A Bondade no Islam
Índice
Introdução
Vivemos tempos em que muitas pessoas confundem bondade com fraqueza. Ser bom não significa aceitar abusos, permitir injustiças ou abrir mão da própria dignidade. O Islam, religião de equilíbrio e sabedoria, nos ensina que a bondade deve sempre caminhar ao lado da justiça e do respeito próprio.
Allah ﷻ diz no Alcorão:
“Ó vós que credes, sede firmes pela justiça, como testemunhas de Allah, ainda que contra vós mesmos, ou contra os pais e os parentes.”
(Alcorão 4:135)
Esse versículo nos mostra que ser bom verdadeiramente não é apenas agradar aos outros, mas sim manter a firmeza pela verdade e pela justiça.
A Bondade do Profeta ﷺ
O Profeta Muhammad ﷺ é descrito no Alcorão como uma misericórdia para os mundos:
“E não te enviamos senão como misericórdia para os mundos.”
(Alcorão 21:107)
Ele ﷺ era o exemplo máximo de gentileza, compaixão e empatia. Porém, sua misericórdia nunca foi fraqueza. Quando era necessário impor limites, ele o fazia com firmeza, sempre guiado pela justiça.
Certa vez, um homem rude puxou violentamente a capa do Profeta ﷺ e exigiu que lhe desse bens. O Profeta não reagiu com agressividade, mas também não deixou de corrigi-lo, instruindo-o com sabedoria e autoridade. Esse equilíbrio mostra que a bondade islâmica não é passividade, mas sim força controlada pela misericórdia.
Ahaadith sobre Força e Dignidade
O Mensageiro de Allah ﷺ disse:
- “O crente forte é melhor e mais amado por Allah do que o crente fraco, embora em ambos haja bondade.”
(Muslim, 2664) ➝ Aqui entendemos que Allah valoriza a fé acompanhada de firmeza, coragem e dignidade. - E também ﷺ disse: “Não cause dano a si mesmo nem cause dano aos outros.”
(Ibn Mājah, 2340 – hadith hasan) ➝ Logo, aceitar ser maltratado em nome da “bondade” não é islâmico. O crente deve proteger a si e aos outros da injustiça.
A Visão dos Sábios
O grande sábio Ibn al-Qayyim (رحمه الله) nos lembra:
“A religião é toda ela justiça, misericórdia e sabedoria. Qualquer situação que saia da justiça para a injustiça, da misericórdia para a crueldade, da sabedoria para a tolice… não é parte da religião, ainda que nela se veja como tal.”
(I‘lam al-Muwaqqi‘in, 3/3)
Isso significa que até mesmo a bondade, se praticada sem discernimento, pode se tornar injustiça. Por exemplo: quando somos bondosos com quem nos maltrata continuamente, damos a essa pessoa espaço para repetir a injustiça — e isso não é agradável a Allah.
Reflexão Prática
- Bondade com hikma (sabedoria): não basta ser bom, é preciso saber quando e como agir.
- Firmeza contra a injustiça: não permitir abusos é também um ato de fé.
- Respeito próprio como parte da bondade: quando nos valorizamos, mostramos aos outros que dignidade é parte da vida de um muçulmano.
- Justiça acima do desejo de agradar: a verdadeira bondade está em agradar a Allah ﷻ, não em ser aceito por todos.
Conclusão
O Islam nos chama a sermos pessoas bondosas, misericordiosas e compassivas. Mas nos lembra também que a bondade sem limites pode se transformar em fraqueza, injustiça ou humilhação.
O verdadeiro muçulmano é aquele que une:
- Rahma (misericórdia),
- ‘Adl (justiça),
- Hikma (sabedoria),
- Karama (dignidade).
Assim, nossa bondade será luz que guia, não sombra que nos apaga.
“Allah não ama os injustos.”
(Alcorão 3:57)
Que Allah nos conceda a capacidade de sermos bondosos, mas com discernimento; misericordiosos, mas firmes na justiça; humildes, mas cheios de dignidade. Allahumma, amin!
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