disse: “Fui abençoado por sua causa; peça o dinheiro que precisar.” Yaqub respondeu: “Dê-me cada cabra malhada e manchada nascida este ano e cada cordeiro preto.”
Mas, por ordem de Labão, seus filhos tiraram os bodes que eram listrados, malhados ou manchados, e os cordeiros pretos, para que outros não nascessem com essas características. Eles caminharam por três dias com as cabras e ovelhas de seu pai, enquanto Yaqub cuidava do rebanho restante.
O Milagre de Yaqub
O Povo do Livro relata que Yaqub pegou varas frescas de álamo, amêndoa e plátano, descascou listras nelas e as jogou na água para as cabras verem. Os filhotes dentro de seus abdomens ficaram surpresos e comovidos e nasciam listrados, malhados ou salpicados. Quando as ovelhas estavam se reproduzindo, ele virou o rosto para a ovelha negra do rebanho de Labão e colocou as varas entre elas. Seus cordeiros nasceram pretos. Isso foi considerado um exemplo de poderes sobrenaturais, ou seja, um milagre. Yaqub tinha muitas cabras, ovelhas, animais e servos. Os rostos de seu tio e de seus filhos mudaram como se as ovelhas e cabras tivessem sido roubadas deles.
Allah, o Todo-Poderoso, inspirou Yaqub a retornar ao país de seu pai e povo, e Ele prometeu apoiá-lo. Yaqub disse isso à sua família, e eles responderam e o obedeceram. Yaqub não contou a Labão sobre seus planos e partiu sem se despedir.
A Fuga de Yaqub e Raquel
Ao sair, Raquel roubou os ídolos de seu pai. Depois que Yaqub e seu povo havia fugido para seu país, Labão e seu povo os seguiu. Quando Labão se encontrou com Yaqub, ele o culpou por deixá-lo sem avisar. Ele gostaria de saber para poder fazê-los partir com festa e alegria, com tambores e canções, e para poder despedir-se de suas filhas e filhos. E por que eles levaram seus ídolos com eles?
Yaqub não tinha conhecimento de seus ídolos, então negou que os tivesse tirado dele. Assim, Labão entrou nas tendas de suas filhas e escravos para procurasse, mas não encontrou nada, pois Raquel havia colocado os ídolos na sela do camelo sob ela. Ela não se levantou, desculpando-se por estar menstruada. Assim, ele não podia perceber o que eles haviam feito.
Então, eles se sentaram em uma colina chamada Galid e ali fizeram uma aliança. Yaqub não trataria mal as filhas de Labão nem se casaria com outras. Nem Labão, nem Yaqub ultrapassariam a colina para o país do outro.
Yaqub e Al-Yaas (que a paz esteja sobre ambos)
Quando Yaqub se aproximou da terra de Seir, os anjos o saudaram. Ele enviou um mensageiro à frente com saudações a seu irmão Al-Yaas, pedindo perdão e humilhando-se diante dele. O mensageiro retornou as saudações e disse a Yaqub que Al-Yaas estava cavalgando em sua direção com quatrocentos homens. Isso deixou Yaqub com medo e ele implorou e rezou a Allah, Todo-Poderoso. Yaqub se prostrou em humilhação e pediu-Lhe que fosse cumprida a promessa que havia feito antes. Ele pediu a Allah para parar o mal de seu irmão Al-Yaas, e, dessa forma, Yaqub preparou um grande presente para seu irmão: duzentas cabras e vinte bodes, duzentas ovelhas e vinte carneiros, trinta camelos leiteiros, quarenta vacas e dois touros, vinte jumentas e dez jumentos.
Ele ordenou a seus servos que pegassem os animais, cada um conduzisse por si, e passassem à sua frente com um espaço entre os rebanhos. Ele os instruiu: “Quando vocês encontrarem meu irmão Al-Yaas, ele lhes perguntará: ‘A quem vocês pertencem? Para onde vocês vão?’ vocês dirão: ‘eles pertencem a seu servo Yaqub; eles são um presente para meu senhor Al-Yaas. Além disso, Yaqub está atrás de nós.’”
Yaqub ficou para trás com suas duas esposas, alguns servos e seus filhos por duas noites, depois continuou andando à noite e descansando durante o dia.
Quando amanheceu no outro dia, um dos anjos apareceu na forma de um homem. Yaqub lutou com ele até ficarem cara a cara, então, o anjo feriu a coxa de Yaqub, que ficou manco. Ao raiar do próximo dia, o anjo disse-lhe: “Qual é o teu nome?” Ele respondeu: “Yaqub.” O anjo falou: “Depois de hoje você não será chamado de outra coisa senão Israel.” Yaqub perguntou: “Quem é você? Qual é o seu nome?” O anjo desapareceu. Dessa forma, Yaqub soube que ele era um dos anjos. Pelo fato de Yaqub ser coxo, os filhos de Israel não comem o músculo da coxa do animal, na articulação do quadril.
Em seguida, Yaqub levantou os olhos e viu seu irmão Al-Yaas chegando. Yaqub prostrou-se sete vezes diante dele, pois era a saudação naquela época. Quando Al-Yaas o viu, correu para ele, abraçou-o, beijou-o e chorou. Al-Yaas ergueu os olhos e viu as mulheres e as crianças, perguntou: “Quem são estes que estão contigo?” Yaqub respondeu: “Aqueles que Allah deu a mim, Seu servo.” Lia, Raquel, suas servas e todas as crianças aproximaram-se e prostraram-se diante dele. Yaqub pediu a Al-Yaas que aceitasse seu presente e insistiu até que ele aceitasse. Yaqub e sua família seguiram com os rebanhos, manadas e seus servos para as montanhas (Seir).
Yaqub, sob ordens de Allah, construiu o altar onde Jerusalém está situada hoje e mais tarde Salomão, filho de Dawud (que a paz esteja sobre ambos) o reconstruiu – foi exatamente onde seu pai Ishaq havia prometido construir um templo para Allah, quando derramou óleo na pedra e a denominou “casa de Aile”. Então, Yaqub foi a seu pai Ishaq e estabeleceu-se com ele na aldeia de Hebron, que fica na terra de Canaã, onde Ibrahim havia vivido. Então Ishaq adoeceu e morreu quando tinha cento e oitenta anos. Seus filhos Al-Yaas e Yaqub o enterraram ao lado de seu pai Ibrahim Al Khalil em uma caverna que ele havia comprado. Foi dito que Ibrahim morreu com a idade de cento e setenta e cinco anos.
Ishaq e Sua Família no Alcorão Sagrado
Allah, o Todo-Poderoso, declarou no Glorioso Alcorão:
“E quem, pois, rejeita a crença de Abraão senão aquele cuja alma se perde na inépcia? E, com efeito, escolhemo-lo, na vida terrena, e, por certo, na Derradeira Vida, será dos íntegros. Quando seu Senhor lhe disse: “Islamiza-te.” Disse: “Islamizo-me, para O Senhor dos mundos.” E Abraão recomendou-a a seus filhos – e, assim também, Jacó – dizendo: “O filhos meus! Por certo, Allah escolheu para vós a religião; então, não morrais senão enquanto moslimes.” Ou fostes vós testemunhas, quando a morte se apresentou a Jacó, quando ele disse a seus filhos: “O que adorareis depois de mim?” Disseram: “Adoraremos a teu deus e ao deus de teus pais – Abraão e Ismael e Isaque – como um Deus Único. E, para Ele, seremos moslimes. ” Essa é uma nação que já passou. A ela, o que logrou, e a vós, o que lograstes, e não sereis interrogados acerca do que faziam. E eles dizem: “Sede judeus ou cristãos, vós sereis guiados. ” Dize, Muhammad: “Não, mas seguimos a crença de Abraão, monoteísta sincero, e que não era dos idólatras.” Dizei: “Cremos em Allah e no que foi revelado para nós, e no que fora revelado para Abraão e Ismael e Isaque e Jacó e para as tribos; e no que fora concedido a Moisés e a Jesus, e no que fora concedido aos profetas, por seu Senhor. Não fazemos distinção entre nenhum deles. E, para Ele, somos moslimes. ” – Então, se eles crerem no mesmo em que vós credes, com efeito, guiar-se-ão; e, se voltarem as costas, por certo, estarão em discórdia. Então, Allah te bastará contra eles. E Ele é O Oniouvinte, O Onisciente – Nossa religião é a tintura de Allah, e quem melhor que Allah, em tingir? E a Ele estamos adorando. Dize: “Argumentais conosco, sobre Allah, enquanto Ele é O nosso Senhor e vosso Senhor, e a nós, nossas obras, e a vós, vossas obras, e para com Ele somos sinceros? Ou dizeis que Abraão e Ismael e Isaque e Jacó e as tribos eram judeus ou cristão? Dize: “Sois vós mais sabedores, ou Allah? E quem mais injusto que aquele que oculta um testemunho que tem de Allah? E Allah não está desatento ao que fazeis.” “ (Surah al-Baqara, 2:130-140)
Em outra surata, Allah Todo-Poderoso declarou:
“Ó seguidores do Livro! Por que argumentais, sobre Abraão, enquanto a Tora e o Evangelho não foram descidos senão depois dele? Então, não razoais? Ei-vos que argumentais, sobre aquilo de que tendes ciência. Então, por que argumentais, sobre aquilo de que não tendes ciência? E Allah sabe, e vós não sabeis. Abraão não era nem judeu nem cristão, mas monoteísta sincero, moslim. E não era dos idólatras. Por certo, os homens mais dignos de serem achegados a Abraão são os que o seguiram, e este Profeta e os que creem. E Allah é O Protetor dos crentes.” (Surat al Imran, 3:65-68 Alcorão)
“E, certamente, teu Senhor, para com os que fazem o mal, por ignorância, e, logo, voltam-se arrependidos e emendam-se, por certo, depois disso, teu Senhor é Perdoador, Misericordiador. Por certo, Abraão era prócer, devoto a Allah, monoteísta sincero, e não era dos idólatras. Agradecido a Suas graças. Ele o elegeu e o guiou a uma senda reta. E concedemos-lhe, na vida terrena, boa dádiva, e, por certo, na Derradeira Vida, será dos íntegros. Em seguida, revelemos-te, Muhammad: “Segue a crença de Abraão, monoteísta sincero. E ele não era dos idólatras.” (Surat al-Nahl, 16:119-123 Alcorão)
Extraído do Livro “História dos Profetas” de Ibn Kathir
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